Robôs tiram  o leite

Negócios

Robôs tiram o leite

Tecnologia avança para suprir a ausência de mão de obra, melhorar a qualidade e produtividade, além de auxiliar na gestão das propriedades. Vale do Taquari desponta no estado com referência na instalação de ordenhas robotizadas

Robôs tiram  o leite

Para amenizar a falta de mão de obra qualificada, aumentar a produtividade e a qualidade do leite produzido na propriedade há mais de seis décadas, a família Fell, de Estrela, decidiu instalar dois robôs para auxiliar na ordenha das mais de 100 vacas.
 
Rodrigo, 29, formado em Administração e Leandro, 30, médico veterinário, estudaram a nova tecnologia por mais de 18 meses antes de decidir fazer o investimento de R$ 1,6 milhão. Além dos robôs, foi construído um galpão climatizado. “Priorizamos o bem-estar. No verão a temperatura chegava a 39 graus e refletia em uma queda de 7 litros por vaca”, comenta Rodrigo.
 
Outra mudança verificada é na jornada de trabalho. Antes eram necessários quatro funcionários para auxiliar no processo diário, por quase oito horas, a um custo de R$ 6 mil por mês. Há quase 60 dias a realidade é outra.
 
As vacas quando estão com úbere cheio de leite, se aproximam sozinhas da sala de ordenha atraídas pela ração no cocho. Em seguida um braço robótico inicia o trabalho. Em questão de segundos ele desinfeta e encaixa as teteiras e começa a retirada do leite com destino direto ao tanque.
 
Tudo ocorre sem interferência humana, de forma espontânea. A ordenha ocorre 24h por dia. Um chip acoplado no pescoço traz informações precisas de cada animal: quantidade de leite produzido por dia, vezes que ruminou, temperatura entre outras. “Os dados podem ser conferidos na tela imediatamente. Qualquer alteração a vaca é deslocada para outro local onde iniciamos o tratamento. Apenas uma pessoa cuida de plantel de 103 animais”, observa.
 
Os dados ajudam a melhorar a genética e a gestão do negócio. “São informações com as quais podemos tomar decisões certas e que geram resultados”, diz.
 

Mais produtividade

Rodrigo prevê aumento em até 10 litros na média produzida por vaca. “Estamos em 40 litros”, diz. Outra vantagem é a redução de doenças como mastites e o uso de antibióticos. “Na propriedade visitada na Serra Gaúcha a queda chega a 80% com o sistema”, explica. A produção diária do plantel alcança 4 mil litros e outros 1,6 mil ainda são obtidos no sistema antigo de ordenha.
 
A qualidade de vida também mudou radicalmente. Já não é mais necessário acordar às 5h da manhã para ordenhar as vacas, que agora escolhem o horário que desejam fornecer o leite. “Dá tempo para tomar um chimarrão”, brinca.
 
A família Fell foi a pioneira na robotização da ordenha no Vale do Taquari. De forma coletiva, este sistema foi implantado pela Dália Alimentos, de Encantado, em dezembro de 2015, no condomínio leiteiro em Nova Bréscia.
 

Sistema ainda é restrito

Atualmente, mais de 20 propriedades contam com robôs de ordenha no Rio Grande do Sul, a maioria delas no Vale do Taquari. Apesar do avanço do modelo robotizado nos últimos anos, ainda é restrito a um grupo pequeno de produtores, em função do alto investimento.
 
Para o secretário de Agricultura e Meio Ambiente, de Teutônia, Márcio Mügge, o avanço da tecnologia no meio rural é uma tendência mundial, por ser mais eficiente do que a mão de obra humana, proporcionar ganho de produtividade, qualidade e maior lucratividade. “É preciso atenção, verificar custo e benefício, capacidade de investimento, genética dos animais e orientação técnica quanto ao uso dos equipamentos”, entende.
 

