Quase todo mundo tem algum objeto que pertenceu aos pais, avós ou bisavós. Cheios de significado, amor e história, levam, de geração em geração, tradições e lembranças únicas de uma família. Sejam eles louças, móveis ou bibelôs, protagonizam o prazer em cultivar memórias através do tempo.
Com os olhinhos cheios de admiração e curiosidade, uma menina admirava a coleção de lápis da avó. Com menos de dez anos e milhões de perguntas, via na matriarca uma tradição que poderia se perpetuar: colecionar momentos, sentimentos e admiração no formato de lápis. Personagem desta história que iniciou há cerca de vinte anos, a arquiteta Kátia Eckert continua a incrementar a paixão antiga da avó. “Ganhei o meu primeiro lápis especial de uma pessoa muito querida e desde então não parei mais”, relembra.
Ao perceber que a neta também tinha se tornado colecionadora de lápis, resolveu que estava na hora de passar o bastão. “Ela me chamou e perguntou se eu gostaria de ganhar a coleção dela. Eu fiquei eufórica! Mas em respeito às primas, perguntei a elas se queriam dividir e, para a minha alegria, nenhuma se interessou”, brinca.
A partir dali aos familiares e amigos começaram a ajudar na coleção. “Em cada viagem eu procuro as lojas de souvenirs para levar de lembrança um lápis decorado com a cultura local”, explica. Pessoas próximas a ela abraçaram a ideia e trazem os mais diversos tipos de lápis à arquiteta. “Meu padrinho viaja e às vezes volta com cinco, sete tipos diferentes. Eu adoro porque tudo sempre envolve carinho e admiração pela cultura”, diz.
Além dos lápis, Kátia também acomoda em sua casa móveis e objetos que acompanharam a história da família. “Sou a guardiã oficial das “velharias” da família”, brinca.
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Quatro gerações
Se pudesse falar, a cadeira de balanço da sala da arquiteta Isabel Macedo contaria muitas histórias da família. O item pertenceu à sua bisavó e passou de geração em geração até chegar à sua sala de estar. “Lembro que quando era pequena gostava de me embalar na cadeira, igualzinho como a minha filha faz hoje”, relata.
Item de destaque na casa da arquiteta, a cadeira também passou pela casa da sua avó, em Porto Alegre, antes de chegar ali.
Isabel estudava na capital quando a avó mudou-se para Lajeado. Os móveis, por sua vez, aos poucos foram sendo distribuídos entre os membros da família que os admiravam. “A cadeira ficou comigo. Levei para o meu apartamento e passei muitas manhãs nela tomando café antes de ir para a faculdade”, relembra.
Já desgastada pelo tempo e pelos animais de estimação, a peça foi restaurada e ganhou muitos outros anos para ser aproveitada. Quando Isabel engravidou, à cadeira foi atribuída uma função ainda mais especial, a de ser local de amamentação da Helena, bisneta de sua dona original. “Eu precisava de uma cadeira para amamentar e a minha avó indicou que usasse essa. E foi perfeita”, conta.
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Depois de ficar algum tempo no quarto de Helena, a cadeira voltou a embelezar a sala da família. “Guardo alguns móveis, máquina de costura, piano e caixinha de música dos meus avós. É sempre mais gostoso ter em um ambiente elementos que tenham real significado”, opina a arquiteta.