A temática desta coluna tenho definida desde 20 de julho quando, na barbearia, visualizei um encarte com o título: A Evolução da Espécie. Questionei o amigo Davi Shwingel sobre o que tratava e este esclareceu ser um encarte publicitário. Agradeci e deixei de lado. Mas, ato contínuo me deparo com a coluna do amigo Adair Weiss, que tratava da esquizofrenia e outras coisas mais. No entanto, o que me chamou a atenção foi a afirmação que fez: “as discussões extremistas de grupos ou facções autodenominadas de esquerda e direita mais se parecem com brigas de animais sem discernimento”. Bingo, tá aí o tema da próxima coluna: a involução da espécie. Como todos sabem, pelo menos do senso comum, o evolucionismo, tema de pesquisas de diversos pesquisadores, tem como mais reconhecido o naturalista e biólogo Charles Darwin. Defende a tese de que as mutações, pelas quais passam as diversas espécies de seres vivos ao longo do tempo em sua relação com o meio em que habitam as levam a evoluir. Passei a pensar: será? Seria essa uma premissa ainda válida para os dias atuais ou teríamos regredido na relação entre as pessoas? Seriam os indivíduos incapazes de interferir no meio? De moldar a sociedade para o bem comum? Fui buscar um dos sociólogos de que mais gosto, Edgar Morin, que afirma que a espécie humana evoluirá pouco anatômica e fisiologicamente, mas serão as culturas que se tornaram evolutivas, serão as crenças e os mitos que transformar-se-ão. Sabemos que cada época tem suas verdades, porém também se sabe que as certezas estão distantes de garantir que não venhamos a nos equivocar, pois toda verdade comporta erro e ilusão. Vivemos um período onde fazemos história sob condições que não escolhemos, condições que limitam nossas possibilidades, não temos a liberdade de não fazer o que não queremos fazer, somos uma sociedade de indivíduos que não constituem uma sociedade. Somos voltados para o egoísmo, voltados para um consumo que traga satisfação individual, mesmo que realizado em companhia de outros, onde, como diria Bauman, o objeto são os consumidores e não os produtores. Não há espaço para o bem comum, para o coletivo e quando temos a prevalência do interesse individual não sobra espaço para o exercício da cidadania, para a democracia. É preciso vencer as discussões dicotômicas, temos de estimular um pensar autônomo, com pluralidade de opiniões, com conflito de ideias como antídoto a onipotência do Estado e às loucuras do poder individual. Confesso que chego aqui e as dúvidas aumentam ao invés de encontrar algumas respostas. É preciso voltar a evoluir, construir uma sociedade pautada pela ação em prol do todo e não de poucas partes privilegiadas, artificialmente, pelo ambiente. Precisamos rumar para o que Tomás Morus definiu como A Utopia, criar uma sociedade para todos, ao mesmo tempo, e não para alguns, mesmo que isso pareça inalcançável, pois, como afirmava o filósofo, crer que a miséria do povo seja garantia de segurança e paz é o maior dos erros.
Opinião
Carlos Cyrne
Professor da Univates
Assuntos e temas do cotidiano