O frentista José Mantovani, 68, mora no bairro Olarias e precisa atravessar a BR-386 todos os dias para trabalhar. Sai de casa antes das 5h para abrir o posto nas proximidades de Conventos. “Às vezes fico parado 15 minutos.”
Do outro lado da cidade, por volta das 18h30min, a estudante Kerolyn Cardozo, 26, se desloca a pé até o Posto do Arco e passa pela ERS-130 congestionada para embarcar na van e ir à Uergs em Encantado. “É complicado. A tranqueira vai até Arroio do Meio. Ficamos parados na rodovia por quase 15 minutos”, diz.
Já o industriário César Vieira, 33, se arrisca entre os carros para chegar e sair do trabalho. Todos os dias, vai do Moinhos D’Água até a empresa, passando pela rótula da ERS-130, nas imediações da BRF.
Em comum, os três identificam os momentos em que as ruas e rodovias da região não comportam o excesso de carros. “Nos horários de pico, é complicado tanto para o motorista quanto para o pedestre”, reconhece César.
O tempo perdido no trânsito ainda está distante do visto no eixo Rio-São Paulo. Estima-se que, por dia, os condutores do centro do país ficam pelo menos uma hora presos no trânsito. Ainda assim, frente ao crescimento da frota, a tendência é de aumento nos locais de engarrafamentos.
Esse trânsito lento, constante e conflitante, comum nas metrópoles, dá mostras cotidianas nas maiores cidades do Vale, em especial naquelas cortadas por rodovias de alto fluxo. Em Lajeado, município com 24,9% de toda frota veicular da região, os engarrafamentos e as dificuldades de travessia para pedestres se tornaram recorrentes no início da manhã e no fim da tarde.
Falta de planejamento
Para o professor de Arquitetura e Urbanismo da Univates, Augusto Alves, a situação enfrentada por pedestres e motoristas tem como origem a falta de uma política de planejamento urbano ao longo do tempo. “A cidade cresce sem algumas medidas importantes. Sem se preparar para os desafios gerados pelo aumento da população e de densidade das áreas centrais.”
Como a mobilidade urbana não foi pensada como um todo e as melhorias são feitas apenas em questões pontuais de trânsito, como mudanças no sistema viário. “As propostas que surgem nunca tocam nas questões centrais que são as formas como nos deslocamos. O uso do carro não é questionado, pelo contrário, é considerado como o meio de transporte hegemônico. Na medida em que mais pessoas começam a comprar esses veículos, o trânsito se inviabiliza.”
Para o professor, as cidades têm chance de mudar esse quadro com uma revisão profunda dos planos diretores e também dos planos de mobilidade urbana. “Não é viável resolver essas questões apenas com obras viárias, mesmo que elas sejam muito importantes.”
Na avaliação dele, é preciso ir na “raiz do problema” e rever hábitos. “Essa cultura do automóvel reflete nas decisões políticas urbanas que só privilegiam o transporte individual.”
Lajeado: 0,79 veículo por habitante
Com mais de 80 mil habitantes, conforme estimativa do IBGE de 2018, Lajeado contabiliza mais de 66 mil veículos. Significa que a cada dez pessoas, há mais de sete veículos. É um dos maiores índices do RS.
A consequência disso está no número de gargalos no fluxo. Dos nove pontos críticos, cinco são na cidade. Ficam na Av. Senador Alberto Pasqualini, do centro à Univates, no fim da duplicação da BR-386, em dois pontos da ERS-130 (Posto do Arco e na BRF) e na ligação entre os bairros Florestal e Montanha.
“Temos problemas em determinados horários. Um dos mais complicados de resolver é o da Pasqualini. Estamos buscando novos acessos aos bairros para minimizar esse impacto”, afirma o coordenador de Projetos Especiais do governo de Lajeado, Isidoro Fornari.
No trecho urbano, nas proximidades da rodoviária, ele afirma que a ampliação do viaduto sobre a ERS-130 trará um resultado satisfatório para o fluxo. “Ali é mais simples de resolver, serão quatro faixas que vão terminar com o afunilamento em direção ao Montanha.”
Os demais locais, dependem de ações de outras instâncias. Na ERS-130, o projeto de um viaduto nas imediações da BRF está em análise da EGR. Já na BR-386, a concessão da rodovia prevê melhorias a partir de 2021.
Fluxo pesado dentro da cidade
Estrela é a segunda cidade da região em número de veículos. Conforme o Detran, se aproxima de 25 mil para quase 34 mil habitantes. Por outro lado, o maior impacto está na ligação da ERS-453 com o bairro Boa União.
Caminhões vindos da Rota do Sol e que precisam ingressar na BR-386 se misturam ao trânsito urbano e causam engarrafamentos. “Estamos trabalhando para desafogar o trânsito pesado pelo Boa União. Temos um projeto de um trevo pela João Fell. Com essa obra, não será mais preciso entrar no bairro”, diz o secretário de Planejamento Paulo Fink.
Outra dificuldade fica na área central. Faltam vagas de estacionamento e há dificuldade de fluxo no entrocamento da rua Marechal Floriano com a Coronel Mussnich.
FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br