Adriele de Almeida, 24, estava desempregada no início do ano. Natural do Pará, ela deixou o norte do país e se mudou para Estrela em fevereiro. “Foi difícil. Tanto a adaptação após a mudança quanto conseguir um trabalho.” No dia 7 de maio, foi admitida em uma indústria alimentícia de Lajeado.
Ingressou em um programa da Secretaria de Desenvolvimento Social, Trabalho e Habitação de Estrela. Passou pelo processo seletivo e foi escolhida. “Nunca tinha trabalhado nesse setor. Estou gostando bastante.”
Também de Estrela, Fábio da Silva Ester, 20, conseguiu o primeiro emprego com carteira assinada faz pouco mais de um mês. Havia servido ao Exército e na volta estava atuando com o pai na construção civil. “É importante estar no mercado formal. Ter a carteira assinada é uma garantia para o trabalhador”, acredita.
Assim como os dois, outras 1,5 mil pessoas ingressaram no mercado formal neste primeiro semestre. Conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a microrregião de Estrela e Lajeado, admitiu quase 21,5 mil pessoas no período. Já as demissões, somaram 19,9 mil. Melhor resultado no mesmo período desde 2014.
De janeiro a junho daquele ano, foram 28,7 mil admissões para 16,3 mil afastamentos. Um saldo de quase 2,4 mil postos. Na série histórica, o pior resultado do Vale foi em 2009, quando apenas dois postos foram criados. Um ano depois foi o recorde positivo, com mais de 5,2 mil postos.
Neste primeiro semestre, dos segmentos que mais empregam (indústria, comércio, construção civil e serviços), a manufatura foi responsável pelo resultado. Entre demissões e contratações, gerou 763 vagas, o que equivale a 50,7%. Em seguida aparece a área de serviços, com uma variação de 534 postos (35,5%). A construção civil teve 138 de saldo (9,1%) e o comércio foi o mais tímido na geração de empregos, com um saldo positivo de 55 (3,6%).
Desconfiança do empresariado
O resultado tímido do comércio é um reflexo da preocupação com os rumos da economia, acredita o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Lajeado (CDL), Heinz Rockenbach. “Neste momento, acreditávamos que estaríamos em outro patamar. O resultado tímido na geração de emprego é um sinal dessa desconfiança dos empresários.”
Apesar da insegurança, não reduzir o número trabalhadores é positivo, avalia Rockenbach. “Sou um otimista. Mas antes, precisamos ser realistas. A economia para o varejo não deu sinal de avanço.”
“Tinder do emprego”
Uma ideia simples, de aproximar empregadores e candidatos por meio de um grupo de facebook, conseguiu interferir nos métodos de seleção. Criada por Fabiano Diehl, que atua como assessor na área digital, o Tinder do Emprego, possibilita que empresários postem vagas e os participantes se inscrevam para as seleções. “Por ali as pessoas se comunicam. Fazem marcações de conhecidos que tenham alguma afinidade com a vaga disponível”, conta. Nesta semana, o canal criado no dia 1º de maio chegou a cinco mil integrantes. “Em pleno século XXI, ainda trabalhamos com currículo impresso. Então resolvi criar esse meio de comunicação totalmente grátis para empresas e trabalhadores.”
Análise prévia
Proprietário de uma construtora, Samuel Portz, usou a ferramenta em busca de pedreiros. Optou por não abrir o nome da empresa antes de ver a reação dos internautas. Assim que chegaram os primeiros interessados, conseguiu fazer uma análise do perfil deles. “Pelo facebook é possível conhecer um pouco da pessoa. Pelas publicações vemos suas preferências, sua religião, seu círculo de amizades.”
A partir disso, entrou em contato com aqueles mais alinhados com os princípios da empresa. “É uma maneira fácil e mais prática do que passar pela burocracia do sistema tradicional”, realça. Na avaliação dele, o mais difícil ainda é conseguir mão de obra qualificada. “Poucos que trabalham na construção civil se interessam em fazer cursos, passar por qualificações e se atualizarem.”
Vagas abertas
Conforme a coordenadora da agência SineFGTAS de Lajeado, Vanderleia Botega, a unidade está com 148 vagas para seleção. De acordo com ela, os empregadores alteraram os critérios de escolha. Alguns anos atrás, o principal era a experiência. Hoje se tornou a rotatividade.
Em seguida, está a escolaridade e a formação técnica. “O Vale tem particularidades. Consegue manter a empregabilidade devido à diversidade econômica.”

Setor do comércio foi o que menos gerou postos de trabalho no primeiro semestre deste ano. Consumo segue em baixa e não encoraja empreendedores para aumentar equipes
Com a missão de ser o elo entre o empregador e o candidato, o Sine de Lajeado está entre as agências de Lajeado com melhor resultado entre o encaminhamento de trabalhadores que conseguem as vagas em aberto. Em janeiro e fevereiro, 269 pessoas passaram para entrevistas com as empresas.
ENTREVISTA
“Não há bala de prata”
Economista chefe da Fundação das Indústrias do Estado do RS (Fiergs), André Nunes de Nunes, avalia o setor de manufatura e alerta: o cenário ainda é de estagnação. Para ele, a tendência é que o processo de retomada da economia permaneça lento neste ano.
A Hora – Qual a avaliação da Fiergs quanto aos primeiros meses do ano?
André Nunes de Nunes – Temos de separar vários aspectos. Uma é o processo de recuperação que vinha tendo uma relativa consistência desde o início de 2017 até a greve dos caminhoneiros. Isso fez com que se voltasse ao patamar anterior. Hoje se mantem estável.
Conforme o IBGE, a produção industrial vem em um crescimento se comparado com o mesmo período do ano passado. Se formos analisar dados sazonais, o momento é de estagnação. Pela expectativa do empresariado industrial, há uma grande frustração, se esperava um melhor resultado.
– Sobre os próximos meses, há possibilidade de melhoria do quadro?
Nunes – São melhores do que temos hoje. Muito em cima da mudança no modelo econômico do país. Os movimentos políticos de reformas, de ser mais competitivo e menos burocrático soa bem aos ouvidos dos empresários. No entanto, o perfil da crise foi muito profunda. Com isso, veio o desemprego, a redução no consumo e o endividamento das famílias.
Não há um único remédio para isso. A possibilidade de reduzir a carga de juros e aumentar o investimento esgotou, pois a principal crise da nação é fiscal. Com esse descompasso, a saída dessa condição é muito lenta. Para o próximo ano, temos uma perspectiva mais otimista. Talvez não na velocidade que se espera.
– Quais medidas podem contribuir para a recuperação industrial do país?
Nunes – Não há bala de prata. Depende de uma série de movimentos. Podemos fazer uma analogia. Temos um balde que ficou vazio. Para encher, é preciso colocar vários ingredientes. Começou com a modernização trabalhista, agora com a reforma da previdência, a Medida Provisória da Liberdade Econômica. Em seguida, a possibilidade do Banco Central reduzir a taxa de juros. A liberação do FGTS não vai trazer um grande impacto, mas se soma às outras. Muitas das decisões estão na direção correta. Isso faz com que se desenhe um cenário futuro um pouco melhor.
FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br