“É raro o fim de semana que não falta água”

torneira seca

“É raro o fim de semana que não falta água”

Dois anos após acordo firmado entre Corsan, município e Ministério Público, moradores da Linha Santa Rita seguem convivendo com problemas de abastecimento frequentes

“É raro o fim de semana que não falta água”

Chegar em casa ao fim de um dia de trabalho, ligar o chuveiro e tomar um banho. Acordar em um dia de folga, abrir a torneira, encher a chaleira e preparar um mate. Pequenos prazeres que, para a maior parte da população de Estrela, são banais. Mas, para 24 moradores da Linha Santa Rita, o abastecimento regular de água ainda é uma reivindicação.
 
Na madrugada do último sábado, as torneiras secaram. Quando João Dornelles acordou, às cinco horas, já não havia água. O abastecimento só foi retomado no início da tarde dessa segunda-feira, cerca de 60h depois.
 
Ele e a esposa Venilde se mudaram para o local faz cerca de três meses. Neste período, viram a situação se repetir diversas vezes. “É raro o fim de semana que não falta água. A gente vai para a casa dos parentes, dos filhos, toma banho fora.”
 
O transtorno se agrava quando o casal recebe visita de longe, o que acontece com frequência. “Daí a gente tem que convidar as visitas para ir para a casa de outra pessoa”, afirma Venilde. Ela conta que as roupas do casal são lavadas na casa de uma filha. No fim de semana, levou as roupas para lavar e trouxe uma garrafa pet com dois litros de água potável, por não saber quando a torneira voltaria a pingar.
 
Logo que se mudou, João procurou a Corsan reclamar da interrupção no abastecimento. Conta que foi bem tratado e que ainda naquele dia o caminhão pipa apareceu. Na mesma semana, ficou sem água de novo. “O ideal era que não faltasse água, né?”, diz Dornelles.
 
Na comunidade, vivem cerca de 10 famílias, incluindo crianças e idosos. A situação torna difíceis atividades básicas do cotidiano e já fez com uma família se mudasse do local, em função. Além das pessoas, a água é necessária também para tratar os animais.

Roupa é lavada na casa da filha, de onde Venilde traz água em garrafas

Roupa é lavada na casa da filha, de onde Venilde traz água em garrafas

Uma caixa d’água, 24 banhos

Em 2017, o tema foi alvo de negociação entre município e Corsan, com mediação do MP. Uma audiência pública foi realizada na Assembleia Legislativa. Na ocasião, o representante da companhia informou que era necessária autorização do DNIT para ampliar a rede até o local.
Foi instalada uma caixa d’água de 20 mil litros, para funcionar de forma provisória, feitas as redes de distribuição até as casas e colocados os medidores.
 
Dois anos depois, a situação permanece igual. Quando falta água, os moradores ligam para a companhia, que manda um caminhão pipa. O veículo, de uma empresa terceirizada, sai de Estância Velha e percorre cerca de 90 km para abastecer a pequena comunidade.
 
O reservatório dura cerca de 4 dias, de acordo com os moradores. Uma pedra, pendurada pelo lado de fora, serve como medidor. Conforme o nível baixa, a pedra sobe.
 
Na véspera do último natal, os moradores ficaram desabastecidos. Ao ligarem para a companhia, foram informados de que não haveria como resolver o problema. Afinal, se tratava de um feriado.
 

07_AHORAPoço de água barrenta quebra o galho

O problema é antigo. Os moradores contam que até cerca de dois anos atrás não havia água potável na localidade, que fica junto à BR-386. Um poço de água barrenta era a única fonte. “Não dá para tomar e nem lavar roupa branca. É só para quebrar um galho”, afirma a moradora Nita Marques. Imprópria para consumo, a água é improvisada em algumas tarefas domésticas.
 
Nita já sabe: quando a água fica fraca é hora de encher algumas garrafas para as necessidades básicas. Os quatro filhos, que não moram no mesmo local, ajudam levando de casa garrafas cheias.
 

MATHEUS CHAPARINI – matheus@jornalahora.inf.br

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