Profissões do futuro

Transformação da indústria

Profissões do futuro

Em cinco anos, país precisa formar 10,5 milhões de pessoas. Áreas ligadas à tecnologia lideram lista. Preparar os jovens para desenvolver projetos e soluções aos novos processos desafiam empresários, instituições de ensino e o poder público

Profissões do futuro

O trabalho vive uma nova revolução. A chamada Indústria 4.0 traz exigências para o mundo empresarial e abre oportunidades profissionais. Aqueles que não se reinventarem estão em risco e ficarão para trás.
 
Essa é uma das análises possíveis frente aos resultados do Mapa do Trabalho Industrial. O estudo foi divulgado nesta semana pelo Serviço de Aprendizagem Industrial (Senai). Para os próximos anos, em funções de nível superior, serão necessárias mais de 709 mil pessoas qualificadas.
 
Só na área de informática, o Brasil precisará qualificar 368 mil profissionais de nível superior até 2023. De fato, a imersão tecnológica transformou a forma de ver, planejar e interagir com o mercado.
 
A técnica, a capacidade de solucionar problemas e de associar conhecimentos de outras funções nas empresas serão fundamentais para o futuro. É o que afirma o gerente da unidade do Senai de Lajeado, Jerry Amarildo Hibner.
 
Com um trabalho próximo às empresas, a unidade local procura atender as necessidades das indústrias, afirma. O desafio da escola profissional, diz, é conhecer as carências de mão de obra das empresas da região e formar pessoas para suprir essas necessidades.
 
O Mapa do Trabalho Industrial é elaborado a partir de cenários sobre o comportamento da economia brasileira e dos seus setores, projetando o impacto sobre o mercado de trabalho e estimando a demanda por formação profissional com base industrial (formação inicial e continuada), e serve como parâmetro para o planejamento da oferta de cursos do Senai.
 

Questão de sobrevivência

Frente ao momento de instabilidade econômica nacional, a indústria é o setor que pode ajudar a superar essas dificuldades. Para tanto, é preciso inovar. “Além de ser assertiva nos objetivos, nos investimentos, é preciso criar novos processos, incorporar tecnologia e inovar. Esse é um movimento mundial”, analisa Hibner.
 
Olhar essa tendência e aplicar dentro da organização. “É uma questão de sobrevivência”, acredita. Na avaliação dele, os empresários gaúchos e, em específico do Vale do Taquari, estão atentos a esses movimentos.
 
A presidente da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil) e presidente da Bebidas Fruki, Aline Eggers Bagatini, frisa a necessidade de aproximar instituições representativas, de ensino e os empresários para preparar a região frente às mudanças trazidas pela tecnologia. “Ainda não sabemos como isso vai impactar no futuro. As transformações ocorrem de uma forma muito rápida. Para conhecermos mais sobre isso, precisamos construir esse caminho juntos.”
 
Como o indicativo é de aumento na necessidade de mão de obra ligada à tecnologia, acredita ser necessário se aproximar das escolas profissionalizantes e das universidades. A partir disso, é possível mapear as necessidades.
 
Iniciativas vinculadas ao desenvolvimento de projetos, como na atuação do Tecnovates, também abrem novas perspectivas. Outro movimento em curso, o Pro_Move, realizado em Lajeado, busca unir a universidade, empresas, poder público e comunidade. “Esse é um caminho para desenvolver a tecnologia como prioridade. Talvez vá gerar frutos no futuro”, acredita o professor do curso de Engenharia da Informática e Tecnologia da Informação da Univates, Evandro Franzen.
 
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Procura em meio à carência

Frente às informações apuradas pelo Mapa do Trabalho Industrial, Franzen ressalta: “as empresas hoje podem ter um arsenal de dados, que permite identificar perfis de clientes e oferecer serviços personalizados.”
 
Para isso, são necessárias pessoas para desenvolver softwares e tecnologias para gerar dados. A partir disso, ter mecanismos capazes de identificar essas informações e reconhecer padrões que serão importantes às empresas. “A máquina vai apurar esses dados. Mas o ser humano terá que aprofundar esse conhecimento.”
 