Dados precisos na tela

Laudecir Silvio Gross (Zé), diretor comercial da Milkparts, representante Lely no Brasil, pioneira na fabricação de robôs de ordenha (1992), a qual possui mais de 30 mil equipamentos instalados no mundo, sendo 13 no RS, destaca as vantagens da tecnologia.
 
Mais do que automatização do processo de ordenha, o uso de robôs leva ao produtor informações importantes para melhora da genética, produtividade, qualidade do leite, reprodução, menos mão de obra, reduz perdas por doenças como mastite, uso de antibióticos e problemas de casco. “Os dados gerados ajudam na tomada de decisões. Ainda temos a melhora na qualidade de vida do produtor e mais conforto para os animais”, afirma.
 
O sistema gera dados imediatos com os quais é possível identificar os animais com melhores resultados e até o momento em que é mais adequado reproduzi-los. Ainda são detectados problemas de saúde e feito o controle da alimentação. O fornecimento de ração é realizado pelo próprio robô, que libera o alimento no momento da ordenha e de acordo com a produtividade da vaca, explica.
 
Recomenda a adoção do sistema a partir de um plantel de 70 animais com alta produtividade. O valor médio por unidade é de R$ 800 mil, sendo possível financiar em 10 anos.
 

Qualidade da matéria-prima

Alexandre Guerra, presidente do Sindilat

Alexandre Guerra, presidente do Sindilat

No entanto, esse impacto deve ser sentido a longo prazo, de acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS), Alexandre Guerra.

 
Quais as vantagens do sistema?
Guerra – Ele abre a agenda no dia a dia do produtor. Permite que ele se ausente da propriedade, focando mais na produção do alimento para o gado leiteiro enquanto o robô faz a ordenha. Com relação à qualidade do leite, é sabido que, quanto menor a intervenção humana no processo, menor a contagem bacteriana. É essencial lembrar que o setor vem trabalhando com margens ajustadas, o que dificulta muito o acesso à tecnologia de ponta, principalmente porque os equipamentos são importados e, com a alta do dólar, essas aquisições ficam ainda mais difíceis. Apesar de serem usados em diversos países da Europa e tradicionais nações produtoras de leite, não acredito em uma tendência mundial devido ao acima exposto e à limitação no número de animais por equipamento. Outra vantagem é a gestão nutricional – é possível medir por meio de chip em coleira quanto leite o animal produz e, desta forma, otimizar a oferta de ração.
 
Qual o impacto para a indústria?
A escala de produção com qualidade, redução do custo em logística e a redução dos índices de CBT. O Sindilat, inclusive, trabalha para uma maior mecanização do setor lácteo. Nas reuniões da Câmara Setor do Leite, em Brasília, solicitamos ao governo federal apoio por meio de linhas de financiamento de longo prazo com taxas de juros próximas às do Pronaf e isenção da carga tributária para viabilizar a colocação de mais unidades de robôs no Rio Grande do Sul.
 
 

Solução para falta  de mão de obra

Além dos Fell, outros dois produtores de Teutônia apostam no sistema. Moacir Brackmann, 44, de Linha Clara mantém um plantel de 150 vacas e uma produção diária de 3,3 mil litros. Na próxima semana inicia um novo ciclo na propriedade.
 
A ordenha passa a ser feita por robôs. “Não temos mão de obra e a jornada de até sete horas para tirar leite é muito árdua. Com o sistema, além de ter mais tempo para nos dedicar a outras tarefas, haverá ganho em qualidade, produtividade e bem-estar dos animais”, acredita.
 
O investimento chega a R$ 1,5 milhão, valor a ser pago em até 10 anos. Brackmann projeta aumento no valor pago por litro de até R$ 0,05. Outro investimento previsto é a construção de dois aviários climatizados, com capacidade de alojar 70 mil aves. Com a melhora da matéria-prima enviada às fábricas, a tendência é de que suba a qualidade dos produtos ao consumidor.
 
 
agronoticias_07
 

Acompanhe
nossas
redes sociais