Entre os grupinhos que se formavam na Praça Matriz após a missa dominical, em meados da década de 60, não se falava de outra coisa: Lajeado acabara de ganhar sua primeira piscina. A atração fazia parte da nova sede do CTG Bento Gonçalves, que havia se mudado de um galpão nos fundos da Arla para um amplo terreno próximo ao Parque dos Dick.
Quem acompanha de perto toda a trajetória do CTG mais antigo do Vale é a professora Marilda Dolores Oliveira. Nascida em abril de 1954, praticamente desconhece o mundo sem o Bento, que foi fundado em 12 de julho do mesmo ano. Não por acaso, já está em sua quinta gestão como patroa (uma, em caráter emergencial).
Da época em que a entidade lotava de pessoas em busca de lazer e, talvez, até de uma aula de natação, ela lembra muito bem das dificuldades. Por vezes, o terreno doado pelo ex-prefeito Bruno Born foi tomado pelas cheias. A mais cruel aconteceu em 2011, e culminou em interdição.
O novo galpão foi inaugurado em 2013, no atual endereço, no bairro São Bento. Nesse intervalo sem atividades artísticas, muitos sócios perderam o vínculo com a entidade. Marilda ajudou a reerguê-la outra vez. Hoje, há 80 associados. “O Bento tem uma história muito bonita para deixar morrer.”
No ano passado, Marilda foi diagnosticada com câncer de mama. Durante todo o tratamento, até a remoção do nódulo, recentemente, a patroa contou com o apoio da gauchada, além da família e alunos. “O médico disse que foi isso de estar de bem com a vida e no meio das pessoas que me deu uma recuperação fantástica.”
Alma Xucra na voz rouca
O empresário Nilso Luiz Zanatta, 58, ajudou a construir a história de vitórias do CTG em 1982. Apaixonado por poesias, representou a entidade no VI Festival Estadual de Arte Popular e Folclore (versão antiga do Enart), naquele ano sediado pelo município de Canguçu.
A estadia consistia em acampamento, com direito a fogueira e música. Zanatta passou a véspera cantando e tocando violão com os amigos. Mas ele não previu que aquele esforço banal iria favorecer o competidor de Santa Maria. “Fiquei triste porque o juiz disse que, se eu não estivesse rouco, teria ganhado.” Pela declamação de Alma Xucra, Zanatta garantiu o segundo lugar.
Na mesma edição, o Bento foi vice-campeão de trova, com Erli Bach, o “Gordo”. Ambos foram apadrinhados pelo acordeonista Oscar Blum.
Quem também lembra daqueles tempo é Wilson Jacques, 82. A convite de Rui Lopes, com quem tinha parentesco, Jacques, então com cerca de 20 anos, foi o primeiro secretário do CTG. Apesar de ser mais entendido da parte administrativa, não deixava de aproveitar os fandangos e tertúlias, ao lado da esposa, Líria Jacques, 82. “A gente fazia muitas jantas com os amigos”, lembra.
Primeira prenda
A professora aposentada Nelsy Cattoi Conte, 82, foi a primeira 1ª prenda do CTG, em 1955. Como a entidade ainda estava se formando, não houve eleição, e sim um convite da patronagem. Ela ainda lembra da visita de Rui Lopes, Carlos Vale e Bernardinho Pinto. O trio, à frente da causa gauchesca, foi até a casa dos pais da moça pedir o envolvimento da família.
A partir de então, os ensaios para a coreografia do pau de fita, da chimarrita e do pezinho passaram a integrar a rotina juvenil. A confecção dos vestidos era momento de euforia das meninas. Elas mesmas desenhavam o traje, sempre cheio de fitas, babados e saias de armação. “A gente deixava a costureira quase louca!”
Nena, como é conhecida, casou jovem e, de forma natural, os compromissos com os filhos e com a carreira de historiadora substituíram o tempo dedicado ao CTG. Nem por isso, deixou de sentir orgulho da entidade. “É das melhores lembranças da minha adolescência. Qualquer notícia do Bento e eu fico de orelha em pé.”
GESIELE LORDES – gesiele@jornalahora.inf.br