Por que não funciona?

Opinião

Ney Arruda Filho

Ney Arruda Filho

Advogado

Coluna com foco na essência humana, tratando de temas desafiadores, aliada à visão jurídica

Por que não funciona?

Sou um motorista frequente. Todos os dias vou de casa para o trabalho e de lá para outros compromissos, quase sempre de carro. Sou um pedestre eventual. São poucos os dias nos quais me desloco pela cidade a pé e tenho um rosário de justificativas para isso. Tenho pouco tempo pra fazer tudo ou as distâncias não permitem ou não tem transporte público ou está quente demais ou está frio ou está chovendo. Sou um ciclista eventual. Por mais admiração e inveja (isso mesmo, inveja!) que eu tenha dos europeus, com suas ciclovias e seus estacionamentos caríssimos para os carros, ainda não me animei a seguir o exemplo do Ildo Salvi.
 
E como lajeadense, percebo que a cidade está em busca de soluções para problemas estruturais. Lajeado tem pensado na educação e na cultura, está reescrevendo seu Plano Diretor, está buscando se transformar com o Pro_Move, pretende se tornar cidade irmã da alemã Erlangen, fecha o cerco contra a criminalidade e a violência ao aderir ao programa Pacto pela Paz. Mas como motorista e como pedestre, percebo um fenômeno inquietante na nossa Lajeado, no nosso trânsito. Não é nada comparável à violência urbana e ao desemprego, mas é um problema bem mais fácil de resolver.
 
Por que as faixas de pedestre só funcionam na rua Júlio de Castilhos?
 
Outras tantas ruas e avenidas de movimento intenso, com aquelas agradáveis e bem visíveis faixas intercaladas pintadas de branco, testemunham o trafegar de carros em velocidade muito superior à permitida, ameaçando pedestres e desconsiderando, incólumes, a regra do artigo 214 do Código de Trânsito Brasileiro: deixar de dar preferência de passagem a pedestre que se encontre na faixa a ele destinada. A lei destaca a infração como gravíssima e inclui em sua previsão a necessária atenção a pessoas com deficiência, crianças, idosos e gestantes.
 
Só para dar um exemplo dos mais gritantes: o cruzamento da rua Benjamin Constant com a rua Alberto Torres. Temos ali, a menos de uma quadra, o maior hospital da região, temos o tabelionato e vários prédios comerciais onde estão instalados consultórios médicos e de outras áreas da saúde. São todos locais de intensa frequência de pessoas que buscam por serviços essenciais. Muitas dessas pessoas têm alguma dificuldade, como idosos, gestantes e pessoas com crianças de colo. E os carros, ônibus e caminhões descem rasgando o asfalto, em velocidade muito superior ao máximo permitido.
 
Imaginem se um “irmão” da alemã Erlangen vier nos visitar? E se ele for atravessar a Benjamin, naquele cruzamento, para visitar o Juca Richter, ou outra rua que não a Júlio, na faixa de pedestres? O desfecho, por certo trágico, será condensado em uma manchete de jornal, talvez nalguma chamada no Fantástico e o projeto de cidade irmã terá ido pelo ralo.
 
Para sermos irmãos de Erlangen, teremos de buscar pelo menos um mínimo de aproximação comportamental: não será suficiente apenas a aproximação tecnológica. Para que as faixas de pedestres se prestem à função para a qual foram concebidas, alguma fiscalização deve haver. Pelo menos até que nos habituemos a compreender a razão de ser daquelas faixas intercaladas pintadas de branco. Talvez seja mesmo este o motivo, a tal falta de compreensão, que responda à pergunta do título.

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