Após dez anos afastada, mulher perde auxílio-doença

Lajeado

Após dez anos afastada, mulher perde auxílio-doença

Marlene Alves Pereira teve sucessivos problemas de saúde ao longo da última década, mas laudo da perícia diz que ela está apta a trabalhar novamente

Após dez anos afastada, mulher perde auxílio-doença

“Não quero esmolas, apenas meus direitos”. A frase, de Marlene Alves Pereira, 52, é a síntese do drama que vem enfrentando há mais de uma década devido a sucessivos problemas de saúde. Moradora do Centro, ela está afastada do trabalho há dez anos, mas a última perícia médica a liberou para voltar ao serviço.
 
Com complicações respiratórias e dificuldades de locomoção, Marlene foi surpreendida com a decisão do Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS) em cortar o benefício, equivalente a um salário mínimo. A notícia negativa chegou em meio a um período turbulento, já que aguarda há mais de um ano para fazer uma consulta em Porto Alegre.
 
A situação de Marlene só não se tornou mais difícil porque conta com o suporte da família. As três filhas e os irmãos dão toda a ajuda necessária, bem como o marido João Paulo Dutra, que está desempregado atualmente, mas também sempre auxiliou a esposa, que toma uma série de medicamentos e realiza consultas periódicas na Univates e na Unidade de Saúde Central.
 

Histórico de doenças

Marlene começou a trabalhar cedo e nunca mediu esforços para oferecer uma boa educação às suas filhas. Os primeiros problemas de saúde, porém, foram surgindo aos poucos. “Eu sempre tive crise de bronquite. Aí tive um ataque muito forte há uns 10 anos. Fiz raio-x e a médica falou que estava com nódulos no pulmão direito”, recorda.
 
Era o início de um drama familiar. Com a ajuda de um irmão, pagou uma tomografia no Hospital Bruno Born e foi encaminhada para tratamento no Hospital da PUC-RS, em Porto Alegre. Foram quatro anos de viagens para a capital . Impossibilitada de trabalhar como empregada doméstica (seu último emprego), passou a receber auxílio-doença.
 
O tempo foi passando e o tratamento apresentou resultados. Mas os problemas respiratórios de Marlene foram piorando. Chegou a ser levada com o irmão para morar em Santa Catarina, mas não se habituou ao clima de lá. “Tive pneumonia e fiquei 15 dias internada. A médica chegou a me dar só três dias de vida”, recorda. Voltou pouco tempo depois.
 
A imunidade de Marlene foi ficando cada vez mais baixa. Qualquer gripe ou febre é motivo para ser atendida na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA). Chegou a pesar 38 quilos, sendo que o ideal era 48 quilos. Passou a frequentar nutricionista, o que ajudou a ganhar peso. “Estava desnutrida, mas não era por falta de comida. Um problema no estômago não me deixava engordar. E gastava muita energia com o pulmão”.
 
No ano passado, mais um problema. O surgimento de um nódulo na perna esquerda, deixando-a inchada. No HBB, decidiram a encaminhar para atendimento especializado Porto Alegre. Porém, está a um ano e quatro meses esperando pela sua consulta.
 

03_AHORAPerda pela segunda vez

Não é a primeira vez que Marlene tem seu benefício do INSS cortado. Em 2017, um ano após o governo federal iniciar um forte trabalho de pente-fino, ela teve a renovação negada. “Fiquei um ano sem receber nada e visivelmente não tinha condições de voltar a trabalhar”, comenta. Recorreu na Justiça e perdeu.
 
Então, o advogado orientou que Marlene entrasse com um novo pedido de auxílio-doença. Ela conseguiu garantir o benefício e parecia que ter solucionado a situação. Mas, em perícia realizada semana passada, teve uma nova má notícia.
 
Marlene diz não entender o motivo de perder o benefício mais uma vez. Ela apresentou uma série de laudos e documentos que mostram sua impossibilidade de voltar ao trabalho. Nem os papéis, nem a aparência fragilizada adiantaram. “Como podem tratar um ser humano assim? Se eu estivesse bem, com certeza estaria trabalhando e ganharia mais do que o valor do auxílio. Mas hoje preciso dele. Estou revoltada e apavorada”.
 

MATEUS SOUZA – mateus@jornalahora.inf.br

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