A Volkswagen encerrou oficialmente a produção mundial do veículo mais famoso do mundo, o Fusca. O último exemplar saiu da fábrica de Puebla, no México, a única que ainda fabricava o carro.
É o fim da estrada para um nome que simbolizou muitas histórias ao longo de uma vida que abrange mais de oito décadas, desde 1935. A medida já havia sido anunciada no ano passado, quando a Volkswagen lancou o “Beetle Final Edition”.
As últimas 65 unidades serão vendidas no México apenas pela internet, por U$ 21 mil. Cada veículo tem ao lado esquerdo uma placa comemorativa seriada do 1 ao 65. As cores disponíveis são azul metálico, preto, branco e bege.

Último exemplar da série Last Edition saiu da linha de montagem direto para o museu da VW
O mais icônico
Em produção desde 1935, o Fusca acumula mais de 21,5 milhões de unidades, sendo 3,35 milhões no Brasil. Tendo sido produzido em 19 cidades ao redor do mundo, teve sua geração clássica encerrada em 2003.
Antes disso, surgiu o New Beetle, em 1997, e durou até 2011. Logo após o fim deste, surge o Novo Fusca, que chegou a ser igualmente vendido no Brasil, assumindo pela segunda vez o nome que lhe foi dado por aqui.
Mais moderno, assumiu um visual mais encorporado e esportivo, preservando ainda a versão conversível, embora o modelo clássico nunca tenha sido produzido de fato nessa configuração, sendo os exemplares feitos pela Karmann-Ghia e até particulares.
Com o fim do Beetle em Puebla, as portas da fabricante alemã se abrem novamente para outro clássico, uma versão de produção da Kombi. O último exemplar dos carros da série Last Edition saiu da linha de montagem direto para o museu principal da Volkswagen, em Wolfsburg.
Paixão dividida em família
Os irmãos Layana Schnack, 21, e Luis Fernando Schnack Júnior, 30, dividem a paixão pelo antigo automóvel. Ele é dono de um Fusca modelo 1970 na cor branca, enquanto que ela possui um Fusca 1975 na cor azul. Além destes, possuem mais dois modelos, anos 1964 e 1969, que estão desmontados e serão reformados.

Júnior Schnack
Júnior foi o primeiro irmão a descobrir o amor pelo clássico da VW. O Fusca branco, chamado carinhosamente de Snow, esteve jogado em uma oficina por cerca de oito anos. Como já pensava em adquirir um carro clássico, Snow apareceu na hora certa e está com Júnior desde 2013.
Com Snow, passaram a frequentar encontros de carros antigos, o que fez a paixão aumentar. Decidiram que a família queria mais um Fusca, e passaram a procurar o modelo certo, foi aí que encontraram o 1975 na cor azul. Comprado de um conhecido, está com Layana desde 2017. “Está exatamente como compramos, fizemos apenas ajustes no motor e parte elétrica”, comenta.
Layana conta que a família sempre foi apaixonada pelos Fuscas. Seu avô, Pio Schnack, tinha um SP2 1973, um clássico e raro carro da Volkswagen. Com o tempo, o gosto por carros antigos, especialmente os da marca alemã, foi crescendo e se tornou uma paixão familiar.

A fotógrafa vê nos carros uma boa lembrança do avô. “Ele era apaixonado pelo SP2, sempre manteve original e nunca pensou em vendê-lo. O carro é uma herança sentimental que ele nos deixou”, comenta. Diversas propostas já foram feitas pelo carro, mas a família não pretende se desfazer do veículo. “O meu Fusca também é isso, talvez ele não fique por tanto tempo na família, mas quero passar esses ensinamentos para meus filhos e netos.”
O Fusca é um dos carros mais comercializados no mundo, com os modelos antigos cada vez mais difíceis de se encontrar. Para Júnior, ter um exemplar é fazer parte da história dos carros. “Poder manter um na família, mesmo não sendo original, traz um sentimento bom, pois estou mantendo a história viva e não apenas tendo mais um carro comum.”
Layana acredita que o mais interessante de ter o Fusca são as inúmeras histórias que ele proporciona, além de saber que em qualquer lugar que parar, terá alguém para conversar sobre o veículo. “Só tenho história de perrengues com o meu. Já fiquei parada em via pública, em cidades longínquas e tive que voltar de guincho. Já fiquei sem gasolina porque o ponteiro não marcava direito”, conta com humor.
Diferente da irmã, Júnior diz que o seu dificilmente apreesnta problemas, pois foi minuciosamente montado. “Peguei sem motor, bancos, freios e tudo o mais”, diz. O auxiliar técnico de telecomunicações diz ter boas lembranças com o veículo, principalmente nas viagens para encontros de carros antigos. “Fiz muitos amigos por causa dele, são muitas histórias marcantes.”
A Fusca Rebeca
Morador de Teutônia, Claudinei Altmann, 32, tem um Fusca 1963 como o seu primeiro carro. Pagou cerca de R$ 2.750 pelo veículo, quando tinha apenas 17 anos. “Foi complicado de comprar na época, era um dinheiro considerável”, comenta.
Altmann conta que comprou o carro de um senhor da Linha Catarina, que só vendeu pois não podia mais dirigir. Hoje o Fusca tem mais de 140 mil quilômetros e mantém as características originais, sendo inclusive premiado em alguns eventos.
A paixão pelo Fusca é tanta que ele recebeu um nome, ou melhor, ela. “A verdade é que meu Fusca é uma Fusca, a Rebeca. Todo mundo a conhece por esse nome em Teutônia”, brinca Altmann.
Rebeca deu muito trabalho para ficar no estado que está hoje, e isso só faz com que o carinho do proprietário aumente. Diferente do esperado, o carro nunca deixou Claudinei na mão. “Já fiz muitas viagens longas. Procuro deixar o carro sempre nos trinques, assim ele não me deixa empenhado.”
Popularmente conhecido, o veículo proporciona muitos momentos de alegria para o dono e sua família. “Todo mundo que me conhece pede para dar uma volta no Fusca. Quando passo na rua ele chama a atenção, isso é muito gratificante”, finaliza Altmann.