“Sou uma pessoa muito contemporânea”

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“Sou uma pessoa muito contemporânea”

A artista Ena Lautert celebrou os 95 anos com uma exposição que ocupou três salas do Museu de Arte do RS até o mês passado. A mostra reuniu cerca de 100 peças, de pinturas a instalações, mostrando a polivalência da…

“Sou uma pessoa muito contemporânea”

A artista Ena Lautert celebrou os 95 anos com uma exposição que ocupou três salas do Museu de Arte do RS até o mês passado. A mostra reuniu cerca de 100 peças, de pinturas a instalações, mostrando a polivalência da lajeadense. Além disso, ela foi uma das pioneiras a ensinar yoga no estado, comandando a segunda academia desse tipo na capital

Como é a sua relação com Lajeado?
Morei perto do hospital, com meus pais. Meu nome de solteira era Ena Lia Matthes. Saí daí há uns 70 anos, quando me casei (com Werner Lautert, in memorian). A família dele era do interior de Estrela. Quando o conheci, ele trabalhava como caixa no Banco Industrial, e foi transferido de Porto Alegre para Lajeado. Depois, foi sócio em um curtume em Teutônia; morei um pouco no Canabarro, numa vila sem luz nem água. Daí, ele foi diretor de um dos primeiros frigoríficos de Lajeado – nem lembro o nome – até que tivemos que ir para Porto Alegre. Mas minha irmã ainda mora aí.
 
A pedra costuma estar associada a dificuldades, vide o poema No Meio do Caminho (Carlos Drummond de Andrade). Para a senhora, o que esse elemento, tão presente na sua arte, representa?
Mas só ele pensa assim (risos)! A pedra tem vários significados, é impressionante. A pedra também é natureza, e eu adoro a natureza. Nos anos 70, fui para a Suécia e conheci uma família que tinha três lixeiras: uma para o lixo orgânico, uma para o seco e outra para papéis que seriam reutilizados. Aquilo me impressionou. Em 2005, fiz um curso de papel machê. Fiz uma pedra e a professora achou linda. Já fiz umas 300, desde então. Mas o meu primeiro contato com a arte aconteceu quando eu era pequena, e aprendi a tocar cítara.
 
A senhora acompanhou intensas mudanças em todas as esferas. É uma saudosista ou diria que os anos fizeram bem à sociedade?
Eu sou uma pessoa muito contemporânea. Eu sei como está a situação aqui e em outros lugares; é uma época muito ruim, por causa dos crimes e tudo mais. Não sou de ficar dizendo que no meu tempo era melhor, mas era diferente. Eu aprendi a educação do berço. Aos dois anos, fugi de casa e fui sentar em uma pedra (veja como a pedra já existia na minha vida!), na beira do Taquari. Quando o meu pai me encontrou, pegou uma varinha e bateu na minha perna, para eu aprender a não fugir. E, desde então, eu aprendi a não desobedecer.
 
O que espera para o futuro?
Eu espero ter saúde, para poder trabalhar, me ocupar, pois isso é a melhor coisa do mundo. O que eu digo para os idosos: é só não parar!
 

GESIELE LORDES – gesiele@jornalahora.inf.br

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