No mercado mundial de leite e derivados, uma nova proposta tem interessado os consumidores que buscam um produto com máxima qualidade. Esse “novo” é denominado leite orgânico, que tem sido apontado como um modelo alternativo à produção convencional, especialmente pela sua capacidade de diminuir a dependência do produtor rural de insumos externos, dos circuitos de distribuição dominados por empresas globais e agregar valor aos produtos comercializados.
Vem tendo elevadas taxas de crescimento. Estudos demonstram que esse crescimento está associado a uma combinação de cinco razões: a) preocupações com saúde e a ingestão de alimentos contaminados por resíduos de agrotóxicos; b) o crescimento dos movimentos ambientalistas, preocupados com a degradação ambiental; c) fatores relacionados a seitas religiosas e o equilíbrio espiritual; d) movimentos de grupos contrários as empresas multinacionais que dominam a agricultura convencional; e, e) campanhas de marketing desenvolvidas por redes de varejo. Contudo, compreender a produção de leite orgânico como uma rede alimentar alternativa exige reconhecer que o sistema relacional complexo que a envolve.
O mercado de leite envolve uma ampla rede de agentes capazes de orientar os processos produtivos, tecnologias e, principalmente as lógicas de produção, que ao mesmo tempo viabiliza, pode condicionar as dinâmicas de produção. O leite orgânico, no seu caráter técnico, se apresenta como alternativa a produção convencional por levar em consideração a busca do equilíbrio entre o socioeconômico e o ambiental, bem como coloca em primeiro plano questões de manejo, alimentação, bem-estar e sanidade animal, rompendo a visão de que o animal é uma máquina.
No Brasil, assim como na Espanha, o caráter alternativo da produção leiteira conta com um ator chave na regulação dos padrões técnicos: CRAEGA – Conselho Regulador de Agricultura Ecológica da Galícia e empresas certificadoras; e Ministério da Agricultura no caso brasileiro. Contudo, o caráter mercadológico expõe dificuldades de rompimento do modelo convencional de produção e comercialização de leite.
No caso galego, mais consolidado, empresas transformadoras são atores chaves no estimulo aos produtores converterem seus modos de produção, utilizando mecanismos de preço e operando nos mesmos moldes do modelo convencional. No caso brasileiro, por não haver um agente-chave, a rede possui um caráter alternativo, porém é limitada a poucos produtores que utilizam cadeias curtas de distribuição. Seria a produção de leite orgânico uma alternativa aos produtores do Vale do Taquari?
Opinião
Carlos Cyrne
Professor da Univates
Assuntos e temas do cotidiano