Fico admirado com a nossa falta de indignação ao lermos determinada notícia ou ao presenciarmos um fato descabido. E ainda mais admirado com a rapidez com que o esquecemos ou deixamos para lá.
Digo isso após ter acompanhando a sessão ordinária da Assembleia Legislativa, no dia 28 de maio, em Porto Alegre. Entre os projetos discutidos e votados estavam dois de grande relevância ao povo gaúcho: a nova diretoria administrativa do Banrisul e suas respectivas remunerações, e o salário mínimo regional 2019.
Como sabemos, é prerrogativa do governador nomear o Diretor Presidente e a Equipe Administrativa/Executiva do Banrisul, mas o que me causou indignação, sentimento de desrespeito e injustiça, é a proposta de reajuste salarial desses cargos.
Antes que o leitor questione porque da indignação, pois como dirigente sindical defendo que os trabalhadores tenham direito a salário justo e reajustes anuais, explico: o salário do cargo de Presidente do banco era de R$ 52 mil, e dos demais cargos administrativos de nível estratégico, R$ 40 mil, maiores que os salários dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, que recebem R$ 39 mil, além de benefícios. Esses valores, inclusive, representam três vezes o salário do governador do Estado (que é patrão deles).
Se houvesse bom senso e coerência, a proposta de reajuste salarial deveria ser de 3% a 5%, mesmo percentual que, provavelmente, serão concedidos aos demais cargos/funcionários do Banrisul. Contudo, a situação é pior se levarmos em conta os servidores públicos que não recebem reajuste salarial há 5 anos e, sobretudo, ainda recebem os salários parcelados.
Essa aprovação é, no mínimo, desrespeitosa! O salário de R$ 52 mil passou para R$ 89 mil e a justificativa é que o banco obteve tanto lucro que foi possível elevar o plano orçamentário em 5 milhões de reais, destinados exclusivamente à melhoria dos salários do alto escalão.
Sejamos sensatos: reajustar em 72% os salários para contratar novos executivos é uma afronta aos demais cargos e funcionários do Banrisul, assim como aos demais servidores estaduais.
Sugiro ao governador inserir no Estatuto (ou em uma Lei) a destinação de parte dos lucros auferidos pelo banco, nas áreas de saúde, educação e segurança pública, já que o banco é dos gaúchos e que essas áreas são essenciais.
Após a aprovação das questões do Banrisul, entrou em discussão a votação do novo salário mínimo regional. Se não bastasse o absurdo anterior, alguns deputados que votaram favoráveis à remuneração dos cargos do banco usaram a tribuna para se manifestarem contrários ao reajuste do novo salário de 3,42%, alegando ser um percentual incoerente diante da situação econômica que o Estado encontra-se. Um deputado, do partido NOVO, teve a coragem de propor a revogação da Lei que instituiu o Piso Estadual.
Parece piada, mas é realidade. Decisões estratégicas são tomadas por poucas pessoas, que pouco nos representam e tão pouco sabem ou se preocupam com a igualdade e equidade social. E nós estamos permitindo.
Lembre-se, é o teu sentimento de indignação que poderá mudar isso.
Não permita que sua indignação caia no esquecimento.
Opinião
Marco Rockembach
Presidente do Sindicomerciários
Assuntos e temas do cotidiano