Mais de 260 mil veículos para vias do século passado

Gargalos da região

Mais de 260 mil veículos para vias do século passado

Em 12 anos, frota da região cresceu 43%. Por outro lado, a infraestrutura viária não acompanhou essa expansão. Como consequência, ruas e rodovias se tornam obsoletas. Com uma frota em crescimento e uma infraestrutura insuficiente, pelo menos seis pontos críticos ocasionam engarrafamentos e fluxo lento nos horários de pico

Mais de 260 mil veículos para vias do século passado

O frentista José Mantovani, 68, mora no bairro Olarias e precisa atravessar a BR-386 todos os dias para trabalhar. Sai de casa antes das 5h para abrir o posto nas proximidades de Conventos. “Às vezes fico parado 15 minutos.”
Do outro lado da cidade, por volta das 18h30min, a estudante Kerolyn Cardozo, 26, se desloca a pé até o Posto do Arco e passa pela ERS-130 congestionada para embarcar na van e ir à Uergs em Encantado. “É complicado. A tranqueira vai até Arroio do Meio. Ficamos parados na rodovia por quase 15 minutos”, diz.
Já o industriário César Vieira, 33, se arrisca entre os carros para chegar e sair do trabalho. Todos os dias, vai do Moinhos D’Água até a empresa, passando pela rótula da ERS-130, nas imediações da BRF.
Em comum, os três identificam os momentos em que as ruas e rodovias da região não comportam o excesso de carros. “Nos horários de pico, é complicado tanto para o motorista quanto para o pedestre”, reconhece César.
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O tempo perdido no trânsito ainda está distante do visto no eixo Rio-São Paulo. Estima-se que, por dia, os condutores do centro do país ficam pelo menos uma hora presos no trânsito. Ainda assim, frente ao crescimento da frota, a tendência é de aumento nos locais de engarrafamentos.
Esse trânsito lento, constante e conflitante, comum nas metrópoles, dá mostras cotidianas nas maiores cidades do Vale, em especial naquelas cortadas por rodovias de alto fluxo. Em Lajeado, município com 24,9% de toda frota veicular da região, os engarrafamentos e as dificuldades de travessia para pedestres se tornaram recorrentes no início da manhã e no fim da tarde.

Falta de planejamento

Para o professor de Arquitetura e Urbanismo da Univates, Augusto Alves, a situação enfrentada por pedestres e motoristas tem como origem a falta de uma política de planejamento urbano ao longo do tempo. “A cidade cresce sem algumas medidas importantes. Sem se preparar para os desafios gerados pelo aumento da população e de densidade das áreas centrais.”
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Como a mobilidade urbana não foi pensada como um todo e as melhorias são feitas apenas em questões pontuais de trânsito, como mudanças no sistema viário. “As propostas que surgem nunca tocam nas questões centrais que são as formas como nos deslocamos. O uso do carro não é questionado, pelo contrário, é considerado como o meio de transporte hegemônico. Na medida em que mais pessoas começam a comprar esses veículos, o trânsito se inviabiliza.”
Para o professor, as cidades têm chance de mudar esse quadro com uma revisão profunda dos planos diretores e também dos planos de mobilidade urbana. “Não é viável resolver essas questões apenas com obras viárias, mesmo que elas sejam muito importantes.”
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Na avaliação dele, é preciso ir na “raiz do problema” e rever hábitos. “Essa cultura do automóvel reflete nas decisões políticas urbanas que só privilegiam o transporte individual.”

Lajeado: 0,79 veículo por habitante

 
Com mais de 80 mil habitantes, conforme estimativa do IBGE de 2018, Lajeado contabiliza mais de 66 mil veículos. Significa que a cada dez pessoas, há mais de sete veículos. É um dos maiores índices do RS.
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A consequência disso está no número de gargalos no fluxo. Dos nove pontos críticos, cinco são na cidade. Ficam na Av. Senador Alberto Pasqualini, do centro à Univates, no fim da duplicação da BR-386, em dois pontos da ERS-130 (Posto do Arco e na BRF) e na ligação entre os bairros Florestal e Montanha.
“Temos problemas em determinados horários. Um dos mais complicados de resolver é o da Pasqualini. Estamos buscando novos acessos aos bairros para minimizar esse impacto”, afirma o coordenador de Projetos Especiais do governo de Lajeado, Isidoro Fornari.
No trecho urbano, nas proximidades da rodoviária, ele afirma que a ampliação do viaduto sobre a ERS-130 trará um resultado satisfatório para o fluxo. “Ali é mais simples de resolver, serão quatro faixas que vão terminar com o afunilamento em direção ao Montanha.”
Os demais locais, dependem de ações de outras instâncias. Na ERS-130, o projeto de um viaduto nas imediações da BRF está em análise da EGR. Já na BR-386, a concessão da rodovia prevê melhorias a partir de 2021.

Fluxo pesado dentro da cidade

Estrela é a segunda cidade da região em número de veículos. Conforme o Detran, se aproxima de 25 mil para quase 34 mil habitantes. Por outro lado, o maior impacto está na ligação da ERS-453 com o bairro Boa União.
Caminhões vindos da Rota do Sol e que precisam ingressar na BR-386 se misturam ao trânsito urbano e causam engarrafamentos. “Estamos trabalhando para desafogar o trânsito pesado pelo Boa União. Temos um projeto de um trevo pela João Fell. Com essa obra, não será mais preciso entrar no bairro”, diz o secretário de Planejamento Paulo Fink.
Outra dificuldade fica na área central. Faltam vagas de estacionamento e há dificuldade de fluxo no entrocamento da rua Marechal Floriano com a Coronel Mussnich.
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FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br

 

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