O rio que dá nome à região é um exemplo de o quanto precisamos evoluir no sentido da preservação do meio ambiente. Em 2012, quando foi feito o mais recente diagnóstico, o Taquari foi enquadrado na categoria 4, a pior entre as cinco categorias definidas por resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica Taquari/Antas, Júlio Salecker, atribui o nível de poluição do rio principalmente à falta de tratamento e destino adequado dos dejetos orgânicos. Nas áreas urbanas, o esgoto das casas é a questão de maior impacto. Nas zonas rurais, onde predomina a atividade agropecuária, são os dejetos tanto animais quanto do cultivo agrícola.
Ele destaca que a situação decorre não somente do Vale do Taquari, em função de a bacia hidrográfica ter início na região da Serra.
“Tem cerca de 100 municípios daqui pra cima sem tratamento de esgoto urbano. Na parte rural, tivemos algumas evoluções, como as integradoras passando a exigir mais dos produtores em relação ao destino dos dejetos”, afirma.
Para Salecker, há uma melhora significativa no nível de conscientização ambiental da população nas últimas décadas. Entretanto, ele afirma que esta mudança ainda não reflete em resultados práticos. “Culturalmente estamos evoluindo bastante, mas para isso chegar a tividades práticas ainda precisamos mais tempo. Infelizmente, o Brasil virou as costas para o saneamento básico.”
Da consciência à prática
Para Odorico Konrad, professor do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Univates, a situação do tratamento de esgoto na região “evoluiu muito pouco ou quase nada nos últimos 40 anos”. Já em relação à destinação do lixo, a leitura é mais otimista. “Saímos da situação de lixões para a de aterros sanitários. Pode melhorar bastante, mas já houve uma melhora significativa.”
Konrad acredita que a transição da consciência ambiental à mudança nas práticas, tanto individuais quanto macro, acontecem aos poucos. O professor percebe os efeitos em pequenos hábitos, como a separação de lixo mesmo por moradores de áreas onde não há coleta seletiva. Para Konrad, o principal desafio está no convencimento dos agentes públicos. Ele afirma que a Corsan não cumpre o acordo firmado com os municípios.
“Tem uma discrepância entre os dois serviços. A água tratada é de ótima qualidade, mas a parte do tratamento de esgoto, que é a origem desta água está longe de ser algo interessante”, avalia.
No saldo entre os problemas e as perspectivas de solução, Konrad é otimista. “Penso positivo. A gente está indo para um caminho melhor do que a dez anos. E nos próximos dez, estaremos melhores, em busca do ápice do equilíbrio ambiental”, conclui.
Começando desde cedo
Uma área onde inicialmente estava prevista a construção de indústrias foi transformada em um dos principais símbolos de preservação do meio ambiente da região. O Jardim Botânico de Lajeado existe desde 1995. No local, são promovidas oficinas e atividades ligadas à preservação do meio ambiente.
“Sempre buscamos falar do nosso papel no meio ambiente. Em todas as atividades, a gente aprende sobre biologia, ecologia, mas o enfoque é sensibilizar para a conservação, para que tenhamos ações diferentes no dia a dia, que é o que faz diferença no final”, diz Edith Ester de Mello, bióloga da secretaria de Meio Ambiente que atua no Jardim Botânico.
As visitas são gratuitas e podem ser solicitadas por qualquer grupo a partir de dez pessoas. Na tarde de ontem, os alunos da escola Olavo Bilac, de Westfália, passaram a tarde em atividade. Entre as atividades, eles puderam plantar mudas, que foram levadas para plantar na escola.
Edith defende a importância de se trabalhar a questão ambiental em todas as cidades, mas destaca que as crianças são mais abertas. “É quando eles estão mais abertos e curiosos a entender o mundo, ainda têm a mente mais criativa e conseguem desenvolver uma mentalidade mais preocupada com o meio ambiente.”
Iniciativas promissoras
Símbolo de preservação
Um dos principais símbolos de preservação ambiental da região, o Jardim Botânico completa 24 anos em 2019. Ocupa mais de 26 hectares entre os bairros Moinhos e Bom Pastor, em Lajeado. Recebe visitas diárias de escolas e instituições de pesquisas, além de ser ponto de encontro e atividades de lazer, principalmente no fim de semana. O Jardim Botânico concentra coleções botânicas, cinco trilhas autoguiadas, horto medicinal, herbário, etc.
