Check Out: hotéis do Centro ficam na lembrança

Lajeado

Check Out: hotéis do Centro ficam na lembrança

No início da urbanização de Lajeado, a área central era caracterizada pela presença dos principais hotéis da cidade. Hoje, nenhum funciona mais, e o prédio do último foi posto à venda neste ano

Check Out: hotéis do Centro ficam na lembrança

“Naquele tempo os carros desciam a Júlio de Castilhos ao invés de subir”. Eram meados de 1950 quando Cláudio Henrique Lammel, 76, sentava em frente a um dos principais hotéis da cidade para observar o movimento das ruas e beber com os amigos. Ainda não havia calçadas e a vida em Lajeado acontecia ao redor da antiga rodoviária na rua Borges de Medeiros.
 
Era comum viajantes desembarcarem no Centro e se hospedarem nos hotéis mais próximos. Com as malas cheias, vinham vender tecidos e objetos para abastecer os comércios. O público era predominantemente masculino.
 
“As mulheres ainda não se envolviam muito com os negócios”, recorda o proprietário do Imperatriz Hotel, Elmo Bergesch, 77. Os pais de Elmo, Arno e Elma, mantinham o Hotel Brasil, na Rua Júlio de Castilho, desde 1939. A fachada verde do prédio em frente à atual biblioteca pública do município ainda conserva traços daquele tempo.
 
Na época, Elmo era criança e na companhia dos irmãos auxiliava nas tarefas administrativas do hotel. Sem tecnologia, os registros de entrada e saída de hóspedes eram manuscritos em um livro. No interior da estrutura, 60 quartos eram organizados minuciosamente pela mãe Elma. “Ela comprava tecidos e costurava os lençóis”, conta Elmo. E assim o processo se repetia com tudo o que precisava de costuras no hotel.
 
Toda a roupa de cama era lavada à mão. Já com alguns anos no ramo hoteleiro foi que a família adquiriu uma grande máquina de lavar roupa. Os lençóis eram estendidos ao sol e passados numa estrutura que alisava o tecido. O prédio também abrigava uma barbearia chamada “Ao Virá Barbeiro”. “Ele tinha um negócio com o meu pai a troco de corte de cabelo para a gente”, lembra.
 
Anos mais tarde, os irmãos Bergesch transformaram o hotel em um prédio residencial e comercial, de pé ainda hoje, mas sem as funções que deram sentido à sua criação.
 

Almoço de casa

Na esquina da Borges de Medeiros com a Bento Gonçalves, outro estabelecimento era conhecido por hospedar viajantes, no início da década de 20. O antigo Hotel do Comércio, que depois passou a ser chamado Hotel Lajeadense, pertenceu à família de Roberto Stahlschmidt, segundo informações do livro de Erny Stahlschmidt, filho de Roberto, intitulado Vagando pelo Século.
 
Anos mais tarde, ainda na atividade do hotel, Wolfgang Hans Collischonn veio à cidade para trabalhar no Banco do Brasil e costumava almoçar nos hotéis mais próximos. O mais frequentado por ele foi o Hotel do Comércio. Collischonn recorda o movimento da cidade em ascensão.
 
“O banco estava se desenvolvendo muito, então precisava de gente que vinha do Ceará, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, tudo o que é tipo de brasileiro. Gente que nunca tinha comido churrasco, imagina”, conta. Para os hotéis, isso era sinônimo de grande freguesia.  A rotina de Collischonn o fez “saber de cor” o cardápio de cada dia da semana no Hotel do Comércio. “A comida era boa até que enjoava”, brinca.
 

 

Último hotel está à venda

Naquela época, os amigos se encontravam na rua Júlio de Castilhos para beber e conversar. Um dos locais preferidos para o tempo de lazer era a frente do Hotel Dahlem, criado por Oswaldo Dahlem. Hóspedes ou não, os fins de tarde eram sagrados.
 
Rudi Schnorr conheceu bem o empreendimento que hoje está à venda na cidade. A fachada ainda leva o nome do antigo hotel. Ele conta que, no início, os prédios tinham banheiros coletivos. “Saía um do banheiro e entrava o outro, levava a toalha na mão e tomava banho. Nos quartos, havia apenas uma pia para escovar os dentes”, lembra.
 
José Décio Franz, 71, hoje passa seus dias no interior do prédio do antigo hotel, que foi posto à venda neste ano. Ao lado de Schnorr, ainda lembra das centenas de hóspedes que o hotel colecionou desde a década de 20. O Hotel Dahlem era muito procurado por ser perto do Hospital. Segundo ele, ainda hoje famílias chegam no estabelecimento e pedem hospedagem. “Estou aqui faz dois meses e muitas pessoas ainda vêm aqui solicitar um quarto. Gente de todo lugar”, conta.
 

Hotéis hoje pela cidade

Hoje a cidade mantém ativos nove hotéis e pousadas. Um total de 1.333 leitos, segundo dados fornecidos pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Lajeado. Na região central, no entanto, os principais estabelecimentos hoteleiros foram fechados. Ainda restam vestígios daquelas construções, que hoje funcionam apenas memória dos lajeadenses mais antigos.
 
 

BIBIANA FALEIRO – bibiana@jornalahora.inf.br

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