Natural de Santa Clara do Sul, Loreno Francisco Ferreira, 60, é sapateiro faz cerca de 35 anos e um dos últimos remanescentes da arte de consertar calçados em Lajeado. Ao lembrar das dificuldades durante a infância, orgulha-se da trajetória de trabalho árduo para alcançar melhores condições de vida. No mesmo ponto no Centro por mais de duas décadas, tornou-se uma figura popular na região
Por que é tão raro hoje encontrar sapateiros?
Quando eu comecei em Lajeado, lembro que nós éramos 16 sapateiros. Mas esse pessoal foi morrendo, e a atividade foi morrendo junto. Acho que hoje nós não somos mais do que meia dúzia. Isso aconteceu porque o calçado da China entrou muito no nosso mercado. São produtos de qualidade inferior, com preço baixo. As pessoas compram, usam e jogam fora.
E é possível se manter com esta atividade?
É preciso fazer de tudo um pouco. Tem coisas que aparecem aqui que eu nem sei como fazer. Aí vou pra casa, fico pensando, estudando soluções, até chegar a uma maneira de conseguir resolver o problema. Essas coisas diferentes, não só o sapato, geram um retorno maior. São bolsas, bainhas de facas, mochilas e vários outros itens. Eu desenho a ideia e depois faço. Se não ficar bom, depois a gente ajusta. O sapateiro hoje em dia tem que ser um artesão versátil.
Como você aprendeu as técnicas?
Isso está um pouco no sangue. A família do meu pai trabalhava com couro, faziam o próprio couro e eram artesãos. Com a necessidade de fazer dinheiro, tinha que fazer alguma coisa. Então havia um velho sapateiro de mão cheia no São Cristóvão, falecido há muitos anos já. Ele estava mal, com problemas com a bebida, tinha brigado com a mulher. Ofereci a ele casa, comida, roupa lavada e uns trocos pra ele me ensinar as técnicas.
Você aprendeu a falar alemão nas relações com os clientes?
Um pouco sim. Meu pai, João, sabia falar muito bem. Como nós viemos de Santa Clara, uma região tipicamente de alemães, nós aprendemos a falar. Quando fomos morar em Conventos também, o pessoal de lá não falava nada em português. Como eu era pequeno, aprendi com facilidade. Lembro de uma vez que nos contaram que havia outra “família de morenos”, em certa localidade no bairro. Pensamos que enfim íamos conseguir falar em português com alguém, mas chegamos lá e o pessoal não sabia nada também. Nos sentimos uns ETs, ninguém nos entendia em português (risos).
ALEXANDRE MIORIM – alexandre@jornalahora.inf.br