Inovador, ecológico e social. Assim pode ser definido o projeto que garante proteção contra o frio para dezenas de famílias neste inverno, no bairro Santo Antônio.
A iniciativa é de participantes do Grupo Espírita Amor e Consciência, que aproveitam embalagens de leite para revestir as frestas de casas de madeiras de moradores em situação de vulnerabilidade social.
O grupo já reservava os sábados para visitar famílias na localidade, conversar sobre fé e espiritualidade e distribuir alimentos e roupas arrecadados. Faz cerca de um mês que os voluntários passaram a separar caixas de leite e implementar o Projeto Lares Sem Frestas. No último sábado, duas casas foram forradas com os materiais.
Com o objetivo de aquecer os ambientes dos lares, o grupo faz visitas prévias para conhecer as famílias mais necessitadas. “Identificamos por meio de visitas quem realmente tem essa necessidade para realizarmos o trabalho”, explica uma das integrantes do GEAC, Gisela Berteli.
Ela visitas cinco famílias do bairro com frequência, tentando, por meio da palavra e da fé, amenizar a dor e o sofrimento. Em uma das idas até o bairro, levou a filha de 16 anos para contar histórias às crianças. Uma das famílias visitadas por ela é da Ivonete Valer da Silva, que mora com o marido e cinco filhos. Foi a casa deles que recebeu a primeira ação do Projeto Lares sem Frestas.
O quarto das crianças e parte do quarto do casal já haviam sido forrados com as caixinhas de leite pelo grupo. No último sábado terminaram o quarto e a cozinha. Perto do fogão à lenha, ao invés de caixas de leite foram pregadas folhas de zinco para cobrir as frestas. “As crianças mesmo disseram que a casa ficou mais quentinha, antes entrava muito vento, chovia para dentro e umedecia as roupas”, agradece Ivonete. Na casa dela foram utilizadas 860 caixas de leite.
Ao finalizar o trabalho, os seis voluntários que foram até o bairro no sábado visitaram a casa de outro morador, o Jonas Wesley Oliveira da Silva, o Ceará. Vindo do nordeste brasileiro, faz apenas alguns dias que reencontrou o filho Talles Arthur, trazendo-o ao município. Ansioso com a chegada do pequeno de dois anos e meio, Silva tapou algumas frestas da casa com madeira, mas ainda faltava a cozinha.
Depois que o grupo voluntário terminou de forrar o espaço com 250 caixas, se despediram com abraços, e Silva ainda doou algumas caixas de leite para ajudar o projeto. “O Arthur toma leite todo o dia, então vou guardando as caixas para eles, estamos aqui lutando para conseguir arrumar a casa e viver bem”.
Trabalho voluntário
A tarefa de limpar e higienizar as caixas de leite doadas ficou por conta do GEAC. Na casa de uma das integrantes do grupo e idealizadora do projeto, Mariângela Favaretto, pilhas de caixas aguardam a limpeza. Depois disso, ela abre o material e grampeia as caixas em conjuntos de seis, formando placas de cerca de 1 metro e 20 centímetros.
Nos fins de semana, também são feitos mutirões para ajudar no processo. “A nossa felicidade é poder aquecer os lares e os corações das pessoas”, ressalta Mariângela. A ideia do projeto é forrar as casas à medida que chegam as doações. As caixas foram colocadas com a parte prateada para dentro. Dessa forma, o calor é mantido no inverno.
Além de integrantes do GEAC, pessoas da comunidade também se disponibilizaram para auxiliar. Uma delas é o eletricista Beto Schneider, que já havia participado da primeira ação e retornou no sábado. “Não temos como não participar de causas como estas. Além de ajudar o meio ambiente, ajudamos as famílias, e o grupo traz humanização com as visitas”, comenta.
O GEAC
Com mais de 100 participantes, o Grupo Espírita Amor e Consciência (GEAC) entrega doações semanais para 12 famílias cadastradas no projeto. São levados roupas, calçados, alimentos, brinquedos, cobertores, utensílios de cozinhas, entre outros materiais. “Tentamos suprir as necessidades das famílias”, explica a dirigente do grupo, Odete Konzen.
Os encontros com o grupo ocorrem nas segundas e quintas-feiras, às 19h, na Rua Oswaldo Hass, 515, no bairro Universitário, e é neste momento que os integrantes recebem as doações repassadas às famílias. Também ocorrem doações em dinheiro para a compra dos alimentos. Como as placas feitas de caixas são colocadas com grampos, o grupo também recebe a doação deste material.
Brasil Sem Frestas
O projeto Lares Sem Frestas tem como referência outra ação solidária, o Brasil Sem Frestas, existente em diversos lugares do país. Em Passo Fundo, onde iniciou, centenas de casas já foram contempladas.
As embalagens de leite têm o polietileno, alumínio e papel-cartão como matérias-primas. A parte em alumínio ajuda a refletir os raios solares, favorecendo a redução de até 8 ºC em casas que costumam esquentar demais e, no inverno, ajuda a manter o calor no interior das casas.
Além de ajudar famílias em situação de vulnerabilidade, a ação também tem caráter ecológico, já que a natureza leva até 180 anos para decompor uma caixa de leite. Além do Brasil, outros países do mundo também desenvolvem projetos semelhantes.
FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br