Reflexo no campo pode demorar

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Reflexo no campo pode demorar

Leite em pó, queijos e leite condensado estão na lista de itens aptos a serem negociados com a China. Cooperativa Dália Alimentos de Encantado e Lactalis de Teutônia estão entre as 24 plantas habilitadas. Produtores e líderes cobram medidas urgentes para reverter crise e baixa no preço

Reflexo no campo pode demorar

Enquanto trata o rebanho no interior de Marques de Souza, o produtor Wilson Degasperi, 61, tem esperança de dias melhores na atividade leiteira. A queda no preço, do consumo e consequente aumento dos custos, fizeram os lucros despencarem nos últimos meses.
“É a pior crise pela qual já passamos. Não dá para desistir, pois é uma das únicas alternativas para se manter no campo. Espero um cenário melhor com a abertura do mercado chinês”, projeta.
Com um plantel de 18 vacas, a produção diária alcança 300 litros. Ainda são mantidos 570 suínos no sistema de terminação. A cooperativa para qual ele entrega a matéria-prima, a Dália Alimentos de Encantado, é uma das 24 plantas habilitadas a exportar leite em pó. A outra é a Lactalis, com sede em Teutônia.
Conforme a ministra Tereza Cristina, os embarques de produtos lácteos brasileiros devem começar em agosto. “Isso vai ser muito bom para o mercado interno, em enorme crise devido aos preços baixos pagos ao produtor”, afirma.

Mercado combalido

Para o secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini, a simples perspectiva de ter uma nova porta de escoamento ao produto já é suficiente para reanimar o combalido ânimo do setor e as constantes oscilações e quedas nos preços.
Para se ter uma ideia da importância do anúncio, o gigante asiático costuma importar anualmente 800 mil toneladas de leite em pó, o que equivale a 132% de toda a produção brasileira (600 mil toneladas). As exportações gaúchas de lácteos, hoje equivale a menos de 1% da produção.
A certificação estava acordada com a China desde 2007, mas não havia nenhuma planta brasileira habilitada a exportar, segundo o ministério. As negociações para a abertura do mercado de lácteos se arrastam desde 1996. O acordo beneficia mais de 1,2 milhão de produtores no Brasil.

Queda drástica

O presidente do Instituto Gaúcho do Leite (IGL), Carlos Joel da Silva, avalia com cautela a abertura de mercado para o exterior.
“Cerca de 60% da produção gaúcha já vai para fora do estado. Necessitamos de ações emergenciais em para frear a queda de preço para o produtor. Dependendo da empresa, no último mês, a redução varia de R$ 0,20 a R$ 0,30 no litro, e a tendência é baixar. Pode se tornar insuportável a permanência de muitos produtores no setor”, sinaliza.
Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lajeado, Lauro Baum, é preciso evitar fazer novos investimentos para ampliar a produção. “Há cinco anos o consumo no RS está estagnado. Pode demorar até o produtor sentir o reflexo da China no bolso. Outra questão é quanto eles vão comprar e por quanto tempo. Os chineses são altamente especulativos. Criam problema para desistir e comprar em outro país”, alerta.

Longo caminho

O presidente Executivo da Dália Alimentos, Carlos Alberto de Figueiredo Freitas, considera o anúncio eufórico, contudo, diz que é preciso ter cautela. “Apesar de se tratar de uma notícia positiva, ainda não há definição de como o processo, na prática, funcionará”.
Segundo o presidente do Conselho de Administração da Dália Alimentos, Gilberto Antônio Piccinini, a notícia foi recebida com entusiasmo e, ao mesmo tempo, surpresa. “Possuímos uma planta de lácteos moderna e com habilitação para vários países.
Contudo, precisamos entender que se trata apenas de uma possibilidade e que longas etapas deverão ocorrer até que, de fato, a exportação do leite em pó venha a ocorrer”, destaca.
Acredita ser uma oportunidade para a abertura de novos mercados. “Como produtores de leite e cooperativa estamos felizes, mas trata-se de um longo caminho a percorrer”.

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