Consórcio para tratar o lixo
Municípios que integram o Consórcio G8 lançaram em abril deste ano um projeto de educação ambiental. Em parceria com a Univates, o programa consiste na formação de “multiplicadores” nos municípios. Esses agentes farão o trabalho com o restante da população por meio de reuniões, cartilhas e ações práticas. O G8 investe R$ 5 milhões em uma Central de Triagem de lixo. Hoje, a maioria das cidades terceiriza a coleta e a destinação do lixo. Com a central, criam nova fonte de receita e garantem destinação mais adequada aos resíduos. A Central de Triagem está sendo construída na localidade de Campo Branco, em Progresso.
Ação tenta salvar o Engenho
Um símbolo de Lajeado virou esgoto. O arroio Engenho está entre os mais poluídos da região. Canalizado em boa parte na área urbana, recebe diariamente centenas de litros de esgoto. Para evitar a morte do afluente, Secretaria de Meio Ambiente (Sema), Univates e Ministério Público se uniram e lançaram em agosto de 2018, o Projeto Nosso Engenho. Criar um sistema de monitoramento da qualidade de água e, posteriormente, realizar ações de despoluição estão entre as metas. O projeto está praticamente parado desde o início do ano, em função da redução do número de servidores. O mapeamento deve ser concluído no segundo semestre e será disponibilizado ao público.
Saneamento para 100% das residências
Um dos maiores problemas da região – a exemplo do país – é o pífio índice de tratamento de esgoto. Em Teutônia, projeto pioneiro lançado em maio, promete ligar todas as residências do município a uma rede coletora conectada até uma estação de tratamento. A instalação de todo o sistema – 180 quilômetros de rede coletora, 30 estações elevatórias e uma de tratamento – está orçada em R$ 77 milhões. O projeto está em fase de licenciamento ambiental.
Mazelas nos perseguem
Águas poluídas
O rio Taquari está entre os mais poluídos do estado. No último diagnóstico, feito em 2012, ele foi enquadrado na pior categoria. Hoje, a situação é ainda pior. A falta de tratamento de esgoto das casas e os dejetos gerados pela agricultura e pecuária são os principais fatores apontados por especialista para a situação do rio. O problema envolve não só o Vale, pois a bacia hidrográfica a qual pertence o Taquari tem início na Serra e passa por cerca de 120 municípios ao todo.
Destinação de dejetos animais
Uma das principais atividades econômicas da região é também uma das maiores poluidoras dos mananciais hídricos. Os dejetos orgânicos gerados pelos animais, na maior parte das propriedades, não tem uma destinação adequada e poluem os rios e arroios que abastecem a região. Falta ao Vale achar o equilíbrio entre a atividade produtiva e a conservação do ambiente. A geração de energia a partir de dejetos orgânicos já é possível, porém, é preciso tornar a tecnologia acessível ao público. Uma dificuldade é a geração desta energia no inverno.
Elefantes brancos milionários
Em 2010, a Corsan, ao lado do governo municipal, anunciou a instalação de um projeto de saneamento básico arrojado para Lajeado, a construção da rede coletora para fazer funcionar a Estação de Tratamento finalizada em 2009, com investimento de R$ 4,4 milhões da companhia.
Passados quase dez anos, o espaço continua ocioso e sem perspectivas de operar melhor. Com capacidade para movimentar oito litros por segundo, a estação do bairro Moinhos trata apenas um litro por segundo de esgoto. Sucessivos erros técnicos comprometeram a eficiência da rede coletora. Em 2012, a mesma Corsan anunciou a construção de uma nova estação de tratamento no bairro Alto do Parque, que custaria R$ 5 milhões. Até hoje, nada saiu do papel e a cidade continua órfão de um sistema eficiente de tratamento de esgoto.
Em Encantado, situação semelhante. Orçada em R$ 2,5 milhões, a ETE no bairro Santo Agostinho deveria estar pronta desde novembro de 2010. A obra começou em julho de 2009. Depois de erros no projeto, ficou estagnada. Foi preciso a readaptação de valores e a licitação de outra empresa para continuar. Mesmo assim, os impasses persistiram. Em fevereiro de 2012, o Ministério das Cidades cobrou explicações sobre parte dos financiamentos feitos com a Caixa, exigindo o término em até um ano e meio. A obra está parada e sem perspectiva de retomada.
MATHEUS CHAPARINI – matheus@jornalahora.inf.br