Ito José Lanius: “As pessoas não podem se perpetuar no poder”

Entrevista

Ito José Lanius: “As pessoas não podem se perpetuar no poder”

Fundador de nove empresas, Ito Lanius se destaca pela atuação em entidades sociais e de classe

Ito José Lanius: “As pessoas não podem se perpetuar no poder”

O empresário Ito José Lanius, 62, trabalhou em empresas públicas e privadas antes de se dedicar ao empreendedorismo. Aos 29 anos, fundou a Folhapé, primeira das nove empresas criadas por ele a partir dos anos 1980.
 
Nascido em Santa Clara do Sul, na época pertencente à Lajeado, Lanius migrou para a cidade de Chapada ainda na infância, com a família. Na época, seus pais buscavam oportunidade longe dos minifúndios que caracterizam o Vale do Taquari.
 
Dezessete anos depois, voltou para Lajeado onde passou a atuar como técnico agrícola da Emater. Também trabalhou na Minuano antes de optar pelo empreendedorismo. Com a empresa Folhito, uniu a vocação pelos negócios com o desejo de contribuir com a o meio ambiente. Hoje, também comanda a Reforce, empresa que visa fortalecer outros empreendedores.
 
Além da atuação no setor privado, Lanius ainda se destaca pela dedicação à entidades sociais e de classe. Como presidente da CIC-VT, defendeu bandeiras importantes, como a da geração própria de energia e do crescimento do PIB regional.
 
– De onde surge o seu interesse pelo empreendedorismo?
Ito Lanius – Somos uma família grande, com oito irmãos, e apenas um trabalha com carteira assinada. Todos os outros são empreendedores ou agricultores. Nasci em Santa Clara do Sul, que na época pertencia a Lajeado. Meus pais, como tantos gaúchos, não estavam satisfeitos com o minifúndio e o pouco espaço para a atividade rural aqui no Vale do Taquari, em especial em Lajeado, e migraram para Chapada, que fica a 220 km de distância. Voltamos 17 anos depois, mas sem terras. Trabalhei na Emater como técnico agrícola, pois havia me formado na área no ensino médio-técnico. Na sequência, em 1981, saí para trabalhar na Minuano, já com uma visão empreendedora. Eu ganhava bem, mas além disso foi uma grande escola onde aprendi muito. Em 1985, mesmo estando bem posicionado dentro da Minuano, decidi empreender. Queria me libertar, correr riscos e iniciei minha atividade empresarial fundando a Folhapé.
 
– Como foi o seu crescimento como empreendedor ao longo dos anos?
Lanius – A experiência com a Folhapé foi muito exitosa. Hoje nós temos duas unidades em Lajeado, que são geridas por um dos meus irmãos. Também tivemos a Floricultura Folhapé, que hoje é a Toque Especial e está muito bem com os seus gestores. Tive mais cinco empresas na sequência. Sempre tive uma veia ambientalista, por isso vi uma grande oportunidade na área de resíduos. Na minha visão, a primeira leitura que todo empreendedor sempre precisa fazer é se aquilo que ele está propondo atende uma demanda ou uma necessidade de alguém. Dessa forma, os produtos e serviços ficam bem mais fáceis de serem colocados e vendidos. A Folhito foi muito nessa linha.
 
– Qual o trabalho da Folhito?
Lanius – Comecei a comercializar um produto que era esterco de aves, beneficiado e embalado, como adubo. Depois começamos o projeto de compostagem, com os resíduos que mais incomodam e são inadequados, que transformamos em adubo orgânico. É uma necessidade para o agronegócio e hoje vendemos no Estado inteiro. No ano passado trabalhamos com 70 mil toneladas de resíduos. É o grande orgulho para a Folhito ser uma empresa que emprega quase 60 pessoas e que deve faturar esse ano R$ 15 milhões. Estamos implantando um projeto novo no município de Estrela, que deve dobrar a nossa capacidade para 150 mil toneladas. Mas o grande xodó é que, com os mesmos resíduos, ainda vamos tirar dois produtos muito importantes, a biomassa e o gás metano, podendo, inclusive, gerar energia elétrica. Estou fazendo a sucessão familiar na Folhito e também tenho um novo negócio no Centro de Lajeado, a Reforce.
 
– Com funciona essa nova empresa?
Lanius – Junto com minha filha Marina e outros sócios, iniciamos a Reforce, que visa potencializar ou até participar de negócios. Também atuamos na intermediação da compra e venda de negócios. Ela surge como uma oportunidade no seio do empreendedorismo. Sempre digo para as pessoas fazerem uma conta bem simples. Quem tem uma casa que vale R$ 300 mil, quando vai alugar o imóvel gera uma economia de R$ 1 mil por mês, em média. Com R$ 300 mil aplicado em um negócio razoável, ele deve ter na faixa de R$ 8mil a R$ 12 mil por mês de resultado líquido. Além disso, gera empregos e movimentação econômica. Isso significa desenvolvimento para a região. Evidente que quem se lança no mercado empresarial precisa ter presente o significado dos riscos e de um comprometimento ainda maior com o negócio. Começo sempre dizendo precisamos ter fé em Deus, mas ir à luta, levantar pela manhã cedinho e fazer as suas atividades com comprometimento e intensidade. Também é preciso buscar pessoas com conhecimento técnico nas diferentes áreas e acreditar no negócio. Fazendo isso, a chance de dar certo é muito grande.
 
