O presbítero evangélico Cristiano Costa, 42, foi morador de rua em Lajeado por cerca de seis anos. Ele e a companheira, Cassiana dos Santos, eram usuários de drogas e viviam às margens da sociedade. Hoje são empreendedores na área de prestação de serviços de reformas e pinturas. Por meio da religião, ajudam a resgatar outras pessoas em situações semelhantes
Quais são as piores lembranças que você tem das ruas?
As drogas trazem só lembranças ruins. As piores são depois que a droga termina. Durante o dia, a gente passava o dia correndo em função dela. Depois, percebia que não tinha 10 centavos pra comprar um pão. Aí tinha que ficar pedindo nos restaurantes, lanchonetes, pras pessoas nas ruas. Eu ficava bem agressivo. Eu e minha esposa brigávamos muito. A Brigada e a população conheciam bem a nossa história. Na loucura pela droga, a gente mente, faz coisas erradas. Naquele momento, é tudo normal.
Nas primeiras vezes que catei comida no lixo, ficava envergonhado. Mas depois, já nem me preocupava mais. Só com Deus mesmo pra sair dessa situação.
Onde vocês dormiam?
Não tínhamos lugar certo para dormir. Ficamos um ano num terreno baldio. Nos últimos anos, morávamos junto à concha acústica, no Parque dos Dick. Normalmente, o destino de quem se envolve com as drogas é as ruas, o presídio ou o cemitério. É uma escada para baixo.
Como conseguiram se recuperar?
Tivemos duas tentativas de nos reerguermos. Fizemos tratamentos, mas não duravam mais de dois dias. Para querer uma mudança verdadeira, quem tem problema com drogas aprende que precisa evitar hábitos, pessoas e lugares. Hoje estamos em recuperação graças a isso. A gente só sai de casa para trabalhar ou ir no culto. Temos um grande trauma da noite. Acordamos um dia, com aquela vida sem nada, sem um pão para comer, sem nada em casa porque tínhamos vendido tudo. Foi ali que tomamos a decisão. Procuramos a igreja. E hoje viajo todo o estado pregando a palavra de Deus. Para nós, cada dia é uma vitória.
O que foi determinante para a salvação?
Nos rendemos a Deus. Já tínhamos sido chamados há muito tempo, mas sempre relutávamos. Mas Ele faz as coisas no tempo certo. Nossa experiência hoje serve de testemunho para outros. Quando prego ou palestro em colégios, não quero dizer que sou melhor do que as outras pessoas. Pelo contrário, mostro que fui muito pior do que qualquer um. Se Deus fez isso comigo, pode salvar qualquer um.