Grupo quer pertencer a  outro município

MOVIMENTO INUSITADO

Grupo quer pertencer a outro município

Tema surgiu em reunião nesta semana e divide opiniões na localidade com cerca de 60 famílias. Governo de Travesseiro alega “interesse político” e refuta mudanças nas divisas municipais com Arroio do Meio

Grupo quer pertencer a  outro município

A insatisfação faz parcela da população de Cairu se mobilizar para o retorno a Arroio do Meio. A saudade da cidade mãe estaria ligada à falta de manutenção dos acessos e promessas não cumpridas de asfaltamento.
A ideia da transferência de município surgiu em debates no grupo de WhatsApp chamado Pró-Asfalto Cairu. Nessa segunda-feira, 15, cerca de 20 moradores se reuniram para tratar sobre o assunto. À convite da organização, participaram do encontro dois vereadores de Travesseiro e Arroio do Meio.
Considerado líder do movimento, Ricardo Schmidt, 49, relata “abandono” de Cairu, mesmo a comunidade sendo responsável por cerca de 20% do retorno em contribuição (dado não confirmado pela administração municipal). “Fomos esquecidos aqui. Esse movimento também serve para pressionar por melhorias”, argumenta.
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Conforme Schmidt, o desinteresse do Executivo pela localidade é antigo, mas se intensificou nos últimos anos. Principal queixa é a demora na pavimentação dos cerca de quatro quilômetros da estrada geral. “Temos produtores fortes aqui e estamos há anos aguardando essa obra em meio à poeira”, lamenta.
Presidente da Associação de Água de Cairu, Delmar Fucks, 50, também é favorável à transferência. Ele reforça crítica pela falta de manutenção das estradas e acessos. “Tem caminhos que não consegue subir o acesso das propriedades. Daí investimos um monte e o município não faz a sua parte”, sustenta.
Até o momento, os moradores não formalizaram nenhum documento e aguardam contato com políticos para analisar possibilidade de transferência de Cairu. As administração municipais de Arroio do Meio e Travesseiro não foram informadas oficialmente do interesse de mudança.

Opiniões divergentes

O plebiscito para emancipação ocorreu em 10 de novembro de 1991. Travesseiro nascia quatro meses depois, no dia 20 de março de 1992.
Na época, Décio Fucks, 65, era um dos moradores de Cairu contrário a ida da comunidade ao novo município. Hoje, prefere não opinar sobre o movimento. “É indiferente se fizermos parte de um município ou outro. Temos que trabalhar igual”, argumenta.
Na comunidade com cerca de 60 famílias, há também contrários ao retorno para a cidade mãe. É o caso da moradora Leda Kuhn, 68. Na sua opinião, Cairu é bem atendida pela administração de Travesseiro. “Não ter asfalto é ruim. Mas será que se mudando de cidade vamos conseguir isso?”, questiona.

Há conotação política, diz prefeito

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Outros moradores que preferiram não se identificar à reportagem argumentam que a mobilização teria fins políticos. Essa também é a percepção do prefeito Genésio Hofstetter. “Quem quer a saída é meia dúzia de pessoas com conotação política muito clara”, defende.
Hofstetter descarta a possibilidade de Cairu se anexar a Arroio do Meio. Cita o respeito pela comunidade, que segundo o mandatário, é ordeira e trabalhadora. “Fui presidente da comissão emancipadora e sei que não é fácil mudar as divisas. Esse tema é extremamente complexo”, cita.
Sobre a queixa pela falta de asfaltamento na estrada geral, prefeito argumenta que encaminhou ao Legislativo projeto de financiamento para a obra. A proposta era adquirir R$ 2 milhões via Badesul, entretanto os vereadores foram contrários em duas oportunidades. “Tenho que seguir um plano de governo. Se o financiamento for aprovado, a obra sai”, garante.
Na percepção do prefeito, maioria da população de Cairu se sente bem atendida por Travesseiro. Embora não haja planos para o asfalto, ele sustenta investimentos na saúde, educação e agricultura.

“Não existe regulamentação para isso”

Coordenador de assuntos municipais da Assembleia Legislativa do RS, Filipe Etges destaca inexistência de previsão legal para mudança de localidade. “A legislação prevê estudo de viabilidade que deveria ser definido por lei federal. Desde 1996, essa lei não existe”, cita.
Há possibilidade de correção de limites em caso de divisas mal descritas em lei, destaca Etges. Entretanto a mudança apenas pelo interesse da comunidade é inviável. Última alteração de limites no estado ocorreu em 2016, envolvendo os municípios de Santa Maria do Herval e Morro Reuter.

FÁBIO KUHN – fabiokuhn@jornalahora.inf.br

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