Há 30 anos, Orlei da Costa, 49, perdeu a visão, fato que mudou radicalmente sua vida. Hoje presidente da Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais de Lajeado (Apadev), superou obstáculos para alcançar o sonho da graduação. No começo do ano, se tornou o primeiro deficiente visual formado em Direito na Universidade de Santa Cruz do Sul
Quando surgiu o interesse em cursar Direito?
Quando era adolescente, meu principal sonho era ingressar na Medicina, mas minha família não tinha condições na época. Cheguei a pensar em seguir carreira militar, mas quando perdi a visão, tive que recomeçar do zero. Me formei no ensino médio em 2001. E depois de dez anos sem estudar, fiz vestibular em 2011 para Direito e passei. Gosto muito da ideia de defender uma tese, de argumentar. Isso também é da minha personalidade. E o Direito trata disso.
Como foi o processo de aprendizado dentro da universidade?
Foi uma troca de experiências. Por toda a parte, há carências em acessibilidade. A própria universidade não tinha muita experiência nisso, mas foram me auxiliando aos poucos. Uma coisa que me ajudou foi a gravação das aulas em áudio. Quando eu tinha que me ausentar, não perdia o conteúdo. Outra adaptação que eles fizeram foi a de disponibilizar uma funcionária para fazer a audiodescrição, através do Núcleo de Apoio Acadêmico (Naac). Tive dificuldades, mas sou grato à universidade. Eles se esforçaram bastante para me ajudar.
Agora formado, quais são seus planos para o futuro?
Primeiramente, vou fazer a primeira fase da prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Na realidade, esse é o meu sonho e principal objetivo: passar na prova e trabalhar na área. Quero atuar como advogado. Estou estudando por videoaulas e vou prestar o exame no mesmo horário que os demais concorrentes. Cheguei a pedir tempo adicional, mas não me concederam.
Como você avalia o mercado de trabalho para deficientes visuais?
Infelizmente, hoje é péssimo. Os deficientes visuais encontram dificuldades para conseguir emprego. Dou o meu exemplo. Só de janeiro até agora, já mandei mais de dez currículos para empresas. Algumas dão retorno, elogiam a tua formação, mas avisam que não tem vaga. Num local em Bom Retiro do Sul, cheguei a levar pessoalmente o currículo, pois no anúncio diziam ter vaga para pessoas com deficiência. Se fala muito em inclusão, mas ainda existe preconceito.
MATEUS SOUZA – mateus@jornalahora.inf.br