Esta semana, mais uma polêmica patética mostrou como os exageros dominam a cabeça de algumas
pessoas. Desta vez foi em Teutônia. E acreditem, foi por um ninho de joão-de-barro.
Faz tempo que os exageros ocorrem na escola, nas ruas, nos lares e onde quer que estejam os humanos. E a imprensa tem ocupado grande parte de seus espaços nobres para dar luz a estes chiliques, muitas vezes patéticos, em troca de audiência. Triste, para não dizer outra coisa.
Esta semana tivemos um novo episódio lamentável com este tipo de exagero. Um ninho de joão-de-barro causou alvoroço nas redes sociais ao ponto do secretário de Obras da prefeitura de Teutônia ter de fazer um esclarecimento público. Pasmem!
Um laudo permitiu que fosse cortada uma araucária em decomposição. Quando tombou, apareceram dois filhotes de joão-de-barro mortos ao chão, não percebidos durante o laudo. Foi o suficiente para movimentar os defensores ávidos para “crucificar” alguém.
Não compactuo com matança de passarinhos e muitos menos com qualquer tipo de maus tratos a animais. Ainda assim, não dá para compreender a histeria dos lunáticos que, indiferente das circunstâncias ou do grau de importância, vociferam e quase invocam “as forças do além” para chamar atenção. E tem um monte de gente que entra na onda. Incrível!
Tivesse um galho seco caído num ser humano, aposto que a mobilização seria pequena. Esta inversão de comportamento me faz questionar o fenômeno que nos acomete: o extremismo e a simples falta de bom senso.
Começa na política, passa pelo esporte, alcança as empresas e atinge a sociedade inteira. Alguns chamam este fenômeno de “politicamente correto”. Eu prefiro denominar de “mimimi sem noção” e, em outros casos, de “intolerância sem noção”.
O comportamento desvirtuado – onde o animal é preferido ao humano – é fruto de estudos mundo afora, faz tempo.
No passado, era comum que monarcas ou tiranos preferissem animais ao povo. Aliás, humanos pobres ou desobedientes eram servidos às feras selvagens, muitas vezes, apenas para pura diversão. Era uma insanidade. E muitos aplaudiam quando as pessoas eram atacadas e devoradas.
Na era moderna, alguns comportamentos antigos parecem nos acompanhar. Ainda que numa perspectiva nada selvagem, a preferência pelo animal nos agrada e muda nossa maneira de ver as coisas. Ou como queremos ver.
Prova é que, para alguns, uma criança faminta e inocente na rua desperta menos piedade do que um vira-lata acostumado ao ambiente livre. Embora não seja regra, é comum pessoas fazerem campanhas para “cãezinhos abandonados”, enquanto crianças passam fome e dormem ao relento. Aliás, “criança na rua é normal. Cachorro não”. Quase isso.
O tratamento dispensado aos bichos nunca foi tão humanizado. Por isso mesmo, nem tão polêmico. Vejamos nosso comportamento com animais de estimação. Jean Segata, professor de antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), estuda a depressão canina e explica que, até chegarem ao posto de bebezinhos, lindinhos da mamãe e do papai, houve um longo caminho percorrido pelos bichos.
Na visão dele, desde a década de 90, essa delicada e controversa convivência reconfigura as relações humanas e familiares. Deixou de ser uma discussão exclusiva de veterinários para ocupar as rodas de estudos de antropólogos, filósofos, sociólogos e psicólogos, que buscam entender as transformações sociais, culturais e biológicas causadas pelo fenômeno. A discussão passa pela ciência, pelos visíveis excessos na maneira como as pessoas humanizam os bichos e, claro, pelos incontestáveis benefícios que essa convivência também traz para o ser humano.
O problema está nos exageros. Para Christina Malm, professora da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, quando os especialistas falam de humanização da relação com animais estão se referindo aos excessos nos cuidados. “Posso tratar meu animal com todo o carinho, mas não devo esperar que ele se comporte como um ser humano”, observa. De acordo com ela, animais se comportam segundo sua própria espécie, mas atualmente o apego e a proximidade emocional com os donos é muito grande. “Há muitas pessoas sozinhas, sem família, ou longe dela, que estão carentes de afeto. Elas se apegam. Esse assunto é tema de seminários na universidade, uma vez que os bichos de estimação, tratados como se fossem gente, passam a sofrer de estresse e a ter comportamentos considerados fora do padrão”, explica.
Na opinião da psicoterapeuta de família Claúdia Prates, a grande diferença do amor animal é que os bichos não desapontam as pessoas. “Depois que um animal escolhe seu dono, ele é absolutamente leal e estável, características impossíveis de ser encontradas nas relações humanas. O animal nos acompanha sem cobranças. Por isso, substitui namorados, filhos e amigos. O risco de abandono é quase zero”, analisa.
Na internet, não falta material em defesa dos benefícios, nem para os que desejam acreditar que o animal é melhor que humano. É fácil de compreender. A indústria movimenta bilhões de dólares no Brasil e no mundo. Existe um bicho de estimação a cada dois brasileiros.
Enquanto a economia do país tem dificuldades para decolar, o mercado do setor de animais de estimação cresce sem precedentes.
Logo, defender e idolatrar animais se torna cada vez mais simpático, normal e, principalmente, lucrativo. Encontrar alguém que discorde da humanização dos animais está ficando raro e “inconveniente”, pois a crítica pega.
É mais uma prova.
Depois do Intercept, o que virá?
O debate acalorado em torno da palestra do editor do Intercept na Univates deu o que falar, principalmente, na terra sem lei: as redes sociais. Ranços, farpas e ideologias aparte, a palestra atende ao papel de uma universidade.
O Intercept é identificado com a esquerda, assim como o Antagonista é com a direita, embora ambos se denominam de independentes e investigativos. Uma coisa é certa: outras figuras polêmicas ainda virão, assim como um nome mais orientado ao agrado da direita.
Assistirei a ambos, pois somente assim conseguimos formar opiniões mais sensatas. Afinal, para fazer a crítica – seja ela favorável ou contrária –, é preciso considerar o contraditório, com respeito e imparcialidade. O resto é intolerância ou ignorância.