Em clima de Copa do Mundo de Futebol Feminino, relembrar de toda a história das mulheres na modalidade seria praxe, se ela fosse tão saudosista quanto a masculina. A primeira transmissão ao vivo dos jogos masculinos no Brasil aconteceu na copa do México, em 1970. De lá para cá, foram nada menos do que 49 anos até as mulheres conquistarem tal espaço, que ainda não é igual.
Para entender melhor essa lacuna na história, vale resgatar as memórias da ditadura militar que interrompeu por lei a prática da modalidade por mulheres no Brasil. Entre os esportes proibidos, o decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941 também citava halterofilismo, beisebol e lutas de qualquer natureza.
Em entrevista ao Uol, a diretora do Museu do Futebol, Daniela Alfonsi, comprova com artigos jornalísticos da época que a proibição gerou muita resistência. Diziam que as práticas de contato não eram compatíveis ao corpo da mulher – visto que precisavam se preservar para a maternidade. A proibição só deixou de existir em 1979, após muita luta e resistência. Nas ocorrências policiais dos jornais da época, encontram-se muitas histórias de mulheres que foram perseguidas pela polícia, jogos que foram interrompidos e crises entre igreja e atletas.
De acordo com Silvana Goellner, pesquisadora de gênero e educação física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apesar da proibição, as mulheres continuaram treinando. “Só que não podiam ser registradas suas conquistas. Elas não poderiam aparecer oficialmente nos registros das federações. Isso gerou invisibilidade na história das mulheres no esporte”, afirma.
Mesmo com o fim do período ditatorial, a intimidação ao futebol feminino perdura até os dias de hoje. O “atraso” é reflexo da sociedade machista da época, aceitem. Conquistar espaço no esporte foi e é um desafio. Ouvi nos últimos dias da boca de homens que “futebol feminino nunca será levado a sério”, que “o jogo é chato e muito lento”, ou até mesmo que “não merecem incentivo visto que nunca chegarão ao nível dos homens”. Falta uma boa pesquisa a esses rapazes.
Que essa Copa seja um show! Não é a toa que temos atletas brasileiras como a Formiga – que disputa a Copa pela sétima vez. Ou então, a Marta, escolhida seis vezes a melhor do mundo. Convido a todos e todas a prestigiar o trabalho dessas mulheres maravilhosas que, inclusive, ultimamente têm trazido mais títulos ao país do que a modalidade masculina. Bom fim de semana!
Opinião