Além de fofos e carismáticos, os animais de estimação são capazes de trazer ao lar muito mais do que alegria: eles podem ser sinônimo de saúde.
Com a rotina cada vez mais cheia e estressante, cães e gatos podem ser a dose de alegria necessária para estabilizar o humor. É o que mostra um estudo feito pela Universidade Estadual de Nova York, nos Estados Unidos. O experimento testou os níveis de tensão de pessoas em quatro situações: sozinhas, com um parceiro, com um animal de estimação e com ambos. Os cientistas descobriram, então, que a ocasião de maior tranquilidade foi a passada apenas ao lado do pet.
De acordo com Katiussi Dall’ Agnol, psicoterapeuta da Clínica Núcleo, de Lajeado, os animais podem ser um diferencial no dia a dia das pessoas. “Muitos hospitais inclusive adotam a estratégia de cães terapêuticos na recuperação de pacientes que sofrem de ansiedade e estresse pós-traumático”, explica. Para ela, a interação com animais pode contribuir, já que despertam sentimentos positivos como alegria, carinho e ternura.
No caso da depressão, a anedonia – que se trata da incapacidade de sentir prazer com atividades normalmente agradáveis – é um dos principais sintomas da doença. Conforme Katiussi, para quem normalmente tinha apreço por animais, a presença dos bichinhos acaba forçando o paciente a neutralizar este sintoma a fim de atender às necessidades do pet, como passear, brincar, alimentá-lo, e mantê-lo saudável.
Morando sozinha
Sair da casa dos pais é sempre um grande passo para os jovens. Encarar uma rotina de solitude com toda a independência, mas também responsabilidades de uma casa, pode ser penoso nos primeiros meses. Para a estudante de design de moda Júlia Silva Rosa, 26, a experiência de ficar completamente sozinha desencadeou quadros de tristeza e vazio. “Quando me mudei trouxe meu gato junto, mas como sabemos, eles são muitos apegados ao lugar onde vivem e acabou voltando por conta própria para a casa da minha mãe, o que me fez sentir muito sozinha”, relembra.
Com a casa vazia, a jovem chegou a se questionar se a decisão de morar sozinha tivesse realmente sido boa. “Foi então que decidi passear com meu namorado na sede da Apama, de Lajeado. A ideia não era adotar, mas sim apenas conhecer e estar em contato com animais”, conta. Quando o passeio estava quase no fim, uma surpresa: um cachorro, com medo de pisar no barro, estava parado dentro do canil. Ao chamá-lo e abaixar-se, o cãozinho branco com caramelo pulou no colo de Júlia em um movimento semelhante a um abraço. Dali, o cão foi direto preencher o vazio da casa da jovem.
“Depois que o Marino veio para cá, os meus dias voltaram a ter mais luz. A companhia dele faz muita diferença”, comemora. Uma das mudanças mais notáveis na vida de Júlia foi o ganho de uma rotina. “Ter que passear e cuidar do cachorro faz com que eu me conecte melhor com a realidade e tudo ao meu redor. Ele é um remédio para mim”, afirma.
Decisão cautelosa
Mesmo com todos os benefícios que os animais podem trazer ao humano, essa interação só é benéfica se o indivíduo realmente se interessa por bichinhos. “Ter um cachorro de estimação, por exemplo, apenas beneficia o paciente se ele de fato gosta de animais. Forçar alguém que não gosta a conviver com um acaba desencadeando sentimento de sobrecarga com esse compromisso extra. Nem tudo serve para todos”, indica a psicoterapeuta.
A quem gosta, a presença dos pets é sempre bem-vinda, desde que com cautela. “Ter um pet, embora possa ser terapêutico, não substitui o tratamento junto a um profissional qualificado, apenas complementa e potencializa a melhora. O paciente precisa ser acompanhado adequadamente para garantir o resultado”, alerta.
Tempo bom
A professora de ioga Helen Siqueira, 27, viu a estabilidade de sua vida desabar quando perdeu a mãe, com quem dividia a casa. O tempo passou, mas a dor e sofrimento do luto não diminuía. “Achei que fosse normal, mas algumas amigas me convenceram a procurar apoio psicológico. Só fui, de fato, quando uma delas marcou e me obrigou a ir”, relembra.
A solidão foi logo constatada pelo profissional que atendia Helen. Com o perfil de uma pessoa de poucos amigos e vida social pouco agitada, a professora foi surpreendida pelo psiquiatra ao sugerir que adotasse um cachorro. “Eu achei loucura. Era só mais uma coisa para me preocupar. Comentei com as minhas amigas e dei risada”, conta.
Cerca de um mês depois, no seu aniversário, Helen ganhou um presente conjunto das quatro amigas. Ao abrir a caixa, um filhote de Beagle latia e chorava. “O meu coração se encheu de amor na hora. Fiquei muito feliz e comovida com aquele filhote”, se emociona.
Os dias de convivência estreitaram os laços entre a jovem e o cachorro. Com auxílio do psiquiatra, aos poucos foi deixando de lado os remédios e assumindo obrigações com o cachorro ao definir uma rotina de saídas e cuidados. “Nunca mais fui a mesma desde a chegada do meu Beagle, o Manjericão. Sei que ele não dura para sempre mas a cura que ele me trouxe deixará marcas para o resto da minha vida”, compartilha.
Pet é pet
Mesmo com todo o mercado disponível para mimar e cuidar dos pets, é preciso ter bom-senso para não tentar “humanizá-los”. Mesmo sendo parte importante do dia, os animais não devem substituir a interação entre humanos. “Quando os donos começam a evitar relações sociais por causa do pet, já é um sinal de alerta”, afirma a psicóloga.
O apego aos bichinhos pode prejudicar a interação entre humanos quando o indivíduo sofre de alguma doença psicológica. “Muitas vezes, devido a sentimentos negativos vivenciados em uma relação amorosa, por exemplo, o medo de se envolver, se expor, desapontar e ser desapontado, bem como do próprio abandono ou solidão, fazem com que estes animais funcionem como uma fuga, onde seus donos possuem a falsa sensação de terem supridos suas necessidades de carinho e afeto”, explica. Humanizar o animal pode fazê-lo perder sua identidade e criar dependência do dono. “O ideal é ter a companhia do bichinho mas também ter apoio psicológico para que essa relação seja usada em benefício da melhora e não como fuga”, sugere.