Harle Germano Weidle, proprietário da agroindústria Mel Primavera, contabiliza uma quebra expressiva nas 270 caixas alojadas no município de Bom Retiro do Sul. Entre os motivos enumera a floração do eucalipto com pouco néctar, o agrotóxico utilizado nas lavouras de soja, que é o 2.4 D e o clima desfavorável no mês de janeiro, quando choveu 20 dias e com isso o ciclo das flores foi reduzido. “O normal é colher 40 quilos por colmeia. Ficou pela metade e muitas abelhas morreram”, lamenta.
Embora descarte a falta do produto nos próximos meses, torce por uma boa produtividade na safra de primavera. “Ainda tenho estoque, mas se tivermos mais um ciclo ruim, vai faltar para atender a demanda”, adianta. O quilo é vendido por R$ 20 em feiras por todo estado.
Para garantir uma boa alimentação às abelhas no inverno, Weidle evitar retirar todo mel das colmeias. A estratégia, segundo ele, é uma forma dos animais terem comida, caso for registrado excesso de chuva ou pouca oferta de alimento, na natureza.
Outra saída para amenizar a perda de enxames, é alojar as caixas longe das lavouras de grãos. “O vento transporta o veneno por longas distâncias e a abelha é atraída pelas flores. Intoxicada ela volta e contamina as demais”, observa.
Agrotóxicos preocupam
A Federação Apícola do Rio Grande do Sul (Fargs) estima uma quebra expressiva na safra, de até 60%. De acordo com o presidente Anselmo Kuhn, as condições climáticas, casos de morte e enfraquecimento das colmeias devido à aplicação de agrotóxicos estão entre as principais causas do resultado negativo.
No ciclo passado foram colhidas em torno de 8,5 mil toneladas (soma das colheitas de outono e primavera). O assistente técnico regional das áreas de Apicultura e Meliponicultura da Emater/RS-Ascar, Paulo Conrad, compartilha da mesma opinião.
“Tivemos um ano de muita chuva na primavera e no outono, que são as épocas das melhores florações para produção de mel.
Também soma-se a isto a agressividade dos agrotóxicos utilizados em algumas culturas que enfraquecem nossos enxames”, lamenta.
Para Conrad, o clima seco e temperaturas altas no mês de junho ajudaram as abelhas. Para auxiliar a manter os enxames, recomenda cuidado com a alimentação. “Pode-se fornecer xarope (50% de água e 50% de açúcar) ou açúcar puro e seco direto na colmeia”, ensina.
Cita a importância do produtor conhecer a vida das abelhas e a natureza da região onde mantém suas colmeias para poder interferir e ajudar no momento certo e de forma adequada. “Muitos apicultores estão na atividade e agem apenas por instinto, sem base de conhecimento”, constata.
Consumo baixo
Mesmo com a safra menor, Kuhn constata que os preços estão estagnados. No mercado interno, o valor do quilo do mel mantém-se na casa dos R$ 20 para o consumidor final, preço remunerador, de acordo com o dirigente.
Já, para o produto destinado à exportação a cotação gira em torno dos R$ 6, metade dos R$ 12 registrados no outono passado. “Os mercados importadores estão bastante retraídos. O consumo de mel está baixo. Talvez com a entrada dos dias mais frio, melhore”, observa. Estados Unidos e Europa são os maiores compradores.
São mais de 37 mil produtores que cuidam de 488 mil colmeias. O Estado é o maior consumidor de mel do país, com média per capita de 120 gramas por ano.