“Ele trabalhava por amor”

vida dedicada à medicina

“Ele trabalhava por amor”

Na madrugada de ontem, a comunidade se despediu de Lody Osvaldo Torrico Caero, um dos médicos plantonistas mais atuantes na saúde da região. Nascido na Bolívia, sofreu um acidente de trânsito e faleceu no dia de seu 67º aniversário

“Ele trabalhava por amor”

“O Dr. Lody era uma pessoa muito boa, não deixava ninguém na mão”. Por cerca de 13 anos, Lody Osvaldo Torrico Caero, trabalhou como plantonista no Hospital Bruno Born (HBB) ao lado da enfermeira coordenadora da emergência, Rosa Lemos. De manhã, tarde ou noite, não havia hora certa para o trabalho. O que ele mais gostava era de estar no hospital.
 
Humilde e solidário, teve passagens por hospitais e centros de atendimentos em municípios como Arroio do Meio, Venâncio Aires e Encantado. Nos últimos anos, alternava-se entre Lajeado e Estrela.
 
Ontem, ele completaria 67 anos de idade. Veio da Bolívia para estudar e se apaixonou pelo Brasil. Apesar do sotaque que não disfarçava a origem, gostava de dizer que era brasileiro. “O que deixava ele muito bravo era dizer que era boliviano”, lembra Rosa. Assim como o amor pelo país, ele também era torcedor assíduo do Internacional.
 
Por alguns anos, morou em Santa Maria, onde a família vive ainda hoje. Formou-se em medicina da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com especialidade em obstetrícia e ginecologia. A vocação, no entanto, o levou a atuar como clínico geral. “Atendia desde crianças até velhinhos”, recorda Rosa. Colecionou pacientes que confiavam no trabalho dele e, acima de tudo, uma “família” dentro do HBB. Os funcionários do centro de emergência e pronto-atendimento trabalharam na manhã de ontem com o sentimento de consternação.
 
“Para nós, é como se perdêssemos alguém da família”, desabafa Patrícia Damean Miotto, coordenadora da unidade de internação do HBB. Ela entrou para o hospital em 2006, alguns meses depois do “Dr. Lody”. Ela lembra do bom humor do médico e da doação pela profissão. “Ele não trabalhava pelo dinheiro, e sim pela vocação”.
 
Nas festas de fim de ano ou São João, Caero participava junto com os cerca de 70 funcionários que trabalhavam com ele no setor de emergência e pronto atendimento do hospital. Como morava sozinho na cidade, oferecia-se para fazer os plantões em épocas de Natal, Ano-novo e outros feriados. “Sempre que alguém precisava de ajuda, ele se colocava à disposição”, conta Patrícia. Costumava atender de boa vontade os familiares dos colegas de trabalho, sem cobrar um centavo.
 
A assessora técnica do hospital, Sandra Cabral, também trabalhou com Caero, o qual considerava um “irmão”. Sempre muito atencioso com os pacientes, ele era um médico “à moda antiga”, como conta Sandra, muito respeitado pela classe profissional. “Com certeza, já estamos sentindo muitas saudades”, lamenta.
 

Amor à profissão e cuidados à família

Foi no Brasil que Caero construiu sua família, tanto a de sangue e como a conquistada por meio da profissão. Era pai de cinco filhos que vivem em Santa Maria e arredores. Duas meninas e três meninos: Michelli, Tiago, Débora, Matheus e Abraham.
 
“Devido à profissão, não era um pai muito presente, mas sempre fez o possível pelos filhos”, conta Michelli. Sua vida foi dedicada a ajudar ao próximo. “Era apaixonado pela profissão. Ele trabalhava por amor. Os filhos sentem muito a perda do pai”, ressalta. Nos últimos anos, resolveu fazer algumas viagens. Em 2017, foi para a Itália e, em 2018, Dubai. A próxima viagem estava marcada para o fim de junho com destino à Dinamarca.
 

BIBIANA FALEIRO – bibiana@jornalahora.inf.br

Acompanhe
nossas
redes sociais