Na primeira vez que o fotógrafo Leonardo Camargo, 35, registrou um parto, tudo aconteceu muito rápido. Como se tratava de uma cesária, a equipe médica do Hospital Bruno Born não teve dificuldades em trazer o pequeno Theo ao mundo. Apesar de ter se preparado tanto para aquele momento, com livros e teorias, foi apenas quando a médica pegou a câmera e lhe entregou o bebê que Leo sentiu o impacto da paternidade. “Agora é pra valer”, pensou, enquanto segurava o primogênito.
Não que ele tivesse sido ausente durante a gestação; ao contrário. Mas era difícil assimilar alterações que, até aquele momento, ocorriam apenas no corpo da esposa, Adriana Sbaraini Arend, 36. Juntos há quase oito anos, o casal se dividia em relação a ter filhos. Ele sempre quis. Dela, a família nem cobrava, pois todos sabiam que ela era firme na decisão de não ter.
Quando Adri decidiu que estava pronta, planejaram tudo em sigilo. O anúncio à família ocorreu apenas na 14ª semana de gestação, justamente em um Dia dos Pais. Como os dois têm a mesma profissão – que envolve muita pós-produção em casa –, Leo imaginou que seria fácil adaptar a rotina de trabalho ao sono do bebê.
Mas as cólicas atormentavam o menino. Até que eles descobriram que a causa de tanto choro era relacionada ao efeito da lactose. A mãe ficou aflita. Nesse processo, a mansidão do pai ajudava a equilibrar os ânimos. É agora, que Theo está com seis meses, que Leo viu seu ponto fraco ser atingido. “Eu sou muito calmo, mas choro de bebê sempre me estressou. No início era tranquilo, mas agora que ele tem força nos pulmões…”
Theo costuma acordar duas vezes por noite. “Eu pego, dou de mamar e o Leo põe para dormir. Sozinha, não dá. Depois da cirurgia, eu não podia fazer nada, então era tudo com o Leo.” Na casa, a divisão de tarefas sempre foi uma realidade. Em geral, cada um faz o que gosta (ou, o que o outro detesta): ela cuida da caixa de areia das duas gatas; ele, da cozinha. “O Theo vai dizer que lavar louça e cozinhar é coisa de homem, porque o Leo faz”, prevê a mãe.
Apesar de ter consciência de que o sonho de ser pai não seria tão simples, Leo admite que a experiência demorou para chegar à fase romântica. Enquanto Theo já interagia com a mãe aos dois meses, esse contato com o pai começou apenas no 5º mês. Justamente eles, que são um casal oposto do modelo convencional – ele se considera mais sensível; ela se autointitula a “ogra” da relação.
“Agora que ele está se abrindo, sorrindo comigo. Aí, sim, eu entendi que são nessas pequenas recompensas que a gente vê que está valendo a pena”, completa Leo.
Perdão e recomeço
Para o analista de garantia Julio Cesar Beskow Bajotto, 25, o Dia dos Pais ganhou um significado maior há cerca de três anos. Foi em um domingo pela manhã, quando, após mais de duas décadas, conheceu o pai biológico. “Ele pegou um avião no Recife e nos encontramos no shopping”, lembra.
Natural de Fortaleza dos Valos, o rapaz sempre soube de tudo: sua mãe havia engravidado quando tinha 18 anos, de um homem que foi embora para Pernambuco, e nunca mais voltou. Criado com total amparo do padrasto e do avô, Bajotto não quis apelar para a Justiça para ter contato com o pai.
O reencontro partiu por iniciativa da outra parte. Bajotto conta que, após começar a acompanhar a noiva em uma igreja evangélica, decidiu que perdoaria o pai, mesmo sem não ter recebido um pedido de desculpas até aquele momento. “Fiz uma oração pedindo para Deus tirar qualquer mágoa que eu tivesse e que tocasse no coração dele, para que ele me procurasse. E, uma semana depois, ele me procurou.”
O primeiro encontro foi marcado pelo nervosismo. “Embora fosse o meu pai, com o meu sangue, era alguém de quem eu não tinha saudade; era apenas curiosidade.” Mas, passado o momento de quebrar o gelo, as coisas começaram a ocorrer de forma natural.
Além do pai (no terceiro encontro, Bajotto já o chamava assim), que ainda reside em Recife, o rapaz de Lajeado ganhou um mano novo – que, na verdade, é cerca de um ano mais velho –, morador de Porto Alegre. Presenteado praticamente com uma outra família, Bajotto colocou uma pedra sobre o passado. “Ele pediu se eu queria saber os motivos dele, e eu disse que não, que temos que viver daqui para frente.”
GESIELE LORDES – gesiele@jornalahora.inf.br