Há quase um ano, Roberta da Silva, 24, decidiu encarar de frente um drama que a acompanha desde a adolescência. Pesando 187,5 quilos na época, ela entendeu que o momento exigia uma mudança drástica em sua vida. Começou devagar e, aos poucos, está conseguindo vencer a luta contra a obesidade.
Após consultar em um posto de saúde do bairro Rui Barbosa, em Arroio do Meio, Roberta foi encaminhada ao Ambulatório de Nutrição da Univates para iniciar seu tratamento. A reeducação alimentar iniciou em outubro e logo começou a apresentar resultados. Em nove meses, conseguiu perder 55 quilos.
“Eu saí do médico pensando que precisava mudar, só não sabia como. Comecei a diminuir a quantidade de comida, mas não largava alguns alimentos até iniciar o tratamento”, comenta Roberta. Com o apoio da família e amigos, está virando o jogo. Projeta chegar até 75 quilos se seguir com o tratamento.
A realidade de Roberta é a mesma enfrentada por uma parcela considerável da população. Conforme a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), encomendada pelo Ministério da Saúde, a obesidade prevalece em 19,8% dos entrevistados, atingindo o maior patamar dos últimos 13 anos.
Mudança de hábitos
Nos últimos três anos, a taxa de obesidade no país se manteve estável, em 18,9%. Contudo, voltou a apresentar aumento em 2018, conforme a pesquisa do Vigitel. Os dados também apontam que o crescimento da doença foi maior entre os adultos, de 25 a 34 anos e 35 a 44 anos e que as mulheres apresentaram obesidade ligeiramente maior, com 20,7% em relação aos homens, 18,7%.
Por isso, a mudança de hábitos se mostra importante. Roberta, por exemplo, passou a se exercitar. Dedica entre 1h e 1h30min dos seus dias para a prática de exercícios físicos. “Não dá para ficar com o corpo parado. Antes eu não caminhava nem cinco minutos”, lembra.
Mudar hábitos também foi o que fez o produtor de eventos Cássio Bonfandini, 30. Morador de Lajeado, ele chegou a pesar 145 quilos em 2015, quando, incentivado por uma amiga que é personal trainer, ingressou numa academia e, posteriormente, passou a buscar uma alimentação mais saudável.
“Sempre fui obeso e nada me motivava. Até que ela me incentivou a ir para a academia. Comecei a gostar e a me puxar. Depois, em 2018, comecei a fazer tratamento com um médico. Em dois meses, perdi 20 quilos. Ele viu que eu tinha condições de emagrecer mais. No total, perdi 60 quilos”, relata.
Hoje, ele recuperou cerca de oito quilos, mas se diz consciente de que consegue manter o equilíbrio. “É outra vida. Minha maior vitória foi ter conseguido perder todo esse peso. Vejo as fotos de anos anteriores e nem parece eu”, brinca.
A prática de alguma atividade física no tempo livre, pelo menos 150 minutos na semana, aumentou 25,7% (de 2009 a 2018) no Brasil, saindo de 30,3%, em 2009, para 38,1% em 2018, de acordo com a pesquisa.
Casal unido contra a obesidade
Moradores de Santa Clara do Sul, André Luiz Pochmann e Angelina Inês Dresch completaram, no dia 17 de julho, um ano da realização de uma cirurgia bariátrica. Ele pesava 150 quilos e perdeu 58. Ela, perdeu 72 dos 160 quilos que pesava no ano passado. Desde então, o casal mantém a sintonia quando o assunto é hábito saudável.
“Nós somos um casal e um cuida do outro. Isso nos ajuda muito. Um puxa a orelha do outro para mantermos uma alimentação saudável”, comenta Pochmann.
Frituras, refrigerante e alimentos com muito açúcar foram eliminados do cardápio deles, que realizam acompanhamento com nutricionista de dois em dois meses.
Plano de tratamento
Criado em 2006, o Ambulatório de Nutrição da Univates realiza cerca de 200 consultas por mês relacionadas à obesidade. Trata-se de um trabalho que busca criar novos hábitos alimentares e de vida nos pacientes. Conforme a nutricionista e coordenadora do ambulatório, Franciele Machado, o paciente faz uma consulta e depois uma avaliação nutricional.
“É verificado o histórico familiar e os hábitos de vida. Consideramos tudo isso para traçar um plano de tratamento. E também trabalhamos muito a questão do equilíbrio, da pessoa poder consumir um determinado alimento, mas em quantidade reduzida para não gerar prejuízos”, explica.
O ambulatório também conta com grupos de pacientes, onde são realizadas dinâmicas e trabalhos interdisciplinares, envolvendo outras áreas, como a Psicologia e a Educação Física. “Temos uma demanda grande de crianças e adolescentes, mas também há muitos pacientes na faixa dos 40, 50, 60 anos”, comenta Franciele.
Segundo a nutricionista, diversos fatores podem levar à obesidade. A má alimentação e o sedentarismo são os mais conhecidos, mas o sono desregulado, o estresse e a baixa hidratação também estão na lista.
MATEUS SOUZA – mateus@jornalahora.inf.br