Um surfista  no Congresso

Opinião

Ardêmio Heineck

Ardêmio Heineck

Empresário e consultor

Assuntos e temas do cotidiano

Um surfista no Congresso

Na nossa história recente os governantes federais puderam implantar suas plataformas eleitorais dentro de uma certa tranquilidade institucional e sem pressões continuadas, deixando suas marcas. Getúlio, as reformas trabalhistas; Juscelino, a interiorização do país a partir da construção de Brasília; os governos militares, a estruturação das comunicações, energia e logística, dotando o país de competitividade. Segue Sarney, protagonista da “década perdida dos anos 80”. Itamar Franco, construtor das condições para vencermos a inflação e criador de Fernando Henrique. Este, presidente por dois mandatos, implementou seus princípios norteadores privatizantes. Assume Lula, também por oito anos e faz a sucessora Dilma, por seis anos. Dá-se-lhes 14 anos para a implementação das concepções ditas de esquerda, com um Estado mais centralizador.
Vê-se, nesta curta resenha, uma saudável diversidade ideológica na forma de fazer as coisas, todos querendo o melhor para o Brasil, com tranquilidade institucional para governarem. Sem o fogo cruzado constante visto mais recentemente, já com Temer e agora, mais ainda, pra cima de Bolsonaro, inclusive de setores da grande imprensa, movidos por ideologias ou interesses bem próprios, o que em nada ajuda nossa nação.
A linha em comum daqueles governos é a instabilidade econômica. O último ciclo positivo foi nos anos 2000, até que sobreveio a grande crise mundial de 2008 e 2009. A partir dela afloraram nossas mazelas estruturais, aprofundadas por falta de atitudes. Neste campo, há modernizações de que não podemos abrir mão. A mais urgente, a da Previdência. Mexe no caixa do governo federal, na redução do déficit e na disponibilidade dos recursos necessários às obras estruturais imprescindíveis.
Temer achou que conseguiria aprová-la. Não conseguiu. Bolsonaro se elege tendo-a como prioritária, intencionando aprová-la com a urgência necessária. Hoje, passados cinco meses de governo, mal consegue respirar com a artilharia contrária, sem a trégua que seus antecessores tiveram, ao menos no início. Só porque disse que acabará o “toma lá, dá cá”! Volta-se esperançoso para o apoio que viria da Câmara dos Deputados. Porém, onde está ela? Ora, onde sempre esteve, agindo como sempre agiu: corporativamente, um governo paralelo que mantém o Executivo refém. Um “balcão de negócios”.
Detendo-nos à sua postura recente (períodos Temer/Bolsonaro), chama a atenção a do seu presidente, deputado Rodrigo Maia, no cargo desde 2016, quando da cassação de Eduardo Cunha. Na atual Legislatura, em que as reformas estruturais precisam de urgência, ofereceu sua experiência e apresentou-se como a grande opção, o algodão entre os cristais, conseguindo novamente ser reeleito.
Só que, tal qual com Temer, não são estas qualidades que afloram. Suas atitudes balançam de acordo com as ondas da popularidade, sabendo, como poucos até agora, surfar, no momento certo, aquela que o coloca nos holofotes, como pretenso salvador da pátria. Esperava-se que liderasse os deputados federais para fazerem aquilo para o que foram eleitos: ajudar a colocar o Brasil numa ascendente de progresso e bem-estar social, sem a visão corporativa da defesa dos interesses de determinados grupos. Ao mesmo tempo, dar espaço para aquele grupo minoritário de deputados que querem fazer as coisas acontecerem.
Além da Previdência, não deixar engavetadas, por quatro meses, Medidas Provisórias de modernização administrativa, aprovando-as, agora, açodadamente. Ou, amorcegando o “Pacote Anticrime” do Ministro Moro, protegendo interesses próprios.
Do contrário, 200 milhões de anônimos idiotas continuarão a tentar, todos os dias, mudar este país para melhor, sem sucesso.

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