Quem percorre os arredores do Centro, ou apenas conversa com quem costuma almoçar fora, já deve ter escutado falar da à la minuta do Chico. A qualidade da comida tipicamente brasileira fez com que o estabelecimento familiar ganhasse fama na região.
Quando questionado sobre o segredo do prato, Chico tem uma resposta direta: é uma comida simples, mas bem feita, e sempre preparada no dia. “Nada é requentado. Eu prefiro dizer que não tenho do que servir algo que eu não comeria”, comenta.
Aliás, o nome do homem por trás do prato nem mesmo é Francisco. Quem comanda o Restaurante do Chico é José Henrique
Doertzbacher. Ele conta que o apelido surgiu por sugestão de seu avô, foi mantido pela família e hoje é praticamente a única nomenclatura que amigos e clientes conhecem.
O gosto pelo ramo também é influência doméstica. Chico cresceu ajudando os pais no restaurante da família, que trabalhou durante 20 anos na Zona Norte de Porto Alegre. Em 2001, os pais se aposentaram e Chico decidiu se tornar caminhoneiro, seguindo os passos de seus tios. Por cerca de sete anos, percorreu todos os cantos do país.
Depois, quando decidiu que era hora de ter uma rotina mais próxima da esposa, Fabiane Andréa Gonzatti, e do filho, João Pedro, optou por voltar ao que faz de melhor. Assim, inaugurou o restaurante em 2009, na Avenida Senador Alberto Pasqualini, em Lajeado.
Há quatro anos, porém, o empreendimento está no número 70 da Rua Vinte e Cinco de Julho. Com capacidade para 44 pessoas sentadas, o local atende moradores das redondezas, trabalhadores do comércio e viajantes que desviam pela BR 386 para almoçar na cidade. Grande parte da freguesia já está fidelizada.
De segunda a quarta, além da à la minuta, há a opção do prato da casa, que varia. Mas é sempre uma opção bem caseira, como massa parafuso, com arroz, feijão e carne picada na panela de ferro com molho vermelho ou aipim com farofa, arroz, feijão e sobrepaleta suína na panela de ferro.
]A à la minuta leva feijão, arroz, batata frita, bife, ovo frito e salada. Há três opções de tamanho. A mini, com 80g de carne, custa R$ 18. A média, com 150g, R$ 21; a completa, 300g de carne e sai por R$ 25. A maior pode servir até duas pessoas, mas a divisão deverá ser feita na mesa, já que a montagem é feita sempre em um prato.
Além do almoço, o estabelecimento serve café da manhã, e tudo é produzido ali. Pastéis de massa caseira, torradas, sanduíches, omeletes, sucos e vitaminas são algumas das opções.
O Restaurante do Chico serve café da manhã das 7h30 às 11h, e almoço, das 11h às 13h30, de segunda a sábado.
Ares de museu
Além da tradição em à la minuta, o Restaurante do Chico se difere pelo volume de antiguidades que adornam o espaço. Nas paredes, fotografias da época em que ele ainda dirigia caminhão, da cidade em seus primórdios e de veículos antigos.
Personagens que marcaram a história de Lajeado são preservados em registros feitos pelo já falecido fotógrafo Sebaldo. Entre esses personagens, está Tafú, um andarilho que percorria a região tocando violão e cuja imagem ilustra o balcão do restaurante.
Objetos já obsoletos, como balança, lamparina, telefones, calculadoras ainda podem ser vistos por ali. Até a caixa registradora usada é antiga. As mensagens escritas à mão também chamam a atenção dos frequentadores.
Além de pensamentos próprios, acerca da vida e da sociedade, Chico reproduz alguns dizeres de famosos – como Chico Xavier e Winston Churchill – e de fregueses. Aliás, os clientes mais descontraídos também são alvo de brincadeiras.
O aposentado Aurino Delfino, 65, mora no Olarias, mas é frequentador assíduo do Restaurante do Chico. Seja para tomar café ou para almoçar, o que ele mais gosta é do clima de amizade entre todos. “Não tem igual! E aqui a gente pode trazer a família, porque não tem os ‘gambás’ em volta”, brinca.
Bem humorado, Delfino ganhou uma homenagem da casa. Sua fotografia usando uma peruca loira ganhou o nome de ‘Vó da Xuxa’ e está pendurada em uma das paredes, ao lado da imagem de um cliente que é a cara do Beiçola (de A Grande Família).
No banheiro masculino, um kit com um tubo de pasta de dentes e uma caixinha de fio dental da Kolynos ajudam na decoração.
Uma folha dá as instruções sobre o uso de sabugos pendurados ao lado do vaso sanitário: “Tempos de crise… Use com moderação”.
Quando está inspirado, Chico se fantasia para receber os clientes da manhã, na Sexta (feira) da Maldade.