Esgotamento profissional

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Esgotamento profissional

Uma doença contemporânea, a Síndrome de Burnout afeta até 40% dos trabalhadores em algum momento da vida

Esgotamento profissional

Conseguir separar a vida pessoal da profissional em um mundo com celulares cheios de aplicativos de comunicação pode ser uma tarefa difícil. Um dos mais recentes vilões do lazer alheio tem sido o WhatsApp, que derruba as barreiras entre ambientes de trabalho e de casa. Ferramentas como a confirmação não só de recebimento mas também de visualização de mensagens acabaram por coagir muitas pessoas – em nome da boa educação – a resolver problemas e pensar no trabalho inclusive fora de expediente.
Não conseguir separar as diversas esferas da vida tem causado cada vez mais doenças psíquicas aos trabalhadores contemporâneos. Uma delas é a Síndrome de Burnout, que do inglês, significa queimar, pifar. Batizado no Brasil como a Síndrome do Esgotamento Profissional, o distúrbio causa pane física e emocional e uma série de sintomas.
De acordo com o médico psiquiatra Cauê Attab Negrinho, de Lajeado, o distúrbio foi reconhecido em 1974. De lá para cá, foi identificado ao redor do mundo como uma das principais causas de sofrimento dos trabalhadores, sendo no Brasil reconhecido pelo Ministério da Saúde como uma doença do trabalho.
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Segundo pesquisa feita pela International Stress Management Association (Isma), a síndrome atinge cerca de 40% dos profissionais brasileiros em algum momento da vida. “Vivemos num tempo em que a velocidade de comunicação acelera e aumenta a demanda de trabalho, geralmente acompanhada pela pressão por um desempenho perfeito”, afirma Attab.
Para completar, foi constatado que esse quadro é mais comum entre as mulheres. A Isma analisou 183 estudos sobre diferenças de gênero e Burnout em 15 países. Descobriu que entre os afetados pela síndrome, 82% são mulheres. Um resultado por sofrerem as mesmas pressões e estresse que os homens em seus empregos, mas não serem tão reconhecidas e, ainda, viverem uma jornada dupla devido a casa e os filhos.

Pane no sistema

A Síndrome do Esgotamento Profissional é silenciosa e se instala aos poucos. Conforme o psiquiatra, se pode passar por diversas etapas antes de atingir o ápice. “Primeiro a pessoa se sente exausta. Mesmo com o final de semana de folga, volta na segunda-feira ainda muito cansada e, em muitos casos, sonolenta”, descreve.
Junto da exaustão, a fraqueza também se manifesta. Dores musculares e de cabeça, insônia noturna, raciocínio lento e até mesmo depressão formam a segunda etapa da doença. “Em seguida, acontece o distanciamento afetivo, que é quando o profissional “esfria” no trabalho frequentemente se tornando uma figura negativa no ambiente. Quem chegou até aqui já passou da hora de pedir ajuda”, alerta Attab. No final, a produtividade reduz bruscamente e a pessoa passa a sentir que o seu trabalho não tem mais valor.

“Cheguei a me machucar”

A comunicadora Ariana de Oliveira, 32, ainda se recupera da síndrome. Resolveu procurar ajuda quando percebeu que estava se machucando, batendo a cabeça e as pernas. “Tive uma ansiedade generalizada e fiquei muito deprimida. Chegava a chorar ao vivo, enquanto apresentava o meu programa no rádio”, relembra.
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Mesmo percebendo os problemas que tinha, Ariana ainda levou dois meses para procurar ajuda. “Nem sempre é fácil aceitar a condição na qual estamos”, alerta. Tão logo conseguiu, buscou por atendimento especializado dentro da própria empresa. Para ela, o que desencadeia não é apenas um fator, mas sim a soma de diversas esferas da vida.
Em consulta na assistência aos funcionários a jovem recebeu a indicação de procurar um psiquiatra. “Eu estava apática e sem motivação. Tinha ideias suicidas, ficava muito deprimida e me isolava. Chegava a mentir para poder ficar sozinha”, alega. De acordo com a comunicadora, o tratamento é gradativo e lento. “Já faz dois anos que me trato. Agora já consigo desviar das coisas que me irritam. Também me sinto contente, carinhosa e motivada. Começar o tratamento é importante, grande parte da evolução”, aconselha.

“Tive que pedir demissão”

Para o vendedor Lucas, que não quis se identificar, a tensão no trabalho chegou a atrapalhar suas relações familiares. “Estava sempre estressado, respondia a todos de forma ríspida”, relembra. Ao longo dos meses, a situação piorou. Com um grande volume de trabalho e o salário não condizente com as tarefas realizadas, se sentia cansado também nos finais de semana.
Ao chegar no limite do estresse e cansaço resolveu ir ao médico. Recebeu atestado e foi orientado a descansar. “Quando voltei a tensão retornou. Foi quando resolvi pedir demissão”, conta.

Pisando no freio

De acordo com o psiquiatra, um dos principais riscos da síndrome é o uso excessivo de drogas e álcool, que podem causar dependência. “É importante estar em alerta, pois isso agravará ainda mais a condição física e mental do indivíduo”t, adverte.
Para evitar que a síndrome se instale, estabelecer alguns limites é mais do que necessário. “Manter relações saudáveis, ter algum lazer com total desligamento do profissional e praticar atividades físicas é essencial para manter a mente saudável”, indica Attab.
Para quem está de fora, a escuta amiga, apoio emocional e companhia podem amenizar o sofrimento. “Se você ver alguém sofrendo assim por causa do trabalho, incentive essa pessoa a começar pouco a pouco separar as coisas, incluindo o número de telefone, mantendo um para assuntos pessoais e outro para profissionais. Hoje em dia é imprescindível que se tenha controle e se divida bem os assuntos para não acabar doente”, aconselha o psquiatra.

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