– Quais os motivos para iniciar a sucessão na Folhito?
Lanius – Comecei a empresariar com 29 anos, em 1985. A juventude é a razão de eu estar promovendo a sucessão familiar. Os jovens têm muito mais energia lá, tem uma vontade de crescer e de empreender. Agora, aos 62 anos, já sou mais cauteloso, não tenho mais a mesma energia. Com essa idade, todos nós perdemos um pouco e passamos a nos dedicar a outras atividades. Tomei como prioridade cuidar um pouco mais da minha saúde, então jogo futebol todas as quartas-feiras, às 16 horas. É uma atividade muito importante para mim, mas isso prejudicaria a empresa. Outros empresários se dedicam a viajar, então porque não passar as decisões do seu negócio para o sucessor? Tenho que dar oportunidade e isso vale para política, para entidades e instituições. As pessoas não podem se perpetuar no poder. Sempre tem alguém que já aprendeu suficiente, sabe tanto quanto eu e tem muito mais energia. Todos ganham com isso. Existem meios de governança muito interessantes, com técnicas de sucessão, mas cada um pode fazer do seu jeito. Não tenho dúvida que a Folhito tem uma projeção de futuro muito interessante, especialmente pelos meus sucessores, que são meus filhos. Mas que poderiam ser outros. Precisamos dar oportunidade para esses jovens crescerem e se desenvolverem, mas tudo depende da faixa etária em que estamos e do que achamos importante para aquele momento
 
– O senhor é reconhecido pela atuação em entidades. Por que essa dedicação e qual a importância desse trabalho?
Lanius – Tudo começou quando tive a oportunidade de conhecer um movimento chamado JCI, que é a Câmara Júnior. A entidade tem uma carta de princípios com a qual me identifiquei muito, e desde então participo ativamente de diversas entidades. Aproximadamente 30% do meu tempo tenho dedicado à questões comunitárias. A sociedade só se sustenta se a gente tiver uma visão holística, ou seja, se enxergarmos o todo. Não basta ter um negócio. Para um empresário estar bem, é preciso que a sociedade tenha pessoas com poder aquisitivo, estejam saudáveis, tenham equilíbrio emocional e convivam em harmonia. Para isso existem as entidades, ou o terceiro setor, e é essa a razão para o meu envolvimento. Além disso, é preciso reconhecer que aprendemos muito com as entidades, e isso acaba beneficiando as atividades dos negócios.
 
– Na sua avaliação, qual o potencial de desenvolvimento do Vale do Taquari?
Lanius – Cada região precisa acreditar que é a melhor. Isso é importante para o Vale do Taquari, o Rio Grande do Sul e para o Brasil como Pátria. Como empreendedor, devo acreditar de que meus negócios são muito bons e que o lugar onde estou inserido é excelente. Começa por esta tendência positiva. O Vale do Taquari tem um potencial muito grande. A região está em uma localização geográfica extremamente privilegiada, próximo da Capital, e é alimentado por rodovias importantes. Temos algumas deficiências que precisam ser trabalhadas. Poderíamos ter muito mais geração de energia própria e uma estrutura férrea que barateasse a logística. Claro que não depende tanto de nós, pois algumas ações estratégicas ficam a cargo do governos do Estado e Federal. Talvez precisássemos de mais união. Tenho defendido desde sempre uma Agência Regional de Desenvolvimento, que executasse as ações. Temos muitas ideias, mas nenhum órgão que execute essa parte coletiva que os indivíduos ou as partes dissociadas não conseguem desenvolver. Temos empresas e empreendimentos excepcionais na nossa região, que vendem muito para os mercados internacionais. Mas o todo não consegue, justamente porque ficamos no campo das ideias e não executamos coletivamente enquanto Vale.
 
– Falta representação política para a região despontar?
Lanius – É um pouco relativo, e já tivemos várias tentativas de emplacar candidatos da região. Hoje, não tenho muita convicção do que é melhor. Vamos tomar como exemplo a nossa economia, que é bem heterogênea e não está centrada em uma atividade. Em momentos de crise isso é muito bom, que nos dá estabilidade. No campo político, talvez pela nossa proximidade com Porto Alegre, nós tenhamos contato com muita gente, o que divide o eleitorado. Nós podemos olhar sob dois aspectos. Um deles é o de não ter foco, pois não temos pessoas específicas olhando apenas para nós. Por outro lado, temos uma gama maior de contatos. Tenho minhas dúvidas sobre qual é a melhor estratégia nesse sentido.
 
– Na sua opinião é preciso para ser bem sucedido nos negócios?
Lanius – Nada se faz sozinho. É preciso de ajuda, de pessoas e de sócios. O ponto fundamental é se organizar, ter uma agenda e ser disciplinado. Hoje, você tem muita informação disponível, e no futuro terá ainda mais, então, se acredita numa ideia, comece logo e comece pequeno. Não fique muito tempo planejando e organizando sem dar início ao projeto. As oportunidades são muitas, tem muito trabalho a ser feito e muito trabalho que pode ser feito melhor. Uma oportunidade pode ser pegar uma atividade que alguém já está fazendo e melhorá-la. É importante falar com pessoas que têm experiência e podem te ajudar. Pergunte o que essas pessoas pensam sobre a sua ideia e o sobre o que você deve fazer. E decida começar logo, de preferência pequeno, para que, se der errado, possa começar novamente com a experiência do que não fazer.
 
 

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