Desafio lançado: pegue um cosmético que você usa diariamente e leia no rótulo quais são os ingredientes. Se você não for um profissional da área química e conseguir saber quais componentes são aqueles, pode contar que provavelmente estará diante de um cosmético natural. Mas afinal, qual a diferença entre usar um produto natureba e outro industrializado? De acordo com Brenda Rafaela Schmidt, 26, bióloga e idealizadora do Serena Cosméticos Naturais, o reflexo dessa escolha fica na saúde do corpo e do meio ambiente.
Curiosa sobre as propriedades das plantas e recursos naturais, a bióloga conheceu esse tipo de cosmético ainda na faculdade. “Assim que testei me apaixonei. Então acabei dedicando os meus estudos naquilo que utilizamos para cuidar do nosso corpo, os cosméticos”, conta.
Segundo pesquisa americana do Environmental Working Group, uma rotina de beleza comum tem em média dez produtos. Parece inofensivo, mas dentro desse cálculo somos expostos diariamente a cerca de 170 ingredientes químicos, a maioria de origem não-natural e alguns com potencial cancerígeno. Ainda segundo o estudo, a procura das gerações mais novas por produtos mais simples e naturais resultou em um boom neste nicho de mercado que promete movimentar 16 bilhões de dólares até o final de 2020.
A volta para o cuidado pessoal com produtos naturais, como faziam há cinquenta anos ou mais, tem sido considerada por uma boa parcela da população. “Se os meus avós viviam bem sem esse monte de químicos, por que eu preciso deles mesmo?”, questiona a bióloga. Há mais de um ano fabricando produtos apenas com ingredientes naturais, Brenda percebeu na região de Lajeado boa aceitação da velha-nova proposta. “Hoje todo o meu sustento vem dos produtos que fabrico. Faço sabonetes multiúso, condicionadores, pó dental, desodorante, bálsamos, sérum facial, shampoo líquido e óleo pós-barba. Em breve lanço as máscaras faciais”, comemora.
Cosméticos e terapia
Trabalhando com Yoga Massagem Ayurvédiva, uma técnica indiana que mistura toques profundos, alongamentos e aromaterapia, Fabiana Camilotti, 34, conheceu a cosmética natural após iniciar estudos de aromaterapia, que leva em consideração o respeito ao corpo e à natureza.
Como complemento às práticas realizadas no seu espaço, começou a produzir sabões, repelentes, perfumes aromaterápicos e loções para corpo e rosto, criando a Priya Cuidado Natural. “Foi uma necessidade percebida nos próprios clientes. Sou uma entusiasta da aromaterapia e de tudo que sirva e respeite a vida, então o cuidado ao corpo com produtos que o respeitem foi um dos grandes passos para uma vida e trabalho com mais propósito”, referencia.
Com o uso de flores, óleos vegetais naturais e óleos essenciais, os produtos ganham forma e respondem ao propósito maior da cosmética natural. “A adaptação do corpo à troca dos industrializados pelos naturais mostra nitidamente como o poluímos com químicos agressivos”, salienta.
Um exemplo de Fabiana é a troca do antitranspirante pelo desodorante natural. Segundo ela, durante alguns dias o corpo expele junto à transpiração diversas toxinas que não conseguiram sair devido ao uso do antitranspirante, que inibe a saída do suor. “Depois da adaptação, a área volta a respirar e o desodorante feito à base de leite de magnésia apenas inibe o cheiro, enquanto que o suor fica livre para sair, afinal, o nosso corpo sua, sim, querendo ou não”, indica.
Rótulos mais a fundo
A pele é, de fato, o maior órgão do corpo e merece tanto cuidado como qualquer outra parte. “A maioria dos sabonetes industrializados que usamos, por exemplo, mata os organismos que vivem ali e promovem proteção. Também retiram excessivamente a oleosidade, diminuindo a barreira protetora e facilitando a entrada de corpos estranhos”, explica a bióloga.
Outro vilão da saúde da pele são os óleos minerais que, além de domesticarem o corpo em diversos aspectos, podem abrir mais brechas para alergias. “Esse derivado do petróleo é muito utilizado nos cosméticos. Ao mesmo tempo em que cria uma camada sobre a pele e não deixa que ela desidrate, também não permite que respire, diferente dos óleos naturais, que são reconhecidos pelo corpo e absorvidos naturalmente”, orienta Brenda.
Apps do bem
Alguns aplicativos disponíveis para celulares facilitam a vida de quem procura por produtos menos nocivos mas não tem conhecimento ou tempo para isso. Eles são vários: Think Dirty, EWG’s Healthy Living, Ingred, entre outros. Com bases de dados de mais de 120 mil produtos nacionais e internacionais, é possível saber, em uma escala detalhada de 1 a 10, qual é o índice de riscos de alergias e complicações mais graves ao se utilizar aquele produto. São bem intuitivos usando a câmera do celular, campo de pesquisa digitada ou ainda fotos e prints dos rótulos.
Lista de ingredientes para evitar:
– Parabenos: conservantes que podem causar irritações, alergias e doenças como câncer, segundo pesquisas da Universidade de Reading, da Inglaterra.
– Pegs: derivados do petróleo que causam sensibilidade.
– Fragrância: a mistura cheirosa pode provocar dores de cabeça, dermatites e até problemas respiratórios e hormonais.
– Petrolato e silicones: criam uma barreira que impede a hidratação natural da pele.
– Alumínio: obstrui os poros e interfere nos níveis de estrogênio facilitando a formação de tumores, por exemplo.
– Oxibenzona: oferece riscos de alergias e câncer e polui os oceanos.
– Lauril (SLS) / Laurenth (SLES): tem ação emulsificante, mas é alergênico e poluente.
– Tolueno e formol: são tóxicos para o sistema respiratório e cancerígenos.