Encontro reconta a história para novas gerações

Lajeado

Encontro reconta a história para novas gerações

Crianças e adolescentes conhecem detalhes da imigração e a importância do Rio Taquari para o desenvolvimento regional

Encontro reconta a história para novas gerações

“Os produtos que vinham da capital e também as riquezas da região dependiam do Rio Taquari. Tanto para puxar as cargas das margens, quanto para levar aos barcos, era preciso a maxambomba.”
 
O equipamento usava tração animal para transportar as cargas da barranca acima ou abaixo. Uma réplica foi apresentada para alunos do 4º e 5º ano da Escola Municipal Campestre. A explicação de como funcionava partiu do historiador e integrante da Academia Literária do Vale do Taquari (Alivat), Wolfgang Hans Collischon. “Foram vários dias pensando em como poderia mostrar como era antes”, diz.
 
O encontro na manhã de ontem ocorreu no Parque Histórico e faz parte do projeto Circuito Cultural. “É uma aula diferente. Na aula, estamos trabalhando a formação do município. Esse momento fortalece esse aprendizado”, acredita a professora Zoila Maciel.
 
Sair da escola e ter uma manhã de aprendizado em outro local também é uma experiência marcante, realça a professora. “Eles adoram. Sempre que temos alguma saída é diferente.” Além da conversa com o historiador, os estudantes também conheceram as peculiaridades do parque, visitaram a Casa de Cultura e acompanharam um momento para contação de histórias.
 
As visitas ao parque histórico começaram em fevereiro. O projeto contempla 20 escolas. São 18 da rede municipal e duas da estadual. “O retorno tem sido muito positivo. As direções nos contatam e elogiam as visitas”, conta uma das fundadoras do Centro de Cultura Alemã, Vânia Purper Worn.
 
“É uma oportunidade para mostrar como era a vida antes. Tudo era mais difícil. Bem diferente da realidade de hoje.” O Centro de Cultura Alemã teve o projeto de resgate histórico aprovado pelo chamamento público do programa Circuito Cultural. Essa etapa será encerrada na próxima semana.
 

Circuito Cultural

Três instituições foram selecionadas para o programa. Cada uma em uma área de atuação. A Orquestra de Concertos de Lajeado (Oclaje) promove o Arte por toda a Parte, com apresentações musicais pelos bairros.
Já o piquete Morro Santo faz oficinas de dança gauchesca e da cultura gaúcha nas escolas. Por fim, o Centro de Cultura Alemã leva os alunos ao Parque Histórico para momentos de resgate sobre a formação da cidade e da região.
 
“Quando começamos a elaborar o projeto, lá em 2017, tínhamos em mente a necessidade de um melhor aproveitamento do parque. Conseguimos unir o útil ao agradável”, realça o secretário de Cultura, Esporte e Lazer, Carlos Reckziegel.
 
O investimento no projeto passou dos R$ 140 mil. Deste total, R$ 100 mil provêem do Fundo de Apoio à Cultura e o restante é a contrapartida do município.
 

“A gurizada gosta dessas geringonças”

Collinshon contou como era a relação das cidades com o Rio Taquari

Integrante da Alivat, historiador, professor e ex-bancário, Wolfgang Hans Collischon, é um dos palestrantes do Circuito Cultural. Para facilitar o aprendizado dos alunos, construiu uma maxambomba, equipamento usado no passado para transportar e retirar as caixas das embarcações.

 
A Hora – Como é dividir um pouco dessa história com um público tão jovem?
Wolfgang Collinshorn – Aí que está. Quando aceitei, pedi para saber qual o público, para não ser surpreendido. É muito diferente. Para adolescentes é mais difícil. Para a faixa etária até o 5º ano, é muito gratificante. Eles participam, tem curiosidade. Querem vir bem perto conhecer a maxambomba. A gurizada gosta dessas geringonças.
 
Para os adolescentes, sinto que, por vezes, eles perdem uma etapa importante da vida. Acham que toda a sabedoria está no celular. Não estão acostumados a lerem textos mais extensos, a estabelecer relações, interpretar e debater pensamentos. Isso é preocupante. Sempre digo, aqueles que se interessam, os curiosos e atentos, serão os nossos líderes no futuro.
 
 
Quanto tempo para fazer a réplica da maxambomba?
Collinshorn – [risadas]. Vários dias. Sempre acrescentava alguma coisa. Primeiro elaborei na minha mente como faria. Fui tendo ideias aos poucos. Não é em um dia que faz do fio ao pavil. Tive de encontrar os materiais, buscar carretel para ser os cabos. Depois o que fazer de vagão. Peguei uns carrinhos para ilustrar o funcionamento dos vagões.
 
 
Onde era a maxambomba de Lajeado?
Collinshorn – Tinham três. Todas ficavam na rua Osvaldo Aranha, na chamada praia, antes da foz do Saraquá. Naquelas imediações ficavam as companhias de navegação. A mais famosa foi a Arnt.
 
 
Por quanto tempo o equipamento foi usado?
Collinshorn – A navegação funcionou até meados de 1950. Trabalhei em uma firma que comprava coisas de Porto Alegre e tudo vinha no barco. Barranco acima os itens vinham pela maxambomba. Até nas minhas pesquisas foi difícil conseguir registros. Naqueles anos poucos tinham câmeras fotográficas.
 
A barragem de Bom Retiro do Sul modificou a orla do Rio Taquari. Faz anos que o transporte hidroviário não ocorre na região. Como avalia essa situação, depois de tantos anos, o rio não fazer mais parte do cotidiano das cidades?
Collinshorn – É uma pena. Viajei pela Europa algumas vezes e lá, em qualquer arroio, há navegação. Eles escavam o canal e deixam preparado para os barcos. Quando vê, estamos em uma área rural e aparece um baita navio. São vias que não precisam de recapeamento. É um transporte mais barato.
No regime militar, houve uma tentativa de reavivar a navegação junto com as ferrovias. No regime militar, o presidente Geisel sonhava em reavivar a navegação. Uma pena que não deu certo. Em um país como o nosso, com tantos rios, não usar a hidrovia é um desperdício.
 

FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br

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