A rede de ensino do Rio Grande do Sul é composta por 881 mil alunos. Desse total, 100 mil são estudantes que não comparecem à sala de aula. Essa é a constatação feita pelo secretário estadual de Educação, Faisal Karam.
Na manhã de ontem, 13, ele esteve na abertura do I Congresso Encantado de Educação e Cidadania e apresentou dados preocupantes sobre o sistema de ensino. Entre eles, a quantidade de 30% de alunos do Ensino Médio que não concluem o ano letivo por desistência ou reprovação.
Para Karam, diminuir essa porcentagem é um dos principais desafios do sistema educacional gaúcho. Uma das ações para controlar a infrequência escolar é o “Diário Eletrônico”, que substituiria o antigo caderno de chamada.
Com essa tecnologia, Estado saberá diariamente quando o aluno não está no educandário e poderá tomar medidas, com ajuda do Ministério Público (MP) e Conselho Tutelar, para regularizar a situação do estudante. “No sistema atual, o aluno não vem na aula, mas segue matriculado. Ficamos sabendo no fim do ano que abandonou os estudos”, comenta Karam.
Tornar a escola atrativa ao estudante é outra proposta do Piratini. Karam apresentou projeto que pretende instigar a inovação e empreendedorismo na sala de aula. “A tecnologia está eliminando quantidade de empregos e necessidade de profissões. O que as escolas estão fazendo para se adequar a essa nova realidade?”, questionou o secretário.
Muitas escolas, poucos alunos
O Rio Grande do Sul ocupa a antepenúltima colocação na média de alunos por escola. Conforme Karam, há colégios com menos de 25 estudantes – quantidade semelhante à encontrada em turmas. “Não tem como manter uma estrutura de ensino em tudo que é lugar. Mas quando se fala em fechar uma escola, parece que inicia uma guerra”, lamenta.
Para Karam, a situação gera dificuldades para manutenção da infraestrutura e quadro de profissionais. O ensino acaba piorando. “É comprovado que quanto menor as turmas, maior e a evasão, reprovação e dificuldades de aprendizagem”, reforça.
Em Encantado, o secretário assinou documento que permite cedência de uso da Escola Estadual Érico Veríssimo à administração municipal. O colégio possuía mil alunos no passado, quantidade que diminuiu para cerca de 100. “O custo é o mesmo se for para mil ou para 100. Temos de encontrar formas para o investimento ser melhor aproveitado”, aponta. Cerca de 65 ofícios semelhantes ao de Encantado estão em estudo na Secretaria Estadual de Educação (Seduc).
“Professor não é pai de aluno”
Karam criticou a transferência de responsabilidades na formação das crianças e adolescentes às instituições de ensino. Na sua visão, os professores muitas vezes precisam atuar como psicólogos e resolver problemas extraclasse dos alunos resultantes do isolamento com a família.
O secretário cobra uma mudança de postura por parte da sociedade. “Professor tem seus problemas e seus próprios filhos. Professor não é pai de aluno”, destacou.
Após a palestra realizada no Auditório Itália da Prefeitura de Encantado, Karam passou pelo Instituto Estadual de Educação Monsenhor Scalabrini, em Encantado, e pela Escola Estadual de Ensino Fundamental Moinhos, de Estrela.
Ontem, programação do Congresso Encantado de Educação e Cidadania contou ainda com a secretária de Farroupilha, Elaine Giuliato, que abordou o tema “como alcançar uma educação pública de qualidade” e painel sobre “responsabilidade pela educação” com o juiz Luís Antônio de Abreu Johnson e o promotor Carlos Fioriolli.
FÁBIO KUHN – fabiokuhn@jornalahora.inf.br