“Eu tenho a louça do dia a dia e também as especiais para receber visitas”, disse a mim uma senhora durante um chá beneficente. Fazia menos de uma semana que eu e meu namorado havíamos ganhado um jogo de louças simplesmente l-i-n-d-o. Ouvi também uma sugestão de que comprássemos pratos e xícaras mais simples para o dia a dia.
Mas por quê? Não me conformei. Por qual motivo as pessoas que nos visitam esporadicamente merecem comer em louça de classe e nós não? Ah, não!!! Resolvi ir mais afundo na reflexão.
Houve uma época em que ter louças finas era o suprassumo do luxo. Sabe-se, claro, que há algumas décadas cada casal ganhava um único aparelho de jantar para o resto da vida. E era caro. Para garantir a longevidade das peças, usava-se um duralex mesmo no cotidiano e a porcelana era para impressionar os convidados.
Hoje, no entanto, apesar de um aparelho de jantar continuar sendo relativamente caro, a compra e reposição de peças é mais fácil. Claro que aquelas com quase cem anos a gente deixa de lembrança afetiva na cristaleira mas, por que não se dar ao “luxo” de comer todos os dias em pratos bonitos e bem desenhados?
Trabalhamos dia após dia sob estresse, pressão, cansaço físico e mental. Por que não se sentir no direito de fazer as refeições no nosso melhor jogo de louças? Sim, todos os dias! Muita gente fica esperando que os momentos especiais venham dos outros, de fora, com coisas que saem da nossa rotina. Mas esquece-se de que as coisas mais lindas acontecem durante os dias rotineiros, com refeições comuns e jantares despretensiosos.
É nesse tipo de momento que o amor se enraíza, solidifica e multiplica. Eu me sinto especial o suficiente para usar a minha melhor louça todos os dias – mesmo que não seja aquelas chiques, carésimas banhadas a ouro. E você, também se sente digna? Se quebrar, pelo menos fez mais história do que uma peça bonita guardada no armário. Ganhou novo? Usa! Prefira guardar momentos a objetos.
Diferente daquilo que é novo, os itens que carregam a história de uma família – como os citados na reportagem – esses sim, merecem uma moldura própria. Eu, por exemplo, coleciono porcelanas. Não o jogo todo, mas algumas peças. Uma veio de uma amiga, outra da minha avó, de uma professora ou da ex-chefe. São meus xodós.
Temos de aprender a nos dar valor e permitir que todos os dias sejam ocasiões especiais. Que delicioso prazer comer em uma mesa bem montada! As louças da avó, essas sim, guardamos para apreciação. Façamos agora o que no fundo as nossas mães e avós sempre quiseram fazer: dar uso diário a essas peças tão bonitas. Lhe desejo um final de semana super especial! Até semana que vem.
Opinião