Artur Lucildo Trindade tinha 17 anos em dezembro e não imaginava ter um filho com essa idade. A namorada, com 13 anos na época, muito menos. Então vieram os enjoos e a menstruação atrasou. No dia 28, três dias depois da adolescente completar 14 anos, um exame de farmácia comprovou a gravidez. O jovem casal ainda fez outro teste, desta vez no Posto de Saúde do bairro São Cristóvão, para comprovar que seriam pai e mãe de forma precoce.
Passado o susto, começou o pré-natal. No dia 26 de abril, foram ao posto de saúde e outra surpresa. “Você está grávida de gêmeos”, informou o médico. “A barriga estava pequena, mal se via. Nem parecia que havia um bebê”, recorda a mãe.
Após 30 semanas de gestação, o casal foi surpreendido com o rompimento repentino da bolsa. Era quinta-feira de Corpus Christi, 20. A jovem foi levada às pressas para o Hospital Bruno Born (HBB). Em ecografia para identificar posição dos bebês, nova descoberta: havia um terceiro feto no útero da jovem.
Prematuras de sete meses e com cerca de 900 gramas cada. Assim vieram ao mundo as três meninas. O parto, finalizado seis minutos depois da meia-noite de sexta-feira, 21, foi rápido. Durou cerca de 40 minutos e reuniu nove profissionais médicos.
“Só acreditei que havia três dentro de mim quando vi os médicos tirarem elas da barriga”, confessa a mãe. Artur reforça o sobressalto. “Fui ver os bebês na UTI. Antes estava duvidando que eram três”, complementa.
Os nomes Maria Sofia, Maria Eduarda e Maria Clara refletem a proximidade do jovem casal com a religião. As três Marias, como ficaram conhecidas, despertam a curiosidade de familiares e amigos. A visita ainda é restrita por questões de saúde.
“Todos querem ver fotos delas, mas ainda não podemos tirar”, comenta o pai.
Na quinta-feira, 27, as trigêmeas seguiam na UTI hospitalar. Duas já respiram sem aparelho. A terceira tomava antibiótico, mas apresentava estado estável. Elas ganham alta nas próximas semanas quando pesarem dois quilos cada.
Uma nova mãe para a mãe

Avó paterna busca guarda da nora e abriga o jovem casal após o nascimento das trigêmeas
O jovem casal mostra-se empolgado e feliz com a futura vida em família. Mas como irão garantir o sustento das trigêmeas ainda é uma incógnita. Artur saiu do emprego em uma fábrica de calçados para auxiliar na gestação e está desempregado.
A mãe de 14 anos ainda não concluiu o ensino fundamental. Registrada no nome da avó, com pais separados e ausentes, foi acolhida pela família de Artur. Desde o início do namoro, em novembro, morava na casa do sogro, Darlan Trindade.
Com o nascimento das três meninas, mudou-se para a casa da sogra Zenaide Wendt, no Centro de Lajeado. Lá o casal escolheu para ser o primeiro lar das recém-nascidas. Para Zenaide, as três Marias são “presentes de Deus” e preenchem um desejo antigo. “Sempre quis uma menina. Mas tive três filhos homens. Deus mandou elas para que eu ajude a cuidar”, acredita.
A avó paterna foi a primeira familiar a ver as três Marias depois dos pais. O sentimento permanece guardado na memória. “Me deu uma sensação estranha. Senti que precisava agir. Precisava ajudar a amparar elas. Se não fizer isso, para onde elas irão?”, comenta.
Nesta semana, Zenaide iniciou a busca pela guarda da nora no Conselho Tutelar. O processo segue ao Juizado da Infância e Juventude.
“O estatuto tem como princípio o melhor interesse da criança. Nesse caso, temos uma adolescente e três crianças. Então temos que compatibilizar o melhor para esses quatro seres em desenvolvimento”, explica o promotor da Infância de Lajeado, Sérgio Diefenbach.

De acordo com ele, a capacidade de acolhimento dos adultos em volta das crianças será analisada para definir o melhor lar aos menores de idade.
Impacto na escola
Surpresa. Foi esse o sentimento na Escola Estadual Otília Correa de Lima após a confirmação que a estudante do 6° ano teve trigêmeas. A direção escolar soube do nascimento das três meninas após postagens de campanhas nas redes sociais.
Classificada como uma menina querida pelos professores, a jovem mãe deixou os estudos temporariamente após a gravidez. Ela já ganhava atenção especial e conselhos em função de faltas frequentes e da situação familiar complicada. “Temos esse cuidado de olhar com atenção os alunos e orientar em casos específicos”, ressalta a diretora Rosângela Kniphoff da Cruz.
O escola já trabalha temas relacionados à sexualidade nas aulas de ciências e realiza palestras frequentes com os profissionais de saúde. A gravidez dos trigêmeos reforça a necessidade desse trabalho, acredita a supervisora Maristela Juchum. “O fato pode inspirar novas ações e servir de reflexão aos alunos”, percebe.
Índice preocupante
A incidência de gravidez na adolescência em Lajeado é considerado alto. “Além dos desafios socioeconômicos, existe toda a questão psicológica. O casal que engravida cedo precisa deixar de ser filho e aprender a ser pai e mãe”, resume a coordenadora do Centro de Referência da Assistência Social (Cras) do Centro, Fátima Luciane Leal.
Campanhas de conscientização quanto à sexualidade e aos métodos contraceptivos são realizadas pela Assistência Social. Porém, Fátima destaca que nem sempre as famílias acessam os aconselhamentos por não estarem cadastradas no serviço ou por desinteresse.
Duas ações são citadas pelo promotor Diefenbach para reduzir casos de gravidez na adolescência: o combate à evasão escolar e o aumento dos debates sobre educação sexual na sala de aula. “Em todas as pesquisas feitas no mundo, o grande fator de redução da gravidez precoce é a educação da mãe. Quanto mais as meninas permanecem na escola, menor é o índice de gravidez”, argumenta.
O promotor frisa ainda que a incidência da gravidez precoce está ligada à estrutura familiar. Segundo ele, é difícil interromper a repetição de ciclos negativos registrados de geração em geração. Ou seja, filhos criados em um ambiente familiar conturbado tendem a gerar novas famílias desestruturadas.
FÁBIO KUHN – fabiokuhn@jornalahora.inf.br