“Vi poucas famílias com uma ligação como a nossa”

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“Vi poucas famílias com uma ligação como a nossa”

Cassiano tem 18 anos e ganhou os sobrenomes Henicka Cella há 10. Natural de São José do Herval, o estudante de Administração foi adotado aos 7, apesar do histórico de traumas, incluindo uma ‘devolução’. Quem lhe deu uma chance de…

“Vi poucas famílias com uma ligação como a nossa”

Cassiano tem 18 anos e ganhou os sobrenomes Henicka Cella há 10. Natural de São José do Herval, o estudante de Administração foi adotado aos 7, apesar do histórico de traumas, incluindo uma ‘devolução’. Quem lhe deu uma chance de recomeço foi o casal Otomar e Deize, de Pouso Novo

O que você lembra da infância e da adoção?
Com sete anos, eu fui dado pelos meus pais de sangue para um casal de São José do Herval; diziam que não podiam me cuidar. A gente não tinha uma relação boa em casa. Quando surgiu a oportunidade de uma família nova, pensei que seria bom; eram pessoas importantes da cidade. Mas não deu um ano e eu fui devolvido. Meu pai de sangue ficava fora o dia todo e me deixava preso no porão. Eu fugia por uma janela. Às vezes, dava problema com o Conselho Tutelar e a minha guarda ficava com a minha mãe, daí tinha assédios; ela sempre tinha um parceiro diferente. Ou, eu ficava com a minha avó, que não tinha como me cuidar. Quando eu tinha seis anos, meu pai tentou matar a minha mãe. Pulei nas costas dele e o facão acertou em mim (ele mostra uma cicatriz no rosto). Mas não culpo eles. Desejo que fiquem bem.
Como você chegou ao Vale?
Na minha segunda adoção, seis meses depois de eu ser devolvido. Eu tinha recém chegado da escola e ia colher abacaxi com a minha vó, quando chegou um carro bonito na comunidade. Meu pai de sangue desceu e, depois, desceu um casal. Meu pai gritou para prepararem uma sacola de roupas, que eu ia embora. Quando eu fui abraçar ele, ele me barrou e disse que não era meu pai, que meu pai era aquele outro homem. Logo que cheguei em Pouso Novo, eu estranhava, porque ficavam pedindo se eu tinha frio, o que eu queria comer, o queria assistir. Eu pensava que iam enjoar e me mandar embora. Quando quiseram me dar o sobrenome deles, eu fiquei impressionado, pois nunca ninguém tinha lutado por mim. Até hoje, eles demonstram esse amor todos os dias.
Como é a relação com os pais adotivos hoje?
Eles são maravilhosos, pessoas raras, me matam de orgulho! Se pensar na realidade que eu tinha e que todo mundo prefere adotar bebês, eu jamais ia conseguir uma família. Eu rezava pedindo uma família que não me batesse. Até hoje, às vezes eu choro de alegria, pois tive sorte de encontrar eles. Eu faço tudo com eles; passeios, tomar chimarrão, falar da vida. Também ajudo meu pai na transportadora dele. Às vezes, ele nem deixa, diz para eu focar nos estudos que eu vou longe. Ele coloca fé em mim, e é recíproco. Vi poucas famílias com uma ligação como a nossa.
 

GESIELE LORDES – gesiele@jornalahora.inf.br

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