Neste aspecto, ganha importância o profissional da informática. Aquele que no passado era o responsável pela manutenção dos computadores, neste novo ambiente, será estratégico para desenvolver soluções sobre análise de dados. “O técnico em informática vai ter que conhecer sobre diversas áreas. Será um profissional muito requisitado, em especial na indústria”, acredita.
 
Na região, diz o professor, é preciso muito mais trabalhadores com essa qualificação. “Empresas nos contatam e dizem: ‘precisamos contratar três pessoas’. A gente não tem. Não há alunos o suficiente. Temos que indicar acadêmicos do primeiro, segundo ou terceiro semestre. Aqueles acima disso já estão no mercado.”
 

Líder na empregabilidade

No primeiro semestre deste ano, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o Vale do Taquari criou mais de 1,5 mil postos de trabalho. Mais de 50% dessas vagas foram abertas pela indústria. O desempenho é o melhor na microrregião de Lajeado e Estrela desde 2014.
 
A estudante Rafaela Zanus, 19, cursa eletricidade industrial. Na aula de robótica, a equipe dela desenvolveu um protótipo. Um robô seguidor de linha. Ingressou no Senai por meio do programa Jovem Aprendiz.
 
O contato com esses conhecimentos faz ela projetar o futuro. “Pretendo seguir nesta área. Minha perspectiva é atuar na empresa que me deu a oportunidade de fazer o curso”, conta. No mural de oportunidades do Senai de Lajeado, há um indicativo da importância da indústria na geração de emprego e renda.
 
“Há oportunidades para quem tem conhecimento”, realça Jerry Hibner. Mas só a técnica é insuficiente para o sucesso profissional. O perfil de trabalhador procurado também deve ter outras qualidades. Junto com o conhecimento, é preciso mais. Fatores comportamentais fazem a diferença. “As empresas procuram pessoas com conhecimento técnico, habilidades, comprometidas, responsáveis e proativas. Isso completa o profissional”, afirma o gerente da unidade de Lajeado.
 
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Aperfeiçoamento constante

Junto com essas características ressaltadas por Hibner, há também a necessidade da busca constante por aperfeiçoamento, realça Aline Eggers. “O profissional do futuro, aquele que vai ser indispensável, é uma pessoa que não para, não se acomoda. Sabe que precisa se atualizar o tempo todo.”
 
Dentro desse processo, a presidente da Acil acredita que também seja necessário romper alguns paradigmas. Talvez o principal seja lidar com os erros, avalia. “Precisamos aprender com eles, não transformá-los em uma experiência ruim e buscar culpados. Temos de entender que é saudável errar, pois nós crescemos. Aprendemos com eles.”
 

Mais raciocínio, menos força

Na 4º revolução industrial, todo o processo interno da indústria está conectado. “Agora temos uma fábrica inteligente”, diz o instrutor do Senai, Antonio Marcos da Silva. Na instituição faz 11 anos, ele tem percorrido a região e palestrado para empresários, representantes de entidades e autoridades.
 
Nesta nova etapa da manufatura, as máquinas estão interligadas, os dados estão disponíveis em tempo real. Tudo a um clique. “A indústria do futuro necessita de inteligência. Os trabalhos mais simples, sem necessidade de mão de obra qualificada, serão feitos por máquinas.”
 
Entre as análises que apontam para uma tendência de desemprego e as oportunidades que surgem, destaca-se a importância do ser humano no processo. “Desde o início da automação das indústrias, na 3ª revolução, se fala do trabalhar ser substituído. Vimos que isso não aconteceu em larga escala. Acredito que a partir de agora, teremos uma recolocação das pessoas.” Por outro lado, avisa: “quem não se qualificar, ficará de fora.”
 
 

Aposta dentro do quadro

Técnico em automação industrial e diretor comercial da Valis Automação, Valter Junior da Silveira confirma essa tendência de aumento na necessidade de mão de obra devido às transformações. “O mercado nos exige cada vez mais sistemas de controle e
 
que garantam qualidade. Porém, as empresas precisam se estruturar para atender essas demandas.”
Isso passa, diz, pela automação, pela tecnologia e por profissionais qualificados, tanto para instalação dos equipamentos, quanto à engenharia dos painéis.
 
Dentro da empresa, o primeiro critério quando surge a necessidade de conhecimentos específicos é qualificar pessoas do quadro de funcionários.
 

FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br

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