“No início, as missas e festas eram feitas no Clube Sete de Setembro”, conta Claudino Gottardi, 80, que foi secretário da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição, quando Abílio Hennemann recém erguia as paredes do Salão Paroquial e criava uma comunidade religiosa no bairro Moinhos. Com ele, estava o Padre Júlio Pereda, que escolheu como padroeira Nossa Senhora da Imaculada Conceição.
O ano era 1969. Abílio organizou uma diretoria e, apenas com um terreno recebido como doação da família Mallmann, iniciou a construção da paróquia com ajuda comunitária. Enquanto isso, as missas também eram ministradas na esquina em frente ao terreno da paróquia, em uma antiga escola que existia no lugar.
Em 1973, quando Gottardi veio ao município, foi convidado por Abílio para compor a comunidade e, mais tarde, assumir como secretário da paróquia, cargo que ocupou durante 25 anos ao lado da esposa Nelci Gottardi Corbellini, 82.
“O Seu Abílio foi o timoneiro de um grupo de homens e mulheres, a maioria agricultores. Era maravilhoso ver o empenho, o trabalho e o suor de cada um”.
Assim que o salão paroquial foi construído, o lugar era utilizado para todas as celebrações religiosas, inclusive casamentos, e a tradicional festa da padroeira, que ocorre em dezembro. “Como não tinha nada, construíram um forno à lenha, onde as mulheres faziam as cucas”, recorda Gottardi. Além disso, pães e galinha recheada também eram preparadas no salão.
A churrasqueira era improvisada com tijolos empilhados e as festas eram organizadas meses antes da data programada.
O filho de Abílio, Juarez Hennemann, 57, recorda que nestas ocasiões o pai passava em empresas da cidade para recolher as doações em alimentos, e também lonas que serviam de cobertura para o puxado em frente ao salão paroquial.
“As festas da padroeira naquela época começavam em sábados e eram em dois dias. A gente já começava por setembro a fazer os buracos das estacas para fazer a festa que era em dezembro”, recorda.

(SEM LEGENDA)
O ano de fundação
Em 15 de março de 1977, a igreja foi inaugurada. Na ocasião, guardaram a ata feita por Gottardi e o jornal do dia com algumas cédulas de dinheiro em um pote de vidro colocado dentro da Pedra Angular da igreja.
No dia de Corpus Christi, esta pedra foi aberta por ser o ano do cinquentenário. Juarez representou o pai, e a comunidade celebrou mais uma vez o aniversário da paróquia.
Um homem de fé
“Ele se doava pela paróquia. Depois que voltava das viagens muitas vezes, antes de vir pra casa, parava na paróquia para ver como estava o andamento das coisas lá”, conta Juarez.
Ao lado da esposa Norma, Abílio não fazia uma refeição sem antes rezar. A esposa de Juarez, Luciane Hennemann, lembra que as celebrações de Natal e Páscoa eram sagradas na casa deles. “A janta com os padres era aqui em casa, depois da missa. Quem estivesse lá era convidado pelo Seu Abílio. Para ele, o padre era uma pessoa muito importante”, conta. O bispo D. Canísio Klaus, que esteve na Diocese de Santa Cruz do Sul, também costumava visitar Abílio. Além do atual padre da paróquia, Luciano Schneiders.
Nos sábados à tarde, Juarez e a irmã Clarisse Hennemann de Oliveira acompanhavam os pais nas missas. “Era um ritual”, conta Clarisse. Não importa onde estivesse, fazia questão de voltar ao bairro e participar das missas.
Durante muitos anos, Abílio auxiliou a Pastoral da Caridade, levando roupas e alimentos para pessoas carentes.
Ele era “bairrista” e sabia de cor a história da comunidade de Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Moinhos. “Em uma celebração, pediram que ele contasse a história da paróquia, e ele sabia de tudo sem precisar de anotações”, lembra o marido de Clarisse, Sérgio de Oliveira. Abílio também teve dois netos, Artur e Bruno.
Com Alzheimer, Abílio esteve em um lar de idosos nos últimos 10 meses. Foi frequentador assíduo da igreja até os 88 anos. Ele morreu no último sábado e foi enterrado no Cemitério do bairro Hidráulica.
BIBIANA FALEIRO – bibiana@jornalahora.inf.br