A vinda de um jornalista do The Intercept Brasil para Lajeado, prevista para o dia 18 de setembro, gera polêmica na cidade. A palestra com um dos editores do veículo, Alexandre de Santi, promovida pelo Centro de Ciências Humanas e Sociais da Univates, esteve no centro das discussões na última sessão da câmara de vereadores.
A universidade já abriu inscrições para a palestra e iniciou a divulgação na semana passada, através de seus canais nas redes sociais. As publicações foram inundadas de compartilhamentos e comentários contrários e favoráveis, com os mais variados argumentos.
Em meio aos embates e opiniões divergentes na internet, o reitor da Univates, Ney Lazzari, garante a realização do evento. “Esta é mais uma atividade como todas as outras que são feitas na instituição diuturnamente. Continuamos sendo um país democrático, onde as pessoas têm o direito de falar, de se manifestar. A defesa da democracia e das liberdades neste momento é extremamente importante”, afirma.
Lazzari também ressalta que a palestra faz parte do diálogo que a universidade tem com a sociedade e que, para abrir espaço ao debate, não é necessário “concordar ou discordar” com o jornalista. Ressalta também que não há nenhum tipo de condenação judicial que impossibilite a presença do profissional.
Duas palestras no RS
Com uma bagagem de 20 anos no jornalismo, o gaúcho Alexandre de Santi atuou em diversos veículos de imprensa, como Rádio Bandeirantes, Rádio Gaúcha e Zero Hora. Depois, fundou e atuou em agências de conteúdo e, desde o ano passado, integra a equipe do The Intercept Brasil.
Segundo Santi, o convite para palestrar na Univates chegou de forma conjunta a um da Unisinos. No dia 17, ele estará em Porto Alegre. Como a palestra ocorre somente daqui um mês, diz ainda não ter detalhes do conteúdo apresentado. “É um convite para falar sobre jornalismo investigativo e independente”, resume.
Conforme o jornalista, o material divulgado pelo Intercept tinha potencial para chamar a atenção da sociedade, mas o alcance surpreendeu. “Foi muito mais do que esperávamos. Muitas pessoas têm um carinho pela Lava Jato. E a repercussão está muito ligada a isso, pois o material atingiu emocionalmente as pessoas, dos dois lados”, pontua.
Quanto à repercussão na câmara, Santi lamenta que o debate tenha alcançado declarações caluniosas. “Os vereadores de todos os lados têm o direito de se manifestar. Mas quem atribui um crime deve apresentar as provas, porque nós não cometemos crime nenhum”.
Repúdio à vinda de jornalista
No começo da semana, o Movimento Direita dos Vales (MDV) divulgou, em sua página no Facebook, uma nota de repúdio criticando a iniciativa da Univates em promover uma palestra com o jornalista do Intercept Brasil.
Na nota, o grupo cita que “assim como a maioria dos cidadãos de Lajeado e do Vale do Taquari, despreza a vinda de Alexandre de Santi e se entristece com a instituição Univates por ser ela a universidade que irá promover essa palestra”. Também consideram a palestra uma “afronta” à sociedade lajeadense.
Coordenador do MDV, Felipe Milani diz que há uma distorção, como se o movimento quisesse impedir a realização da palestra. “Querem imputar que somos intolerantes. Nós não estamos censurando ninguém e não queremos ser censurados. Temos direito de expor a nossa opinião”, comenta.
Milani ressalta ainda que a posição contrária do movimento não é pela ideologia, e sim pela ligação do jornalista com o veículo de comunicação que divulgou as conversas envolvendo autoridades, como o então juiz e hoje ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Repercussão na câmara
Durante a sessão dessa terça-feira, 13, a palestra repercutiu na Câmara. Pelo menos quatro vereadores – Adi Cerutti (PSD), Carlos Ranzi (MDB), Éder Spohr (MDB) e Mozart Lopes (PP) – criticaram a iniciativa da Univates.
No discurso mais fervoroso, Lopes afirmou que o veículo jornalístico “comprou a preço de ouro” informações hackeadas e chamou o palestrante de “criminoso”. Ainda, disparou contra o jornalista Glenn Greenwald, suspeitando de uma armação dele com o deputado federal David Miranda (Psol) e o ex-deputado Jean Wyllys, que renunciou ao mandato. “Esse trio amoroso não tem moral e ética para denegrir a imagem do procurador Deltan Dallagnol e do ministro Sérgio Moro”.
Já Ranzi sugeriu que “talvez até setembro, o palestrante já esteja preso”. As falas geraram indignação de Sérgio Kniphoff (PT), que defendeu o direito da universidade em promover o debate. Também se indignou com o líder de governo. “Tentar impedir palestras sobre democracia é algo inadmissível. (…) Me senti envergonhado. Ouvi uma manifestação homofóbica, onde o vereador fala em triângulo amoroso e vergonhoso”.
MATEUS SOUZA – mateus@jornalahora.inf.br