Wilson Dewes acredita que a medicina, mais que profissão, é uma missão. Em 1991, ele criou a Fundação para Reabilitação das Deformidades Crânio-Faciais (Fundef), que atende pacientes com fissura labial. A fundação já atendeu mais de oito mil pacientes e é referência estadual
Como e por que foi criada a Fundef?
Quando vim para Lajeado, comecei a trabalhar na cirurgia plástica da face, na Otorrino. Logo comecei a atender crianças com fissuras labiopalatinas. Mas eu operava sozinho, não tinha um grupo. Esta deformidade requer várias especialidades, como odontologia, pediatria, fonoaudiologia, psicologia, entre outros. Convidei colegas para montar, pouco a pouco, um serviço. Na época eu era diretor técnico do hospital e consegui criar dentro do hospital um departamento para atender estas crianças. A gente atendia praticamente de graça.
É um tratamento que dura anos. Como é a relação entre médico e paciente?
Os paciente ficam no mínimo de 15 a 18 anos em acompanhamento, dos três meses até quando cessa o crescimento. São paciente que precisam de cuidados especiais. A gente tem o tratamento técnico, mas tem o tratamento social e afetivo. É uma dedicação extraordinária e ficam vínculos. Sempre costumo dizer que a Fundef é um milagre, porque sem recursos ou dotações públicas, a gente torna ela viável, com apoio da comunidade. Não tem pagamento melhor do que um sorriso que a gente torna viável. Isso é muito gratificante.
O que te motivou a dedicar teu tempo ao trabalho voluntário?
Os profissionais que estão lá ou ganham muito pouco, que é a taxa do SUS, ou não recebem nada. Quando eu me formei em Medicina, não havia Previdência, nem SUS. Quando eu fui trabalhar no interior, eu tinha uma enfermaria de pessoas que a gente atendia gratuitamente.
A maioria dos médicos tem motivações vocacionais. O médico não trabalha por dinheiro, trabalha por uma missão. E chega um momento que não interessa o valor pecuniário. O verdadeiro médico tem dentro dele aquele instinto de dar o seu trabalho para o bem das pessoas. É uma realização. E o dinheiro é uma consequência, não um objetivo. É um retorno que eu dou por todos os favores que a natureza me traz, o bem estar e o conforto que eu tenho na vida. E eu faço pouco ainda.
MATHEUS CHAPARINI – matheus@jornalahora.inf.br