Uma residência na rua Tiradentes, no bairro Porto XV, era para ser um local fora de qualquer suspeita. Na prática, funcionava como estoque para abastecer bocas de fumo em Encantado, Roca Sales e Muçum.
É o que afirma a investigação da Polícia Civil. Em mais uma operação conjunta na cidade, a delegacia e a Brigada Militar uniram esforços para combater o tráfico e a operação de gangues de drogas na região Alta do Vale. “Os criminosos deixavam pequenas quantidades nos pontos de vendas conhecidos para evitar prejuízos”, ressalta o delegado Augusto Cavalheiro.
A operação ocorreu nesse fim de semana. Resultou em apreensão de mais de seis quilos de drogas (maconha, cocaína e crack), balanças de precisão e na prisão em flagrante de um homem de 30 anos. Outro suspeito foi identificado. Em um primeiro momento, sem relação com o crime. Conforme a Brigada Militar, as substâncias estavam escondidas em cima de um roupeiro.
O preso, diz o delegado, era quem buscava o estoque de drogas. As cargas eram estocadas na residência no bairro Porto XV. “Aquela é uma localidade sem histórico de pontos de drogas, justo para dar uma impressão de normalidade”, afirma Cavalheiro. O homem tem uma vasta ficha criminal. Os antecedentes são por roubo, tentativa de homicídio, ameaças, desacato e lesão corporal.
Trabalho integrado
Conforme o delegado, a ação faz parte de uma estratégia de policiamento. Responsável pela investigação na cidade desde outubro do ano passado, Cavalheiro diz que pelo perfil de Encantado, os crimes mais comuns são o tráfico, assassinatos e a presença de grupos criminosos.
A partir disso, BM, PC e a promotoria de Justiça, uniram esforços para coibir esse tipo de ocorrências. “O trabalho começou com a identificação desses suspeitos, com a vinculação com o sistema prisional e os locais onde se tinha informação de tráfico.”
Pelos dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), Encantado registrou 24 assassinatos em pouco mais de quatro anos. Em 2016 foi o recorde de homicídios, com nove ocorrências. A investigação aponta que havia uma rivalidade entre famílias. Esse era o principal fator de violência. A situação mudou a partir de 2016, com a chegada de facções criminosas. Um grupo se aliou a uma dessas famílias e passaram a dominar o tráfico.
Efeito “Casa Pulita”
No dia 24 de maio, a operação “Casa Pulita” (casa limpa, em italiano) resultou no cumprimento de 39 mandados de prisão. Destes, 19 foram de preventivas cumpridas em investigados que estavam em liberdade. O restante se trata de medidas contra suspeitos já detidos. Além disso, duas pessoas foram presas em flagrante.
Pela investigação, os suspeitos têm ligação com uma organização criminosa que passou a atuar na região entre 2016 e 2017.
O inquérito sobre a investigação foi entregue à Justiça. Dos 39 presos, conta Cavalheiro, 35 continuam no presídio. “Nosso primeiro objetivo é cumprir a lei. Não temos a ilusão de que isso vai acabar com o tráfico na região alta. Mas pretendemos reduzir o poder e a área de influência das facções criminosas na cidade. Atacar de modo a não deixar que se estabeleçam com tranquilidade e se fortaleçam pela venda de drogas”, frisa o delegado.
