Acidente com morte expõe carência de efetivo na PRE

Rodovias estaduais

Acidente com morte expõe carência de efetivo na PRE

Policiais de Taquari trafegaram 73 km para atender colisão entre uma motocicleta e um carro na Rota do Sol, entre Teutônia e Boa Vista do Sul

Acidente com morte expõe carência de efetivo na PRE

A colisão entre uma motocicleta e um automóvel Onyx, de Candelária, mais uma vez expôs a falta de efetivo no pelotão rodoviário da Brigada Militar. O acidente foi na ERS-453 (Rota do Sol), entre Teutônia e Boa Vista do Sul.
As guarnições mais próximas, como a de Teutônia (24 km do local do acidente), Encantado (44 km) e Cruzeiro do Sul (51 km), não tinham agentes para atender o acidente. Com isso, um policial de Taquari, que fica a 73 km do local, precisou ser deslocado.
Na manhã de ontem, por volta das 10h, se acontecesse outro acidente na Rota do Sol, a história se repetiria. No posto de Teutônia havia apenas um agente em serviço. A Polícia Rodoviária Estadual (PRE) está com a maior defasagem de pessoal da história.
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Estima-se que a corporação encerrou 2018 com menos de mil servidores nos 38 postos de fiscalização dos três batalhões divididos pelo RS. Nas unidades da PRE na região, a situação é semelhante.
Por vezes há um policial por turno nos postos. O ideal são três pessoas, um para ficar no plantão e dois na viatura. “As pessoas só ficam sabendo o quanto está difícil quando ligam para nós e não temos como atender”, desabafa um policial.
Conforme o presidente da Associação dos Sargentos, Subtenentes e Tenentes da BM (ASSTBM), Aparício Costa Santellano, o número de servidores no quadro da PRE é o menor dos últimos 50 anos.

Rotina nos postos

No ano passado, eram pouco mais de 600 policiais. “Hoje é menor. O déficit de policiais supera os 50%”, afirma Santellano. Para o presidente da associação, o fato dos policiais terem se deslocado para atender ocorrência fora de sua área é uma constante no pelotão rodoviário.
Para ele, a situação atual é um retrato dos erros cometidos ao longo de vários governos. “Nunca houve planejamento para repor os efetivos. Hoje se fala que há mais policiais na reserva do que na ativa. Isso é resultado dos erros das gestões públicas.”

O engenheiro civil Vinícius Reckziegel morreu na tarde desse sábado após bater de frente em um automóvel

O engenheiro civil Vinícius Reckziegel morreu na tarde desse sábado após bater de frente em um automóvel

O acidente

Pelos relatos iniciais, o condutor da motocicleta, Vinícius Reckziegel, 30, teria invadido a pista contrária após uma curva e batido de frente no veículo que vinha em sentido oposto. Ele morreu na hora. Outras três pessoas, ocupantes do automóvel, ficaram feridas.
A colisão foi no quilômetro 73, próximo ao acesso a Boa Vista do Sul. Reckziegel era de Teutônia e era formado em Engenharia Civil. Ele deixa a esposa e um filho.

Entrevista

 “Estamos com um déficit de 62%”

Comandante estadual da Polícia Rodoviária Estadual, o coronel José Henrique Botelho, confirma a defasagem de pessoal. De acordo com ele, a tendência é de reforço no quadro funcional com a formatura dos novos militares, prevista para agosto.
A Hora – Estimativas apontam que a PRE tinha pouco mais de 610 policiais no ano passado. Isso seria o equivalente a 40% do necessário para atuar na malha rodoviária estadual de 11 mil quilômetros. Como está esse quadro hoje em dia? Qual o efetivo atual?
José Henrique Botelho – Essa defasagem continua. Na verdade, aumentou um pouco. Estamos com um déficit de 62%. Embora tenhamos recebido efetivo ao longo do ano, se tratam de policiais mais antigos e que supriram aqueles que foram à reserva. Nosso efetivo atual está entre 580 a 585 servidores.
– Com esse déficit histórico, quais as dificuldades enfrentadas pela PRE? Quais estratégias são adotadas para dirimir esse quadro?
Botelho – Para responder, temos de dividir entre o operacional e a produtividade. No primeiro, sem dúvida, o atendimento é afetado. Temos alguns grupos no RS sem o suficiente para manter o serviço 24h por dia.
Sem uma viatura rodando pela rodovia, é preciso suprir com grupos de outros pontos. Isso resulta em uma área maior de patrulhamento. Se tivermos dois acidentes em uma mesma região, teremos de deslocar efetivo de outras cidades.
A partir disso, uma viatura mais distante demora mais para chegar. Então nos socorremos do policiamento urbano. O cidadão não deixa de ser atendido. A Brigada Militar chega, chama o socorro quando precisa, faz os primeiros contatos. Se há morte, já chama a perícia.
Na produtividade, não há impacto negativo com a redução do efetivo. Isso não quer dizer que está tudo bem, mas nossa produtividade aumentou. O motivo é o melhor aparelhamento. Temos radares novos, etilômetro, multas eletrônicas.
Tanto é que, desde 2009 temos uma redução no índice de acidentes fatais. Neste ano, por exemplo, a projeção é ficar abaixo da média histórica de mortes nas estradas.
Com a formatura de mais policiais militares, prevista para agosto, há algum indicativo de reforço à corporação? Como estão essas tratativas?
Botelho – Desde a inclusão das turmas de novos soldados, em outubro do ano passado, estamos em tratativas com o comando geral da BM para receber um reforço do efetivo.
O comando se sensibilizou e em razão disso, temos um indicativo de reforço de pessoal após a formatura, mas não temos um número de quantos vamos receber. Acreditamos que teremos condições de colocar uma guarnição de serviço 24h em cada um dos comandos da PRE no Estado.

FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br

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