Ajude mesmo sem ter

Opinião

Ajude mesmo sem ter

O dia em que as pessoas perceberem que caridade em troca de aplauso não é caridade teremos dois possíveis cenários: um mundo mais igual, humano e respeitoso ou apenas dois ou três gatos pingados que realmente fazem o bem sem olhar a quem.
Trabalhar com a vulnerabilidade de alguns grupos sociais me fez conhecer o lindo e encantador mundo do trabalho voluntário e, também, o obscuro lado de muitas pessoas que não movem uma palha se não estiverem sendo fotografadas.
Os dias de frio das últimas semanas desencadeou a sensibilidade em muitos de nós. Doações, plantões, sopas comunitárias, horas de serviço e o olhar atento transformavam a energia da cidade em algo que eu julgo estar muito próximo do divino. Junto disso tudo, também a apreensão em saber que outras tantas pessoas sem voz passavam frio em algum lugar da cidade.
O que me intriga nisso tudo é que a lei do esforço mínimo realmente funciona quando o assunto é ajudar. Juro! E mesmo assim muitos não querem se mobilizar. Um exemplo rápido: uma senhora me abordou no mercado e pediu se poderia comprar feijão e arroz para ela. Comprei. Gastei incríveis quinze reais e outros quinze em itens que ela tinha vergonha de pedir. No final ela perguntou se eu tinha algum cobertor sobrando e calcinhas que não usava mais (!!!). E o que eu fiz? O “grande” esforço de mandar um Whatsapp no meu grupo de colegas de trabalho e família e pedir se mais alguém tinha doações. O resultado: oito cobertores, duas mochilas, roupas e dez calcinhas novas.
O meu “esforço”, então, foi mandar duas mensagens no Whatsapp, recolher tudo na manhã seguinte e levar para aquela senhora, mãe de quatro filhos. Aprendi (somente) neste ano que ajudar não exige dinheiro e horas e horas de tempo. Exige apenas três coisas: vontade, atitude e energia. “Ah mas eu não tenho tempo”. O que falta é vontade. “Ah mas eu não tenho dinheiro”. O que falta é atitude. “Mas eu não tenho o que doar”. Doe a sua energia.
Fazer o bem ao próximo sempre nos dá presentes em troca: satisfação, orgulho, autoestima, noção e gratidão sobre aquilo que temos e somos, recebemos amor, respeito, admiração. Qualquer ação feita para beneficiar a própria vaidade com toda certeza está sendo feita com o propósito errado, mesmo que beneficie alguém. A velha máxima continua verdadeira, o que a mão direita faz, a esquerda não precisa ficar sabendo. Por que como disse sabiamente Carl Jung, “conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana”.
Aposte na própria capacidade de ajudar o outro mesmo não se tendo nada ou muito pouco. A solidariedade sempre partirá do coração. O dinheiro ajuda, mas a atitude é o que realmente transforma. Desejo a você um excelente final de semana, com um desafio: apure o seu olhar, perceba melhor o mundo ao seu redor. Você sempre pode fazer alguma coisa, nem que seja dar um sorriso sincero a um morador de rua. Compartilhe a luz de sua alma. Somos todos pedacinhos de Deus.

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