“Qualquer movimento de expressão do surdo é emocionante”

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“Qualquer movimento de expressão do surdo é emocionante”

Filha de pais surdos, a intérprete de Libras Rosane Krüger Gomes, 38, decidiu se profissionalizar naquilo que sempre fez parte de sua vida: falar com as mãos Como surgiu o seu interesse por Libras? Minha avó teve 10 filhos, e…

“Qualquer movimento de expressão do surdo é emocionante”

Filha de pais surdos, a intérprete de Libras Rosane Krüger Gomes, 38, decidiu se profissionalizar naquilo que sempre fez parte de sua vida: falar com as mãos

Como surgiu o seu interesse por Libras?
Minha avó teve 10 filhos, e os três últimos nasceram surdos – minha mãe e dois tios. Meu pai biológico era ouvinte, mas depois minha mãe se casou com o meu padrasto, que teve deficiência auditiva por causa da meningite. Quando eu tinha cinco anos, nasceu a minha irmã, que é surda. O meu tio casou com uma surda e tiveram dois filhos: um nasceu ouvinte e a minha afilhada nasceu surda. Eu tinha uma dinda ouvinte que acompanhava a minha criação. Pelo que relatam, com dois anos eu já sinalizava.
Naquela época, eram sinais caseiros. Eu acabei sendo referência para a minha família; acompanhava nos lugares e intermediava a comunicação. Em 1993, veio o Luis Fernando Tavares, que hoje é frei, com uma associação que trouxe a Libras para Lajeado. Mas antes de ter a associação, que hoje é a Asla, os encontros eram feitos lá em casa, no São Cristóvão. Vinham surdos de vários lugares, então eu me criei com isso.
Quais as situações mais marcantes que você interpretou?
Eu me casei esse ano, e o frei Luis Fernando não pode ir. Então, eu mesma interpretei em muitos momentos, e todo mundo se emocionou. Também ajudei no velório de um tio e fiz o de outro, do início ao fim. Era um momento de dor; ao mesmo tempo que me senti orgulhosa, mexeu comigo. Também ajudei em uma cesária de mãe surda, em Estrela.
Há quem diga que a palavra saudade é a mais bela da Língua Portuguesa. Em Libras, qual gesto lhe fascina?
Não tenho um sinal específico. Não sei se é pela minha criação, mas, para mim, qualquer movimento de expressão do surdo é emocionante.
Entre os surdos, há apelidos ou abreviações de nomes pessoais?
Quando você tem contato com uma comunidade de surdos, eles pedem se você tem algum sinal. Se não tiver, eles identificam uma característica, como uma pinta ou sobrancelhas grossas, e criam um sinal baseado nisso – claro, eles sempre perguntam se a pessoa gosta. É uma forma de batizado, um carinho. Em vez de dizer nomes de forma datilológica (letra por letra), eles usam esse sinal. Quando eu nasci, viram que os meus cílios eram enormes. Então, me batizaram com um gesto que sinaliza cílios grandes (ela move o indicador, próximo aos olhos). Quando duas pessoas têm o mesmo sinal, é preciso descrever o contexto, como cidade e família, para diferenciar.
 

GESIELE LORDES – gesiele@jornalahora.inf.br

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