Ezequiel Perin, 26, vem de uma família marcada por milagres. A mãe venceu um cisto em uma gestação tardia, e o pai, um câncer que apodrecia o rosto. Diácono, o jovem se prepara para ser padre
Como foi a sua criação?
Sou de Canudos do Vale, e minha família sempre foi ligada à comunidade; minha avó incentivava a ser padre. Sou o terceiro filho, nasci de uma gestação de risco. Minha mãe tinha 41 anos. Ao mesmo tempo, ela teve um cisto no útero, que crescia mais do que eu. O médico disse que eu poderia nascer com deficiências. Foi um milagre minha ela ter se recuperado. Aos 15 anos, quis ser padre, mas meus pais não queriam, pois sou o único homem entre os filhos. Fui para o seminário com 18.
Como foi esse período?
Eu tinha uma vida de jovem normal. Ia na boate, tinha grupo de amigos. Namorei por três meses, mas aquilo não me preenchia como pessoa. Terminando o ensino médio, aquele desejo voltou muito forte. Meu pai teve câncer no pescoço. Ele perdeu a fala, parte do rosto apodreceu e caíam pedaços. Mas se recuperou. Quando eu estava no quarto ano no seminário, o câncer voltou: no cérebro, no pulmão e estômago. O médico disse que não tinha muito o que fazer, que talvez com uma cirurgia ele vivesse um pouco mais. E aí, mais um milagre. Depois da cirurgia, o médico disse os cânceres estavam calcificados. Até hoje estão assim.
Vinte e seis é uma idade em que muitos pensam em formar família. Já o padre parece ter um destino solitário…
Devemos olhar para a cruz do nosso Senhor. Quando Jesus estava morrendo, poucas pessoas estavam com ele. Durante a vida de padre, a gente vive como um outro Cristo. Então, vou imitá-lo também no meu fim. Temos acompanhamento da diocese no final de nossas vidas, então não tenho medo disso. Minhas irmãs e sobrinhos também são um porto seguro. Não constituímos uma família, mas temos uma, que é o povo de Deus.
O que faz nas horas vagas? Tem Netflix?
Gosto de caminhar, correr, ler, de momentos de confraternização. O lazer do padre é o que todos têm. Mas é preciso ter certas reservas; o padre deve se comportar como um homem casado, fiel à igreja. Temos Netflix na Casa Paroquial, e de vez em quando a gente vê o documentário sobre o Papa.
Já assistiu a série Lúcifer?
Esses dias, um outro padre estava assistindo, mas eu não assisti (risos). Mas gosto de ir ao cinema. Quando eu estava em Porto Alegre, a gente reservava uma vez da semana para ir. Vi o filme d’A Freira (de terror sobrenatural), e foi muito bom.
GESIELE LORDES – gesiele@jornalahora.inf.br