Após meio século, Lajeado mantém acesa a chama de uma feira que caracteriza o Vale dos Alimentos
Nilo Rotta, fundador de vários negócios – entre eles o grupo Imec e o hotel Weiand – foi daqueles visionários que deram forma à economia de Lajeado. Assim como ele, poderia citar vários outros, mas neste momento me atenho ao legado chamado Fenal – Feira Nacional de Laticínos, iniciada em 1966.
Faz mais de meio século que a visão e liderança de Rotta e seus aliados nos sugerem pensar além. Sem entrar no mérito ou nas razões que desvirtuaram a Fenal, penso necessário fazermos uma reflexão sobre o que aconteceu para a feira de alimentos se perder no tempo. Talvez as lições do passado sejam, agora, suficientes para nos inspirar em outrora e pensar à frente.
A Jornada Técnica do Setor de Alimentos, que ocorre na semana que vem – de 05 a 08 de agosto –, esboça nova provocação. A exemplo da Fenal, a Acil é a realizadora da Jornada, e tem legitimidade para retomar a discussão. Aliás, a atual presidente, Aline Eggers Bagatini, em entrevista à revista Pensar Alimentos – que circula na edição de terça-feira – faz alusão ao tema.
O GTA (Grupo Técnico de Alimentos), liderado pela especialista Tânia Gräff, mantém viva a chama faz 20 anos. Ainda que isolados ou um tanto “esquecidos”, estes profissionais sustentam o debate em meio às adversidades. Está no DNA do grupo a certeza de que o Vale de Alimentos está diante de um mundo de oportunidades. Afinal, o “mundo precisa comer”.
Associado ao legado dos que mantêm presente a convicção sobre o tema, o publicitário Gilberto Soares é outro entusiasta, assim como inúmeras lideranças que atuam nos bastidores e não esqueceram da importância de um evento estadual para o setor.
Ainda que tenhamos várias feiras temáticas regionais, carecemos de um evento maior, que espelha a grandeza do setor e sua relevância no país. Uma feira que reúna a região, o estado, atraia expositores e produtos com tecnologia e inovação na área de alimentos. A Jornada é o começo.
Somado a este esforço e persistência, o Grupo A Hora aceitou o desafio de produzir mais uma revista. Em 2012, já dedicara o anuário TUDO, exclusivamente, ao tema dos alimentos no Vale. Antes ainda, A Hora acompanhou comitiva regional à Galícia, na Espanha – na ocasião, liderada pela Univates –, onde a região ensaiou os primeiros passos para tornar o Vale mais competitivo.
Desde então, o editorial do A Hora se mantém próximo e contribui, efetivamente, por meio da comunicação para dar luz ao Vale dos Alimentos. Seja participando de comitivas, grupos de estudos ou na divulgação, procuramos estar inseridos para assim contar a história e os bastidores de quem atua, muitas vezes, no anonimato.
Produzir uma publicação específica, neste momento, não poderia ser mais oportuno e adequado. E, além de tudo, é um prazer.
Nesta terça-feira, quando começa a Jornada Técnica do Setor Alimentício, Lajeado e o Vale se colocam diante de um evento estratégico, o qual impõe um novo desafio para construir algo singular no RS e no Brasil. Sonhar, mas também fazer.
No quadro ao lado, trago um relato do lajeadense Roberto Ruschel sobre a “saga” do fogo simbólico na primeira edição da Fenal. Esta pequena narrativa talvez retrate de forma mais autêntica a lição que Lajeado e o Vale esqueceram nestes anos todos, enquanto um seleto grupo de voluntários manteve acesa a chama para potencializar as nossas empresas e pessoas por meio de uma grande feira de alimentos.
Penso, verdadeiramente, que é chegada a hora para retomar o assunto com todas as forças regionais. E, por coincidência, o futuro presidente da Acil será Cristian Bergesch, neto de Nilo Rotta.
Vamos em frente, que as oportunidades estão pra gente!
Relato revela persistência
“A 1ª Feira Nacional de Laticínios – FENAL ocorreu no ano de 1966.
Fui um dos atletas selecionados entre os estudantes de Lajeado, para trazer o Fogo Simbólico no momento da abertura da Feira.
Um ônibus nos levou até Conventos, local do início da colonização de nosso município, para acender a tocha mãe e reserva.
Chovia muito. Os atletas foram divididos em dois grupos, para irem se alternando durante o longo percurso.
O descanso era feito em um caminhão caçamba da Prefeitura Municipal da Lajeado, que servia de apoio (…).
Assim como o trajeto de Conventos, a BR-386 também não era asfaltada e (…), na altura onde é hoje o Posto Perdigão, a caçamba atolou de tal maneira que não saiu mais. O jeito foi (…) ir a pé, carregando as duas tochas.
Tínhamos que vencer além do cansaço, uma camada generosa de barro, que durante as passadas saltava pra todos os lados, nos pintando de vermelho. Um vento contrário, além de nos segurar, apagou as duas tochas.
E agora, o que fazer?
Decidimos parar numa casa que ficava mais ou menos em frente onde hoje é a Balas Florestal, e pedimos fogo. Acendemos as tochas e pedimos para levar junto a caixa de fósforos, caso fosse preciso, o que ocorreu por diversas vezes.
Finalmente, com mais de uma hora de atraso, extenuados, encharcados e sujos, chegamos ao local do evento.
A Feira já havia tido a solenidade de abertura e sem o cerimonial do Fogo Simbólico.
Ficamos decepcionados, pois o sacrifício feito e os diálogos durante o percurso alimentaram no grupo a façanha como um ato heróico e que teve um final sem plateia.
Restou apenas ‘orgulho do dever cumprido’ e, por longo tempo, o comentário do fogo ‘que não era simbólico’.”
Roberto Rusch
Bola para frente
A proximidade do presidente da Amvat, Jonatan Brönstrup (PSDB), com setores do governo de Eduardo Leite (PSDB) tem feito a diferença. Mais uma reunião, nesta semana, caracterizou o acerto da região em sentar à mesa com o governador para reivindicar temas vitais ao desenvolvimento local.
O pequeno ruído sobre o “isolamento” de Encantado se desfaz com a participação de Gilberto Piccinini, presidente da Dália, na audiência. Aliás, Piccinini se diz confiante no novo governador, não apenas no aspecto de trazer infraestrutura à região, mas também na retomada de um modelo de modernização e proteção à cadeia leiteira gaúcha.