O debate sobre a fiscalização do excesso de velocidade ganha força após o discurso do presidente Jair Bolsonaro. Por outro lado, especialistas frisam a necessidade do controle como forma de diminuir o risco de óbitos nas estradas. Para se ter uma ideia, no Vale do Taquari, do dia 1ª de janeiro até ontem, foram flagrados 1.920 condutores acima da velocidade permitida. Isso equivale a 8,5 multas por dia.
Nessa segunda-feira, durante inauguração da nova pista da BR-116, em Pelotas, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a partir da próxima semana, não haveria mais radares móveis no país. Bolsonaro também disse que a fiscalização nas estradas é uma “indústria da multa”.
A informação de que os radares serão retirados das rodovias federais contraria indicação da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF). O Diretor de Comunicação da entidade, Raphael Casotti, realça que uma interferência neste sentido resultaria em insegurança.
Para o dirigente da instituição que representa os policiais militares, os pontos escolhidos para o posicionamento dos radares são precedidos de estudos técnicos. “Nosso objetivo nunca foi de arrecadação. Se trata de preservar a vida.”
Como forma de impedir a determinação do presidente, a federação pretende levar o assunto à Justiça e ao Congresso Nacional.
ENTREVISTA
“O fim da fiscalização pode passar a mensagem de que agora é permitido correr”
O professor da Univates, João Rodrigo Guerreiro Mattos é graduado em Engenharia Civil pela UFRGS. Tem experiência de Engenharia em Rodovias, projetos e construção de pavimentos.
A Hora – Os controladores de velocidade são importantes para a segurança das rodovias? Por quê?
João Mattos – Todos os mecanismos que auxiliam no controle da velocidade das rodovias são importantes, pois não existe nenhum estudo técnico que não inclua a velocidade como um dos principais fatores de risco para acidentes. Estudos internacionais avaliando o impacto da instalação de controladores de velocidade indicam reduções de 3 a 10% nos acidentes com mortes e de 15 a 45% nos acidentes com feridos.
Quais os riscos em caso de extinção dessa ferramenta de fiscalização?
Mattos – O mais eminente é o aumento do número de acidentes. Além disso, qualquer pessoa sabe que quanto maior for a velocidade, maiores serão as consequências. Por mais que uma grande parcela da população possa achar que as multas não sejam necessárias, observa-se que a fiscalização punitiva é a que gera mais resultado no comportamento das pessoas. Além disso, tem-se que tomar bastante cuidado com a forma que o tema é tratado, pois o fim da fiscalização pode passar a mensagem de que agora é permitido correr.
Como o senhor avalia as considerações do presidente Jair Bolsonaro sobre a retirada desses aparelhos?
Mattos – Eu sempre acredito em estudos técnicos. É uma medida extremista a retirada total dos aparelhos de controle de velocidade. Desconheço um caso de alguém que tenha tomado uma multa por excesso de velocidade e não estava além do limite estabelecido. Então, o discurso de “indústria da multa” não é real. Por bom senso, se há um entendimento que a forma como está não é boa, se busque estudos para analisar quais controladores não estejam cumprindo o seu papel. E, esses sim, serem retirados. Ou então realizar estudos de viabilidade para o aumento da velocidade, como foi feito alguns anos atrás para um segmento da Freeway.
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FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br