A principal competição do futebol nacional inicia neste sábado. Leandro Pedro Vuaden já apitou 191 jogos. Mas os deste ano serão diferentes. A seguir, fala sobre a expectativa para o campeonato com a implementação do VAR.
A Hora – Como é apitar o Campeonato Brasileiro aos 43 anos?
Leandro Vuaden – O sentimento é de alegria. Aos 43 anos, ainda consigo atuar em bom nível. Os problemas da idade também chegam ao árbitro, mas temos uma vida útil maior que a dos jogadores. Até por isso ainda não penso em me aposentar, mas tenho a consciência de que irei parar alguma hora.
O que difere o Brasileirão de outras competições?
Vuaden – Não existe nenhuma peculiaridade. Tem a diferença de que no estadual a gente reside e trabalha perto das partidas. O Brasileirão tem 38 rodadas, são desafios muito grandes, em que pesa a questão da logística. Agora com a função do VAR há mais exigências de material humano, pois um árbitro além de atuar no campo pode ser escolhido para ser o assistente de vídeo.
O que representa a implementação do VAR?
Vuaden – Eu acho uma grande vitória, não só à arbitragem mas também para o futebol. A justiça vai estar mais presente. Muitas vezes o árbitro erra, mas não porque quer errar, e sim porque não conseguiu visualizar o lance por alguma deficiência dentro do campo. Esse erro pode causar prejuízos. Com a chegada do VAR, com certeza o senso de justiça vai prevalecer. É preciso levar em conta que essa é uma ferramenta nova, que estamos fazendo os cursos para nos habilitar e adequar à essa nova tecnologia. O assistente de vídeo é uma garantia e um direito que hoje está sendo oferecido.
Porque o VAR ainda não é unanimidade?
Vuaden – Muitas vezes procura-se algum erro para tentar denegrir ou criar notícia. Não consigo acreditar que para algumas pessoas a justiça está abaixo do tempo. A justiça no campo de futebol deve estar acima de qualquer demora ou falta de habilidade neste início de uso do VAR. Mas tenho a certeza de que todas as pessoas que realmente gostam de futebol avaliam o VAR como um meio justo e seguro. A gente sabe que nossa cultura futebolística possui particularidades, me parece que o torcedor algumas vezes prefere que a vitória venha por meio de alguma malandragem do time, ou até por um erro do juiz. Eu por outro lado, quero e procuro atuar sempre com a razão, valorizo a justiça. Temos que criar a filosofia de que a justiça deve prevalecer no futebol.
O que deveria ser mais esclarecido no uso desta tecnologia?
Vuaden – O que poderia ser feito é que quando o VAR estiver checando algum lance e o jogo paralisado, que o torcedor presente no estádio ou assistindo na televisão poderia ter acesso ao que está acontecendo na cabine do árbitro de vídeo. Hoje o torcedor não tem essa oportunidade. As pessoas veriam que existe todo um processo, que temos que buscar todos os ângulos e câmeras. Que isso demanda tempo.
Volta e meia apita partidas pelo Vale do Taquari. Como você é recebido por aqui?
Vuaden – Eu tenho uma enorme gratidão pelo futebol amador pois ele foi uma excelente escola para mim. Sempre que recebo um convite e tenho a disponibilidade, faço questão de apitar no Vale do Taquari. Muitas vezes as pessoas acabam fazendo brincadeiras, principalmente em relação ao clássico Gre-Nal, mas felizmente de forma respeitosa. Para mim é uma felicidade saber que vim do futebol amador e hoje sou um árbitro com 13 grenais no currículo.
Como você lida com os xingamentos?
Vuaden – Isso fica no campo de futebol. Emoção e razão são coisas que não batem. O torcedor é paixão e o árbitro tenta lidar com a razão. Me parece que o árbitro é tido como um inimigo do torcedor. Eu particularmente não tenho problema com isso, jamais discuti ou bati boca com alguém por causa destes xingamentos. Muitas vezes quando sou interpelado por alguma situação em que tomei a decisão errada, eu faço o convite para que essa pessoa tente apitar um jogo e veja o tamanho da dificuldade. É muito cômodo e confortável questionar e xingar, tentar atingir a honra do árbitro por causa de alguma decisão equivocada.
O que espera deste Brasileiro?
Vuaden – Eu sempre espero o melhor. Que seja um campeonato emocionante. Que nosso nível possa subir. Que nós da arbitragem possamos fazer um bom campeonato também. Temos o Leonardo Gaciba como novo comandante da arbitragem, uma figura que dentro de campo foi um árbitro acima da média. A expectativa e a responsabilidade são muito grandes, assim como a alegria de trabalhar numa competição tão rica.
CAETANO PRETTO – caetano@jornalahora.inf.br